Valéria D' Ogum Xoroquê 
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Umbanda, Candomblés Nagô, Congo & Muxicongo
Umbanda, Candomblés Nagô, Congo & Muxicongo

 

O QUE É UMBANDA ?

 
Embora muitos afirmem ser a Umbanda apenas uma seita derivada dos Cultos Afro-Brasileiros que deram origem aos Candomblés, na verdade, a verdadeira Umbanda, muito pouco tem a ver com ele. Nosso irmão, W.W. da Matta e Silva, por exemplo, fez extensa pesquisa visando trazer a público a origem da palavra em seu livro Umbanda de Todos Nós. Esse não é o propósito de nosso trabalho atual. Importante é frisarmos que UMBANDA foi o nome dado ao culto criado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, cujo médium era o Sr. Zélio de Moraes, em 16 de novembro de 1908, no bairro de Neves em Niterói. Destaque para o fato de que um caboclo, por ser considerado EGUN (alma de um ser que já viveu na terra ) não era entidade cultuada em nenhum candomblé. Posteriormente a coisa ficou meio confusa e criaram até os chamados Candomblés de Caboclos. Antes desta data, não há registro algum da palavra UMBANDA em qualquer seita Afro, como também ficou claro nas pesquisas feitas pelo retrocitado autor, na mesma obra e em outras. Se quisessem saber mesmo a origem da palavra, deveriam ter perguntado ao Caboclo, ao invés de ficarem especulando por aí.O que é importante sabermos ?
Importante é sabermos que :
a) Umbanda não é culto Afro - é BRASILEIRO!.
b) A Umbanda sofreu várias modificações, tanto em seus objetivos como em sua práticas e rituais quando se mesclou e absorveu dos cultos Afro, do Catolicismo e até de filosofias orientais, certos parâmetros e conceitos básicos, a ponto de hoje entrarmos em certos terreiros ditos como de Umbanda e vermos lá os já conhecidos sacrifícios de animais e coisas equivalentes.
c) Umbanda foi o nome com que o Caboclo das Sete Encruzilhadas batizou o movimento espirítico criado por ele com regras básicas de trabalho, cujo objetivo principal seria o da "manifestação de espíritos (EGUNS NO DIZER DOS CULTOS AFRO) para a caridade".
Originariamente foram traçados planos para que três tipos de entidades pudessem se manifestar através de seus "médiuns" nas reuniões Umbandistas. Foram elas :
1) Crianças - Espíritos que teriam vivido e desencarnado nesta condição (EGUNS portanto) e que através de brincadeiras pudessem realizar trabalhos que trouxessem alegria, que despertassem o lado criança de todo ser humano - o lado puro (lembra-se do "Deixai vir a mim as crianças...?").
2) Caboclos - Espíritos que teriam vivido ou não na condição de índios (portanto EGUNS) nos primórdios da civilização(?) imposta pelos portugueses. Essa caracterização coincide com a segunda fase do crescimento do ser humano encarnado, quando ele deixa a infância, atinge a adolescência e se torna um adulto. Nessa fase, o vigor, o destemor e até mesmo uma certa destemperança são comuns.
3) Pretos Velhos - Espíritos (EGUNS) que teriam vivido ou não na condição de escravos negros, também nos primórdios da tal "civilização" imposta. A caracterização revela a terceira fase da vida do ser humano na terra - a idade madura, que neste caso revelaria também um dos principais atributos
que o homem deveria estar lutando por alcançar : a sabedoria.
A sabedoria daqueles que muito viveram e por isto, muito têm a ensinar.
Observemos que no caso dos espíritos que se apresentam como crianças, não há alusão à raça ou cor (na verdade em se tratando de espíritos esta distinção realmente não existe), mas no caso de caboclos (índios) e pretos velhos (negros), as caracterizações envolvem distin-ção de raça. Por que isso ?
Na verdade, a Umbanda verdadeira nasceu entre os humildes, e os planos de seus organizadores, visava a homenagear essas duas raças ou grupos étnicos que foram e são até hoje tão discriminadas sofrendo tantas perseguições. Uma forma também de mostrar ao "civilizados brancos" que, fossem índios, pretos, amarelos, verdes ou de qualquer outro tipo, todos, indiscriminadamente, eram e são seres da criação, e portanto, após o desencarne, as classes sociais, as cores de pele e o possível poderio econômico deixam de existir, e as lições que o espírito tem de aprender estão muito mais relacionadas ao amor, ao desprendimento e à sabedoria.
O que um bom vidente poderá enxergar (se lhe for permitido), é que não raramente, sentado ali no toco, com ares de um humilde velhinho, não está apenas um ex-escravo, mas certamente um grande sábio (preto, branco, marrom etc.) exercitando uma característica que somente os iluminados alcançaram em sua plenitude : a humildade.
Mas aí você pensa: "Por que então toda essa palhaçada ?"
Preste atenção !
Quando o Comando Superior (nome que daremos temporariamente ao Conselho Espiritual que estabeleceu as normas da Umbanda) decidiu por essas caracterizações, visava :
a) Representar as três fases por que passa o ser encarnado durante sua estada na matéria.
b) Demonstrar que crianças não fazem distinção de cor, raça ou qualquer outra, superestimando umas e subestimando outras. São espíritos desprovidos de discriminações, por serem os mais puros, (ingênuos) ou mesmo porque esqueceram-se deste preconceito daninho por ocasião da reencarnação (Graças a Deus).
c) Mostrar àqueles (dentre os quais eu mesmo) que hoje se "vestem" com uma matéria de cor clara, que mesmo perseguidos, expulsos de sua terras e escravizados, índios e negros também são seres da criação e como tal devem ser respeitados porque todos, mesmo os menos civilizados (no entender dos brancos), têm muito para aprender e ensinar.
d) Mostrar que por ser a UMBANDA um movimento espiritual brasileiro, envolveu em suas caracterizações grupos étnicos que passaram por grandes sofrimentos aqui nessas terras.
e) Mostrar que o homem evolui verdadeiramente quando vivencia em todo o seu potencial, cada uma das três etapas de sua vida e chega à idade madura dono de seus pensamentos e atos, conseguindo alcançar a verdadeira sabedoria, o que envolve muito aprendizado e prática do autocontrole, pois na medida em que vai aprendendo o significado de sua existência, consegue olhar o mundo como expectador. E aí..!
f) Permitir a manifestação de entidades familiares e/ou até mesmo grandes personalidades (no caso de serem suficientemente humildes para se apresentarem na "roupagem fluídica" de um Caboclo ou Preto Velho) quando encarnados, sem que isso traga para os médiuns e possíveis assistentes alguma perturbação emotiva.
Na verdade, essas formas de se apresentarem algumas entidades na Linha de Umbanda, visam muito mais a proteger os encarnados das perturbações emotivas que seriam provocadas nas situações em que por exemplo o médium ou assistente descobre que uma entidade que está se apresentando em um determinado Terreiro é um parente próximo seu, ou mesmo a vaidade que brota na maioria dos médiuns quando a entidade incorporante se apresenta como alguém que teve na terra uma posição de destaque ou fama (um grande pintor ou músico, reis ou princesas, por exemplo).
Por parte da entidade que se manifesta, a obrigatoriedade da caracterização faz com que o espírito seja forçado a não revelar uma situação que viveu como encarnado, tenha ela sido boa ou ruim. Não importa o que ou quem foi. O que importa é a mensagem que traz, o trabalho que vem realizar em benefício de outrem e de sua própria evolução.
Em minhas peregrinações pelos mais diversos terreiros de Umbanda e até "Umbandomblé", tive a oportunidade de presenciar curas "milagrosas" efetuadas por caboclos, pretos velhos e exús (há inclusive alguns bons livros que descrevem vários tipos de trabalhos realizados nesse sentido) sem que nenhum deles tivesse se identificado como Dr. "esse" ou "aquele". Seguindo a linha da HUMILDADE exigida pela Umbanda, todos se apresentaram de acordo com as características que adotaram desde o início de seus trabalhos. Até porque, se esses espíritos se apresentassem como Dr. ‘esse" ou "aquele", estariam se referindo a condições que tinham quando encarnados (na melhor das hipóteses), o que fatalmente demonstraria o quanto ainda estão apegados ao mundo material e às distinções sociais que ele impõe.
Raciocine comigo : De que valem os títulos obtidos na terra após o desenlace ? Aliás, quais serão os reais valores de certos títulos auferidos a tantas e tantas pessoas que já passaram e que ainda estão por aqui ? Será que um Doutor será mais bem visto aos olhos de Deus do que aquele que não conseguiu sequer aprender a ler ? Haveria justiça Divina caso isso fosse verdade ? Ou será que essa distinção só é válida aqui no Plano Terra onde os valores estão proporcionalmente ligados à situação financeira e/ou social de cada um ?
Raciocinou ?
Vamos reforçar seu raciocínio !
Se títulos e posição social fossem valores espirituais levados em conta pelo Criador, o próprio Jesus, considerado até mesmo Deus por muitos, deveria ter nascido em berço de ouro ou ter almejado durante sua breve estada na matéria, pelo menos algum cargo político de realce, não acha? E foi isso que se deu? Foi isso o que ele pregou?
Neste ponto eu torno a lembrar que, se você ainda está arraigado a conceitos e preconceitos, medos etc, não é bom que leia este BLOG, pois vamos abordar assuntos realmente polêmicos à luz da lógica e não de ERÓS ou DOGMAS. Nossa idéia é realmente tentar explicar esses "segredos" velados à luz pela ignorância e medo. Se você não se sentiu à vontade quando leu nossa primeira abordagem ao mito Jesus Cristo, então não leia o que vem pela frente. Você não está preparado(a).

Umbanda é uma religião formada dentro da cultura religiosa brasileira que sincretiza vários elementos, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras. A palavra umbanda deriva dem'banda, que em quimbundo significa "sacerdote" ou "curandeiro".[1]

Os conceitos aqui relatados podem diferir em alguns tópicos por se tratar de uma visão generalista e enciclopédica. Por se tratar de um conjunto religioso com várias ramificações, as informações aqui expostas buscam informar aos leitores da forma mais abrangente possível e sem discriminação ou preconceitos, pois todas as "umbandas" têm suas razões de existir e de serem cultuadas.

História

As raízes da umbanda são difusas. Segundo os umbandistas, ela foi criada em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência do Caboclo das Sete Encruzilhadas.[2]

Antes disso, já havia, de fato, o trabalho de guias (pretos-velhos, caboclos, crianças), assim como religiões ou simples manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Entretanto, foi através de Zélio que organizou-se uma religião com rituais e contornos bem definidos à qual deu-se o nome de umbanda.

Nesta época, não havia liberdade religiosa. Todas as religiões que apontavam semelhanças com rituais afros eram perseguidas, os terreiros destruídos e os praticantes presos.

Em 1945José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de umbanda fundadas inicialmente pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, obteve junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da umbanda.

A partir dai, muitas tendas cujos rituais não seguiam o recomendado pelo fundador da religião, passaram a dizer-se umbandistas, de forma a fugir da perseguição policial. Foi aí que a religião começou a perder seus contornos bem definidos e a misturar-se com outros tipos de manifestações religiosas. De tal forma que hoje a umbanda genuína é praticada em pouquíssimas casas.

Hoje, existem diversas ramificações onde podemos encontrar influências que utilizam a palavra umbanda, como as indígenas (Umbanda de Caboclo), as africanas (Umbandomblé, Umbanda traçada) e diversas outras de cunho esotérico (Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciática). Existe também a "Umbanda popular", onde encontraremos um pouco de cada coisa ou um cadinho de cada ancestralidade, onde o sincretismo (associação de santos católicos aos orixás africanos) é muito comum.

Fundamentos

Os fundamentos da umbanda variam conforme a vertente que a pratique.

Existem alguns conceitos básicos que são encontrados na maioria das casas e assim podem, com certa ressalva e cuidado, ser generalizados para todas as formas de umbanda. São eles:

  • A existência de uma fonte criadora universal, um Deus supremo, chamado Olorum. Algumas das entidades, quando incorporadas, podem nomeá-lo de outra forma, como por exemplo Zambi para pretos-velho, Tupã para caboclos, entre outros, mas são todos o mesmo Deus;
  • A obediência aos ensinamentos básicos dos valores humanos, como: fraternidade, caridade e respeito ao próximo. Sendo a caridade uma máxima encontrada em todas as manifestações existentes;
  • O culto aos orixás como manifestações divinas (alguns umbandistas cultuam a chamada umbanda branca ,esta no entanto não cultua os orixás, sendo unicamente voltada ao culto se caboclos, pretos velhos e crianças), em que cada orixá controla e se confunde com um elemento da natureza do planeta ou da própria personalidade humana, em suas necessidades e construções de vida e sobrevivência;
  • A manifestação dos Guias para exercer o trabalho espiritual incorporado em seus médiuns ou "aparelhos";
  • O mediunismo como forma de contato entre o mundo físico e o espiritual, manifesta de diferentes formas;
  • Uma doutrina, uma regra, uma conduta moral e espiritual que é seguida em cada casa de forma variada e diferenciada, mas que existe para nortear os trabalhos de cada terreiro;
  • A crença na imortalidade da alma;
  • A crença na reencarnação e nas leis cármicas;

Um Deus único e superior

Deus, em sua benevolência e em sua força emana de si e através dos orixás e dos guias (espíritos desencarnados) seu amor, auxiliando os homens em sua caminhada para a elevação espiritual e intelectual.

Orixás

Os orixás são manifestações do Grande Deus Olorum. Orisha é uma palavra yoruba para designar um ser sobre-humano, ou um deus.[3]Todo o universo surge de Olorum através das radiações que são individualizadas e personificadas em orixás. Essas radiações são personificadas de formas diferentes nos diversos terreiros - depende da influência histórica que cada um sofreu. A radiação (vibração da água) pode ser relacionada apenas a Iemanjá, mas pode ser subdividida em Oxum: água doce, Nanã: pântano e Iemanjá: mares. Ocorre semelhante com Ossain e Oxóssi.

Muitos escritores da umbanda relacionam as Sete Linhas aos Orixás, outros preferem relacionar as Sete Linhas com as vibrações e não diretamente a orixás, já que eles são mais de sete.

Os orixás não são originários da umbanda, muito antes eles já eram reverenciados nas terras africanas por diversas tribos. Muitos deles não se tornaram conhecidos aqui no Brasil, e até mesmo nas tribos africanas cada uma possuía seu orixás e desconhecia outros que eram cultuados em tribos diferentes.

Quando começou o tráfico de escravos, muitos negros de tribos diferentes foram vendidos juntamente, desta maneira os diversas orixás de tribos distantes se encontraram em terras brasileiras e formaram o grande panteão do Candomblé. Notadamente a nação que mais influenciou foi a Iorubá.

Nesta visão ainda própria dos ritos tribais, o orixá era um ancestral que todos tinham em comum. Geralmente era considerado como o próprio fundador da tribo e deixava grande influência por suas características incomuns de liderança, poderes espirituais e grande habilidade de caça. A tribo tinha no orixá um símbolo da união, pois todos eram filhos diretamente desse grande ancestral; com isso surge o termo Orixá histórico - realmente um rei, rainha, feiticeiro, guerreiro que existiu.

No nascimento do Candomblé, os homens passaram a ser filhos espirituais dos orixás, pois a relação de ancestralidade que existia na tribo não se confirmava mais na nova realidade da América. A partir da umbanda se configura a uma nova visão: o Orixá Cósmico. O orixá, pela cosmogonia umbandista, nunca viveu na terra, ele é muito mais que o espírito desencarnado de um homem; Toda criação é o resultado do trabalho harmônico dos orixás, espíritos elevadíssimos, verdadeiros arquitetos e mantenedores da criação. [4]

Sincretismo

A umbanda é uma junção de elementos africanos (orixás e culto aos antepassados), indígenas (culto aos antepassados e elementos da natureza), Catolicismo (o europeu, que trouxe o cristianismo e seus santos que foram sincretizados pelos Negros Africanos), Espiritismo(fundamentos espíritas, reencarnação, lei do carma, progresso espiritual etc).

A umbanda prega a existência pacífica e o respeito ao ser humano, à natureza e a Deus. Respeitando todas as manifestações de fé, independentes da religião. Em decorrência de suas raízes, a umbanda tem um caráter eminentemente pluralista, compreende a diversidade e valoriza as diferenças. Não há dogmas ou liturgia universalmente adotadas entre os praticantes, o que permite uma ampla liberdade de manifestação da crença e diversas formas válidas de culto.

A máxima dentro da umbanda é "Dê de graça, o que de graça recebestes: com amor, humildade, caridade e fé".

Mantém-se na umbanda o sincretismo religioso com o catolicismo e os seus santos, assim como no antigo Candomblé dos escravos, por uma questão de tradição, pois antigamente fazia-se necessário como uma forma de tornar aceito o culto afro-brasileiro sem que fosse visto como algo estranho e desconhecido, e, portanto, perseguido e combatido.

Há discordância sobre as cores votivas de cada orixá conforme o local do Brasil e a tradição seguida por seus seguidores. Da mesma forma quanto ao Santo sincretizado a cada orixá.

Alguns exemplos:

[editar]O culto umbandista

A umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, que é o local onde os Umbandistas se encontram para realização do culto aos orixás e dos seus guias, que na umbanda se denominam giras.

O chefe do culto no Centro é o Sacerdote ou Sacerdotisa (pode ser Babá, Zelador, Dirigiente, Diretor(a) de culto, Mestre(a), sempre dependendo da forma escolhida por cada casa). São os médiuns mais experientes e com maior conhecimento, normalmente fundadores do terreiro. São quem coordenam as sessões/giras e que irão incorporar o guia-chefe, que comandará a espiritualidade e a materialidade durante os trabalhos.

Vale lembrar que o termo pai-de-santo ou mãe-de-santo podem ser aplicados na umbanda.

Como uma religião espiritualista, a ligação entre os encarnados e os desencarnados se faz por meio dos médiuns.

Na umbanda existem várias classes de médiuns, de acordo com o tipo de mediunidade.

Normalmente há os médiuns de incorporação, que irão "emprestar" seus corpos para os guias e para os orixás.

Há também os atabaqueiros, que transmitem a vibração da espiritualidade superior por via dos atabaques, criando um campo energético favorável à atração de determinados espíritos, sendo muitas vezes responsáveis pela harmonia da gira.

Há os Corimbas, que são os que comandam os cânticos e as cambonas que são encarregadas de atender as entidades, provisionando todo o material necessário para a realização dos trabalhos.

Embora caiba ao sacerdote ou à sacerdotisa responsável o comando vibratório do rito, grande importância é dada à cooperação, ao trabalho coletivo de toda a corrente mediúnica.

Segundo a umbanda, as entidades que são incorporadas pelos médiuns podem ser pretos-velhoscaboclosboiadeirosmineiroscrianças,marinheirosciganosbaianosorientaisxamãs e exus.

As sessões de Umbanda

O culto nos terreiros é dividido em sessões de desenvolvimento e de consulta, e essas, são subdivididas em giras.

Nas sessões de consulta, onde comumente podemos encontrar Pretos-Velhos, Caboclos, Ciganos… As pessoas conversam com as entidades a fim de obter ajuda e conselhos para suas vidas, curas, descarregos, e para resolver problemas espirituais diversos.

As ocorrências mais comuns nessas sessões são o "passe" e o[descarrego na umbanda|descarrego].

No passe, a entidade reorganiza o campo energético astral da pessoa, energizando-a e retirando toda a parte fluídica negativa que nela possa estar.

O descarrego é feito com o auxílio de um médium, o qual irá captar a energia negativa da pessoa e a transferir para os assentamentos ou fundamentos do terreiro que contém elementos dissipadores dessas energias. Também a entidade faz com que essa energia seja deslocada para o astral. Caso seja um obsessor, o espírito obsediador é retirado e encaminhado para tratamento ou para um lugar mais adequado no astral inferior caso ele não aceite a luz que lhe é dada. Nesses casos pode ser necessária a presença de um ou mais [Exu de umbanda|Exus] (um gênero de espírito desencarnado) para auxiliar a desobsessão.

Nos dias de consulta há o atendimento da assistência e nos dias de desenvolvimento há as giras médiunicas, que são fechadas à assistência, onde os sacerdotes educam e ensinam os mecanismos próprios da mediunidade.

Médiuns

Médium é toda pessoa que, segundo a Doutrina Espírita, tem a capacidade de se comunicar com entidades desencarnadas ou espíritos, seja pela mecânica da incorporação, pela vidência (ver), pela audiência (ouvir) ou pela psicografia (escrever movido pela influência de espíritos).

A umbanda crê que o médium tem o compromisso de servir como um instrumento de guias ou entidades espirituais superiores. Para tanto, deve se preparar através do estudo, desenvolvendo a sua mediunidade, sempre prezando a elevação moral e espiritual, a aprendizagem conceitual e prática da umbanda, respeitar os guias e orixás; ter assiduidade e compromisso com sua casa, ter caridade em seu coração, amor e fé em sua mente e espírito, e saber que a umbanda é uma prática que deve ser vivenciada no dia-a-dia, e não apenas no terreiro.

Uma das regras básicas da umbanda é que a mediunidade não deve ser vista ou vivenciada vaidosamente como um dom ou poder maior concedido ao médium, mas sim como um compromisso e uma oportunidade que lhe foi dada para resgate kármico e expiação de faltas pregressas antes mesmo da pessoa reencarnar. Por isso não deve ser encarada como um fardo ou como uma forma de ganhar dinheiro, mas como uma oportunidade valiosa para praticar o bem e a caridade.

Existem médiuns que acabam distorcendo o verdadeiro papel que lhes foi dado e se envaidecem, agindo de forma leviana em suas vidas. O médium deve tangir sua vida como sendo um mensageiro de Deus, dos orixás e guias. Ter um comportamento moral e profissional dignos, ser honesto e íntegro em suas atitudes, pois do contrário acaba atraindo forças negativas, obsessores ou espíritos revoltados que vagam pelo mundo espiritual atrás de encarnados desequilibrados que estejam na mesma faixa vibracional que eles. Por isso, desenvolver a mediunidade é um processo que deve ser encarado de forma séria e regido através de um profundo estudo da religião, e seguido por conceitos morais e éticos. Ser orientado e iniciado por uma casa que pratica o bem é essencial.

As pessoas que são médiuns devem levar sempre a sério sua missão, ter muito amor e dar valor ao que fazem, tendo sempre boa-vontade nos trabalhos de seu terreiro e na vida diária.

O médium deve tomar, sempre que necessário, os banhos de descarrego adequados aos seus orixás e guias, estar pontualmente no terreiro com sua roupa sempre limpa, conversar sempre com o chefe espiritual do terreiro quando estiver com alguma dúvida, problema espiritual ou material.

Sobre o estudo da mediunidade e do médium, pode-se utilizar como fonte para estudos a relação que existe abaixo, no item "Literatura Umbandista".

Alguns terreiros utilizam-se das obras Espíritas (codificadas por Allan Kardec), mas a maioria segue as orientações da literatura umbandista que é prolífica nas discussões teóricas e nas orientações práticas. Há livros umbandistas a partir da década de 1930.

As Linhas da Umbanda Sagrada

LinhaSentidoOrixá PositivoOrixá NegativoSentimento
Cristalina Oxalá Oyá Religiosidade
Mineral Amor Oxum Oxumaré Concepção
Vegetal Raciocínio Oxossi Obá Conhecimento
Ígnea Razão Xangô Iansã Justiça
Eólica Equilíbrio Ogum Egunitá Lei
Telúrica Saber Obaluaiê Nanã Evolução
Aquática Geração Iemanjá Omulu Maternidade


Atente-se que este panteão é próprio à Umbanda direcionada por Rubens Saraceni, havendo inconsistências em relação a outras escolas. Por exemplo, ao passo que, tradicionalmente, Oyá, Iansã e Egunitá são um mesmo Orixá, o autor o dissocia em três divindades separadas.

Polêmicas dentro das "umbandas"

Sacrifício ritual de animais

Existem várias ramificações dentro da Religião de umbanda. Entretanto apenas algumas linhas de umbanda se usa o sacrifício de animais, como em Almas e Angola.

Esta prática está ligada a algumas linhas que ainda cultuam junto com a umbanda alguns rituais de religiões afro-brasileiras.

Uso de bebidas alcoólicas

Também encontramos terreiros dos seguintes tipos:

  • Os que as entidades incorporadas não usam bebidas (muitas vezes por questão do próprio médium não estar preparado para este tipo de trabalho com bebida) criando uma espécie de tabu;
  • Os que elas bebem durante os trabalhos (tanto os que fazem o uso correto deste elemento, como os que abusam);
  • Os que usam bebida em situações mais veladas (existindo um certo rigor quanto a sua utilização, buscando coibir abusos de médiuns ainda em preparação).

Toda essa controvérsia é gerada pelo uso que as pessoas fazem das bebidas alcoólicas na vida diária, muitas vezes caindo no vício do alcoolismo, trazendo consequências graves para sua vida material e espiritual.

Ocorre que médiuns predispostos ao vício podem, ao invés de atraírem espíritos de luz, afinizarem-se com espíritos de viciados que já morreram - esses espíritos serão obsessores dessa pessoa, uma vez que ela satisfaz seus desejos materialistas. Note-se que o álcool é um elemento usado na magia para trabalhos para o bem; abusos nunca são tolerados e exibicionismo não são sinais de incorporações de luz.

Existem casas que, por ordem do mentor espiritual, nunca usaram ou deixaram de utilizar o fumo, assim como a bebida alcoólica, sem que por isso, tivessem qualquer problema com as entidades que, por ventura, utilizavam esses elementos. Afinal, os espíritos podem se adaptar e mudar a forma de trabalhar de acordo com o fundamento de cada instituição.

É importante ressaltar, ainda, que quanto menos o espírito utilizar materiais terrenos melhor. Eles podem trabalhar com elementos bastanteetéreos e tão eficazes quanto os fluidos do próprio médium.

Paramentos

Na umbanda, os médiuns usam normalmente como paramentos apenas roupas brancas, podendo estar os pés descalços, representando a simplicidade e a humildade.

Mas há umbandas que também utilizam roupas com as cores de cada linha. Por exemplo, em giras de Ogum se utiliza camisas ou batas vermelhas e calças e saias brancas.

Nas giras de esquerda as roupas são pretas, sendo que as filhas de santo podem se vestir de vermelho e preto.

Pode ocorrer, por exemplo, que uma entidade de Preta-velha solicite uma saia ou um lenço para amarrar os cabelos; isso visa a proporcionar que o médium se pareça mais com a entidade que está incorporando.

Também há os apetrechos dos guias. Por exemplo, os Caboclos costumam utilizar cocares, alguns utilizam machadinhas de pedra, chocalhos, etc.

Uma outra visão sobre os paramentos e apetrechos materiais utilizados pelos médiuns é de que são usados pelos espíritos como condensadores de energia: um modo de concentrar a energia e depois enviá-la, se positiva, ou dissipá-la no elemento apropriado, quando negativa.


UMBANDA

 

Entender os termos da Umbanda

 

 

ABC DE UMBANDA

 

 

1-O que é um Orixá?

 

São divindades africanas directamente relacionadas às forças da natureza. Seriam as falanges específicas que trabalham especializadas em determinado meio, como mar, céus, plantas, etc.…

 Um Orixá é um regente de uma das forças do mundo material, sempre abaixo de Olórum, o Deus Supremo.

 Fala-se, também, que seriam antigos governantes africanos tornados deuses após a morte.

 Na África, há em torno de 600 Orixás. No Candomblé, 16. Na Umbanda, seis (mais Yorimá).

 

2. O que é Candomblé?

 

É uma religião de origem africana, com seus rituais e sacrifícios, que cultua Orixás, Voduns e Inkices, dependendo das diversas Nações de que se compõe, a saber: Ketu, Jeje, Mina-Jeje, Fon, Ijexá, Nagô-Vodun – estas de origem sudanesa – e Angola, Congo e Muxicongo – de origem bantu.

 

3. O que é Nação?

 

É uma das diversas nações africanas que vieram ao Brasil no tempo da escravidão. Há a Sudanesa (Nagô, Jeje, Jeje-Nagô, Mina-Jeje, Muçurumin) e a Bantu (Angola, Congo, Angola-Congo). Pode designar, no Rio Grande do Sul, o Candomblé local, conhecido também como Batuque.

 

 4. O que é Umbanda?

 

Surgiu em 1908, no Brasil. Grosso modo, seria a mistura do culto angola-congo (misturado com o nagô), noções de Espiritismo, esoterismo, pajelança e até mesmo budismo. Umbanda quer dizer “Arte de Curar” ou “Magia”.

 

 5. O que é Quimbanda?

 

São assim chamados, pelos umbandistas, todas aquelas casas (terreiros, centros), trabalhadores ou falanges que trabalham com a magia negra, ou seja, “fazendo o mal”. A Quimbanda possui sete falanges (linhas) diferentes das da Umbanda, que trabalham muito com os Exus e Omolu.

 

 6. O que é um Orixá de Cabeça?

 

O mesmo que Orixá de Frente. No Brasil, costuma-se dar uma pessoa a dois Orixás, normalmente formando casais, sem ser, com isso, regra. Em certos cultos, adoptam-se três Orixás, os demais seriam conhecidos como “passagens”, exercendo menor influência. O Orixá de Cabeça corresponde à energia básica, fundamental, de um indivíduo, dando-lhe características mais marcantes em sua personalidade.

 

O segundo é o Ajuntó, de características mais sutis, muitas vezes amenizando o carácter do Orixá de Cabeça, que poderá Ter o caráter arrebatado por ser jovem e guerreiro. O terceiro seria o Orixá de Herança, que acompanha a família por algumas gerações.

 

 

7. Quais os Orixás que combinam entre si?

 

Varia muito de lugar para lugar, sendo vistos no jogo de búzios. Para alguns cultos e nações, o Orixá Exu apenas se combina com um tipo de Ogum, ou Oxalá apenas com Iemanjá e um tipo de Oxum.

 

  

8. O que é pemba?

 

Em sua origem, é um calcário extraído da terra, cuja finalidade é riscar os pontos que identificam a linha vibratória da entidade. Há de diversas cores. A mais comum é a branca, que serve para todos, pertencente a Oxalá.

 

  

9. Quais são as leis de Umbanda?

 

São 10 os princípios básicos que regem a Umbanda:

 

  

9.1 Crença em um Deus único, omnipotente, eterno, incriado, potência geradora de todo o Universo material e espiritual, adorado sob vários nomes.

 

9.2 Crença em entidades superiores: Orixás, anjos e santos que chefiam falanges.

 

9.3 Crença em guias, em planos médios, mensageiros dos Orixás, anjos e santos.

 

9.4 Existência da alma e sua sobrevivência após a morte.

 

9.5 Prática da caridade desinteressada, na busca de aliviar o carma do médium.

 

9.6 Lei do Livre-Arbítrio (da livre escolha), pela qual cada um escolhe fazer o bem ou o mal, e o ser humano afiniza com sua faixa vibratória e a do ambiente que o cerca.

 

9.7 O ser humano é a síntese do Universo.

 

9.8 Crença na existência de vida inteligente em todo o Universo, vivendo e habitando.

 

9.9 Crença na reencarnação, na lei cármica de causa e efeito.

 

9.10 Direito de liberdade de todos os seres.

 

  

10. O que é reencarnação?

 

A crença no renascimento do espírito em um novo corpo, em eterno aprimoramento e evolução. Eterno porque perfeito é apenas Deus, pois, se não, já haveria muitos Deuses na Criação.

 

Não se aceita a metempsicose (a reencarnação de um homem em corpo de um animal), pois haveria o retrocesso no aprendizado em determinado momento da evolução de cada indivíduo.

 

  

11. O que é a Lei de Causa e Efeito?

 

Todo efeito tem uma causa, assim como todo o malfeito é atraído de volta por sintonia fluídica, assim como o bem. Devemos entender que as pessoas são como ímãs que se atraem por afinidade de idéias e ambientes. É o popular “Colhe-se o que se planta” ou “Dize-me com quem andas e te direi quem és”.

 

 

 

12. O que é Chacra?

 

São os locais de concentração de magnetismo no corpo, onde se aglomera os centros nervosos do corpo humano.

 

  

13. O que são as Linhas Auxiliares?

 

Como o nome diz, são os auxiliares dos guias. Normalmente, são os espíritos que tiveram sua última reencarnação em período mais actual. Os marinheiros actuam na Linha das Águas, como activos auxiliares nos tratamentos de purificação, tais como vícios de qualquer espécie. Os baianos são o elo de ligação dos guias à Terra. Os boiadeiros cuidam da harmonia entre os médiuns durante os trabalhos.

 

 

 

14. O que são os boiadeiros?

 

Entidades responsáveis pelo bom andamento dos trabalhos e por tornar o grupo mediúnico harmonizado entre si. São conhecidos também por oguns, guardiões, vigilantes (dentro da literatura espírita, vistos em Nosso Lar, de André Luiz e outros).

 

 

 

15. O que é um ponto riscado?

 

Já vimos que o ponto cantado auxilia na sintonia mental com a linha vibratória que estamos invocando. O ponto riscado identifica a origem da entidade, quais os seus domínios e a quem é subordinada. Risca-se com a pemba.

 

 

 

16. Orixá é entidade?

 

Segundo os pesquisadores, não. Um Orixá é energia vinda de um elemento primordial. Existem entidades que trabalham com essas energias e são especializadas nelas. São com tais energias que os umbandistas trabalham. Assim, mesmo que a entidade se identifique como Oxóssi ou Odé, não é o Orixá em si, mas está se identificando em sua linha vibratória. Isso explica porque pode, em um mesmo trabalho ou simultaneamente em vários locais, haver entidades com o mesmo nome.

 

 

 

17. Existem proibições alimentares a filhos do mesmo santo?

 

Por uma questão de formação básica dos corpos, de afinidade das entidades, as proibições existem. Daí os africanos criarem as muitas lendas, tão conhecidas no Candomblé. Os filhos de Oxalá, tenho visto, têm verdadeira indigestão com o azeite-de-dendê. As entidades chamadas do Oriente detestam quando seus médiuns ingerem, no dia de trabalho, carnes vermelhas e alimentos picantes, sob a explicação do excesso de fluidos pesados que ficam no corpo do médium, sendo necessárias verdadeiras limpezas espirituais e físicas, antes da incorporação.

 

 

 

18. Umbanda é religião cristã?

 

Em seus princípios (leis de Umbanda), há a crença em um Deus único e a caridade desinteressada, visto nos mesmos princípios do Evangelho de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Jesus, por sua vez, ocupa seu lugar nas preces como o divino coordenador ou mesmo na figura excelsa de Oxalá, sendo Deus, Ifá (1). Por que, então, não considerá-la cristã?

 

  

19. O que são quiumbas?

 

Seriam os espíritos de mortos sem luz ou esclarecimento, escravizados pelos seus próprios sentimentos em grande ódio e revolta. São as levas de obsessores existentes na espiritualidade, que induzem idéias maléficas aos vivos, apreciam fingir que são entidades iluminadas, quando não o são. Da mesma forma, são os verdadeiros executantes da magia negra e os vampiros do astral.

 

  

20. E os mortos?

 

Não são Orixás, podendo se tornar um guia, Exu, auxiliar ou anjo, de acordo com sua elevação espiritual. São chamados de Eguns.

 

 

 

(1) Ifá, segundo os mitos, teria sido o primeiro babalaô (adivinho) e é confundido com a própria figura de Orunmilá, por alguns autores.

 

Para outros, Orunmilá seria Deus. Na realidade, Deus é conhecido como Olodumare ou Olorum (na mitologia iorubá) ou ainda Zambi (na mitologia banto). Orunmilá é um Orixá/Imolê da categoria dos funfun (Orixás brancos).(Nota da autora).

 

  

21. O que é amaci?

 

Banho purificatório na cabeça, feito com folhas, flores, mel,  perfumes e outros, de acordo com orientação dada pelo diretor dos trabalhos. Sua finalidade é auxiliar na incorporação e assentar” a mão do guia espiritual.

 

  

22. O que é amuleto e talismã?

 

Nada mais é do que um objecto magnetizado. O amuleto serve para afastar fluidos pesados, alguns exemplos são: medalhas, figuras, imagens, inscrições ou objectos variados. O talismã serve para atrair bons fluidos. O patuá seria um dos mais populares amuletos, feito com material preparado, costurado em tecido, sob a forma de saquinhos, papel, etc.

 

  

23. O que é Aruanda?

 

Lugar onde moram os Orixás e as entidades superiores. No Catolicismo é o Céu. No Espiritismo são as colónias espirituais.

 

  

24. O que é uma oferenda?

 

Na Umbanda trabalha-se com os quatro elementos da Natureza: água, fogo, terra e ar, como matéria-prima básica. Manejados convenientemente, por entidades especialistas, promovem o equilíbrio, o descarrego, a harmonia. Na Umbanda, em respeito à Natureza, nada pode ser retirado sem uma restituição ao elemento básico. Muitas vezes, ao entregar-se determinada oferenda, por afinidade fluídica, a mesma fica saturada dos fluidos densos retirados do solicitante, pelas entidades. Assim, os Exus utilizam o álcool com fins de evitar os vícios no médium; o dendê, para evitar a desordem psíquica; a farofa, para trazer bens materiais (alimentação); a pipoca, para atrair doenças cármicas dirigidas ao médium.

 

  

25. Existe o feitiço?

 

Infelizmente, sim. São trabalhos feitos pela quimbanda com fins de prejudicar alguém, perfeitamente lógicos, dentro do ponto de vista magnético.

 

 

 

26. Pode-se evitar o feitiço?

 

Já vimos no conceito de magnetismo que, dependendo da sintonia que vibre em cada um, pode-se assimilar o feitiço ou não. Nesses casos, quando a pessoa tem “um santo forte”, ou seja, vibra em frequência mais elevada, a onda do mal emitida tende a ricochetear e, muitas vezes, retorna a quem o emitiu, que, na realidade, vibra nessa faixa, pelo simples fato de Ter desejado o mal.

 

  

27. Qual o valor das palavras na Umbanda?

 

A palavra, no Antigo Egipto, era sinónimo de criação. Tanto é verdade, que uma palavra exprime uma idéia. Uma idéia, um pensamento. E um pensamento é onda que é emitida. Daí usar-se algumas palavras que exprimem complexos sentimentos carregados de amor, nos trabalhos de Umbanda. São os conhecidos mantras, na Índia.

 

  

28. O que é um ritual?

 

É um processo gradativo, onde se utilizam acessórios, os mais diferentes possíveis, até ser atingido o clímax desejado. Na verdade, assemelha-se a uma subida em uma escada, degrau a degrau, frequência a frequência, até a sintonia com as falanges desejadas, cujos objectivos podem variar sobremaneira.

 

  

29. Existe maldição ou praga?

 

Seria a mesma explicação dada na questão 27. As famosas pragas de mãe e madrinha nada mais são que palavras emitidas com poderoso influxo magnético acolhidas e re-alimentadas por quem as recebe, em baixo padrão vibratório. Como todas as coisas já vistas, o que pode repelir todas as coisas dirigidas ao mal é a elevação do pensamento, do teor vibratório, rechaçando por não afinidade magnética.

 

  

30. Há nomes que não devem ser ditos na Umbanda?

 

No Candomblé, o nome Xapanã, por exemplo, não deve ser pronunciado. No Sul do país popularizou-se, inclusive, abafando os nomes de Omolu e Obaluaiê, comuns no resto do país. Cada letra possui um som. Cada som produz uma frequência. A soma das letras produz um nome que poderá, ou não formar uma melodia harmoniosa do ponto de vista espiritual. Todavia, antes de mais nada, não produz efeitos desastrosos se comparados ao teor de pensamento que exprime a palavra.

 

  

31. Por que é tão comum colocar-se, na magia negra, objectos dentro de colchões, travesseiros, cobertas ou escondidos dentro das casas?

 

No primeiro caso, na tentativa de o objecto magnetizado ficar, o maior tempo possível, em contacto com a pessoa visada. No segundo, para continuar irradiando, o maior tempo possível, sem ser descoberto no ambiente.

  

 

32. O pensamento tem cor?

 

Por incrível que pareça, tem. Segundo Ramatis: “A qualidade do pensamento determina-lhe a cor; a natureza do pensamento compõe-lhe a forma; e a precisão do pensamento determina-lhe a configuração exata”. (Magia de Redenção, página 64, citado na bibliografia). Dependendo da intensidade do mesmo, podem-se criar as conhecidas formas-pensamento, citações estas com volume, cor, som, verdadeiros marionetes espirituais de quem os criou. Na maioria das vezes, exprimem o verdadeiro interior de cada um, visíveis pelos guias que as analisam. São percebidas, também, pelos médiuns videntes e, muitas vezes, confundidas com entidades.

 

  

33. Por que é tão comum despachar-se objectos em água corrente?

 

Sabemos que a água é um dos mais poderosos elementos da natureza, no que se refere a sua capacidade de excelente condutor de electricidade e fluidos quaisquer, sendo um poderoso solvente. Ao atirar-se o objecto saturado, a água de imediato absorve esse teor magnético, levando-o para longe do enfeitiçado (ou aquele que quer desvincular-se de objectos imantados). Assim, quebra os vínculos que antes existiam, por proximidade ou assimilação do dono.

 

  

34. E água fluida?

 

É digna de um livro sobre o assunto, tal sua complexidade e utilização. Já vimos que a água é um solvente magnífico, por sua formação molecular e magnética de elevado poder. É usada amplamente pelos marinheiros no tratamento de perturbações psíquicas e vícios. A água fluida nada mais é do que um veículo preparado com elementos espirituais e da natureza, saturada por hábeis manipuladores do astral, com fins terapêuticos. Pessoalmente, já tive a oportunidade de acompanhar os trabalhos de um preto-velho que, preparando vidros de água fluida, curou indivíduos minados de vícios de toda a espécie.

 

  

35. E o Sol? Por que há trabalhos antes e depois do entardecer?

 

A vida terrestre gira em torno do Sol. Sua radiação magnética de calor e luz são conhecidas. As de carácter espiritual, muito pouco. São nesses horários, antes e depois do pôr-do-sol que observamos a maior intensidade de raios infravermelhos (verdes, no plano espiritual) capazes de dissolver, especialmente, as formas nocivas de trabalhos dirigidos ao mal.

 

  

36. Por que se utilizam de unhas e cabelos da vítima em trabalhos?

 

São os conhecidos “endereços-vibratórios”, tão citados em obras. Por trazerem em si idêntico magnetismo da pessoa visada, servem, no plano espiritual, como verdadeiro roteiro para encontrá-la. Um exemplo são os médiuns que, tocando objectos pertencentes a alguém, localizam vítimas, locais, ou descrevem o portador com detalhes, o que fazia e sentia.

 

  

37. E as benzeduras?

 

Nada mais são do que passes magnéticos. Nossos pretos-velhos eram eficazes, assim como nossos índios. Utilizam-se de metais (tesouras, facas, excelentes condutores de electricidade), água, ervas, saliva, etc. como condutores desse magnetismo curativo.

 

  

38. E os quebrantos? O olho-grande ou gordo?

 

Funcionam similar às pragas. Há pessoas que, de baixo teor espiritual e magnético, emitem algumas sem o desejar, poderosos feixes de carácter nocivo, capazes de matar plantas, animais ou causar mal-estar em pessoas. Desde criança ouvia uma história de um galo, muito bonito, vítima desse tipo de enfeitiçamento verbal, morto imediatamente após Ter sido emitido pela pessoa que o admirou.

 

 

 

39. E as figas, cruzes, elefantes de gesso e outros?

 

Objectos os mais variados possíveis em todo o mundo, tornam-se populares como “quebradores” de olho-grande. Ao serem colocados em locais visíveis, alguns preparados para dissolver descargas negativas, são a primeira coisa a ser vista por aqueles portadores desse tipo de magnetismo pesado, recebendo, em primeiro lugar, a descarga do mesmo. Ou seja, viram objectos de “descarrego” da limpeza, absorvendo ou dissolvendo tais vibrações na entrada das residências.

 

Todos esses objectos e práticas auxiliam muito como paliativos, no teor magnético existente nas casas. Todavia, o mais importante é o tipo de ambiente que é criado pelas mentes que ali habitam. Se não, tornam-se inúteis ou de muito baixa influência.

 

  

40. Por que se sintam as figas de vermelho e outros objectos, na Umbanda?

 

Na escala de cores, cada qual possui uma frequência específica. O vermelho, entre as cores visíveis por nossos olhos, possui a mais baixa, de teor mais pesado, em comparação com as demais. As entidades das zonas umbralinas, do “inferno”, como são chamadas essas regiões no plano astral, costumam vestir-se de vermelho, cor enervante, sanguínea, que exprime as paixões inferiores, como nos cita André Luiz, na obra Libertação. Dentre as cores, misturadas, é a que primeiro chama a atenção, tal qual um perfume forte. Daí ser escolhida para trabalhos ou usada pelas entidades que se utilizam dos fluidos mais pesados, como vestuário, na espiritualidade.

 

 

 

41. E os objectos de cera, e as velas?

 

A cera natural, vinda das abelhas, é impregnada dos fluidos existentes nas flores, em grande quantidade.

 

Este elemento, vindo da natureza, é utilizado na prática do bem e do mal como matéria prima poderosa para somar-se com os teores dos pensamentos, tornando eficaz o trabalho e o objectivo ao qual se propõe. Comparada a uma bateria, uma pilha natural, a cera sempre foi utilizada em larga escala na magia.

 

 

 

42. E a vela?

 

É considerada, na espiritualidade, como uma das melhores oferendas por Ter, em sua formação, os quatro elementos da natureza activos, desprendendo energia. O fogo da chama, a terra (através da cera), o ar aquecido queimando resíduos espirituais.

 

O umbandista não deve, jamais, retirar nada da natureza sem deixar, ao menos, uma vela para repor aos elementais o fluido retirado do seu ambiente, em profundo respeito à criação divina.

 

 

 

43. E os elementais?

 

Sem eles a Umbanda não existiria. São entidades primárias, quase infantis na espiritualidade, sempre dirigidas por entidades superiores, habitando um dos quatro elementos. No fogo, as salamandras que trabalham na área relacionadas ao amor, ao sexo, à amizade, à agressividade e protecção. Na terra há vários, sendo os mais conhecidos os gnomos, cuja actividade relaciona-se ao trabalho, à criatividade, à perseverança e aos bens materiais. As ondinas, nas águas, actuam na sabedoria, na doçura, nas actividades espirituais e mediúnicas. No ar, os silfos, ágeis e inquietos, dominam as áreas da saúde, da cura e do equilíbrio físico e mental.

 

Todos eles participam dos trabalhos umbandistas como auxiliares valiosos e nas outras doutrinas e religiões, muitas vezes, em discreto anonimato.

 

 

 

44. E os elementares?

 

São diferentes dos elementais. São entidades muito primitivas em situação intermediária entre o animal e a racionalidade. Dirigidos por entidades, colaboram na limpeza, na guarda, tomando formas as mais variadas possíveis. São colaboradores dos Exus e boiadeiros, principalmente.

 

 

 

45. E a aura humana?

 

Sem ela fica muito difícil compreender a origem das energias existentes no magnetismo humano, principal responsável nos fenómenos do mau-olhado, do passe, na imantação dos objectos. É resultante da mistura e união das energias caloríficas e luminosas do sol, dos minerais subterrâneos, da radiação atómica na natureza, da água ingerida e da assimilação de energias de outros corpos, tais como plantas, animais e o próprio homem. Irradia, em torno do corpo físico, uma luminosidade que, pela análise de cor, varia do tom mais brilhante que, pela análise de cor, varia do tom mais brilhante ao mais escuro, se doente. É distinta da aura existente no duplo etéreo (perispírito, Ba egípcio, duplo, etc.), que é o elo de ligação semi-material do espírito ao corpo físico. Pelo teor dos pensamentos e sentimentos do espírito, varia dos tons azulados e dourados, mais sublimes, aos tons avermelhados e escuros das paixões inferiores e doenças espirituais. O tamanho da aura do duplo etéreo varia em proporção ao grau de elevação espiritual do indivíduo.

 

 

 

46. E as crendices?

 

Onde há fumaça, há fogo, diz o ditado popular. Há crendices verdadeiras e falsas. Quando muitos dizem que determinada actividade é correcta, deve-se analisar os fundamentos do ponto de vista científico e espiritual. Ou seja, devem ser analisadas friamente, sem serem repetidas, mecanicamente, sem discussão prévia. Certa vez ouvi que determinada imagem, dentro de casa, produziria efeito negativo na sexualidade feminina e coisas do género. Já falamos repetidamente que o que vale são os pensamentos e a magnetização dos objectos. Como foi comprovado, mais tarde, a dita imagem nada produziu de negativo, muito pelo contrário.

 

 

 

47. Por que se fala tanto em arruda, guiné e outras ervas?

 

São ervas que, pela utilização popular e orientação espiritual, ficaram muito conhecidas. As ervas, ao crescerem, absorvem as radiações do Sol, da Lua, dos minérios, enfim, de toda a natureza, e dos elementos espirituais, à semelhança da aura humana. A arruda é conhecida por murchar e secar em casas, terrenos ou regiões onde há abundância de fluidos danosos. Um verdadeiro termómetro da natureza.

 

 

 

48. E defumação?

 

Nada mais é do que plantas que, com todo o magnetismo absorvido da natureza, ao serem queimadas e suas emanações dirigidas por entidades encarregadas da purificação de ambientes, diluiriam fluidos pesados ou atrairiam boas vibrações. Usam-se desde a tradicional arruda ou outras ervas, cascas de alho, açúcar, resinas aromáticas, etc.

 

 

 

49. Por que incorporar Exu ou Pombagira?

 

É comum ouvir-se frases do tipo “deve-se deixar vir o povo de rua para ‘desamarrar’ a vida”. Ao incorporar um Elebara (Exu ou Pombagira), o médium é alertado conscientemente ou inconscientemente para não desenvolver os seus piores instintos ou evitar que esses comandem suas vidas. Pela assimilação magnética, os Elebaras costumam carrear excessos de fluidos pesados. Ao incorporar, no médium, em franca operação de limpeza, diz-se que “carregam” ou “assumem” parte do carma do mesmo, desta forma. Esclarece-se que eliminar o carma é impossível, mas aliviar o destino que daremos a nossas vidas é perfeitamente viável. Por isso, podemos afirmar que minimizam, reduzem, aliviam acidentes, minoram doenças, criam convicções de boa conduta e correção de caráter. São verdadeiros faxineiros do astral e preciosos amigos.

 

Devido a seu caráter zombeteiro e brincalhão, alguns “pedichões” de oferendas, por falta de esclarecimento dos guias e médiuns, são vistos de soslaio com muita desconfiança nas casas ditas “não-cruzadas”, ou seja, onde não há trabalho específico dos Exus com o público (giras) e sacrifícios. São, infelizmente, muito confundidos com obsessores, arruaceiros, entidades “primitivas” e “ignorantes”, como são chamados. O que podemos dizer é que se deve observar o conteúdo das mensagens dessas entidades, o comportamento, o comprimento das promessas (sobretudo, o aval dos guias), conduta da casa e do grupo mediúnico, naqueles parâmetros do bom senso. Não devem ser temidos, mas respeitados.

 

Em suma, pode-se afirmar que os Exus garantem, assim, muito maior protecção, uma vida menos problemática, um salutar vínculo de amizade criado entre trabalhadores de ambos os lados da espiritualidade.

 

 

 

50. Ouve-se muito falar nas fases da Lua propícias a trabalhos. No que se fundamenta?

 

A ação electromagnética da Lua é conhecida desde a mais remota antiguidade nos fenómenos das marés, na germinação e crescimento das plantas, na poda de plantações, na fecundação dos seres, nas alterações de humor e um sem-número de fenómenos. Já que se trata de trabalhos, com fins quaisquer, é natural que se escolham dias em que a força electromagnética da Terra, sob a influência lunar, crie um ambiente mais propício ao crescimento, ou não, do teor magnético nocivo ou benigno desses mesmos trabalhos.

 

 

 

51. Afinal, qual a diferença entre Exu e quiumba?

 

Os quiumbas são malfeitores do astral, avessos ao bem e altamente perturbadores. Tanto que há concordância entre autores quanto ao fato de serem eles os verdadeiros executores dos trabalhos destinados ao mal. São os costumeiros “encostos” ou “rabos de encruza”.

 

Fazem-nos pensar que muitos quiumbas mistificam, fingindo, em casas desatentas, serem Exus ou até mesmo Orixás, com fins de alcançar seus objectivos.

 

Os Exus, não. São eles que desmancham os trabalhos de magia negra, transportando magneticamente as mazelas, as dores e doenças físicas e espirituais, aliviando carmas. Alguns Exus, por estarem ainda no início de sua evolução, como trabalhadores do bem, necessitam orientação e doutrina, tanto pelo médium como pelos diretores dos trabalhos (cacique, chefe ou babalorixá) e devem ser colocados na disciplina da casa. Daí temos os Exus orientados, que não pedem sacrifícios, com oferendas mais simples, e aqueles que não tiveram uma colocação correta, que se acostumam com extravagâncias e exigências repletas de vaidades humanas.

 

 

 

52. Por que os Exus aparecem nas imagens em formas tão assustadoras?

 

Foi-nos explicado em uma consulta com entidades de sua linha. Os Exus costumam tomar tais formas como meio de impor respeito e medo a espíritos inferiores (quiumbas) e, desta forma, facilitar o controle e vigilância que obtêm sobre estas mentes vinculadas ao mal, para que não perturbem trabalhos ou até mesmo lares e locais.

 

 

 

53. O que é Umbanda de Branco, Umbanda Branca ou de Cáritas?

 

Na verdade, varia infinitamente, de casa para casa.

 

Mas seus fundamentos básicos são que algumas casas recusam-se a trabalhar com giras de Exus, por considerá-los indisciplinados e só trabalharem com sacrifícios sangrentos, coisas que já sabemos incorrectas, apesar de serem idéias muito confundidas.

 

Existem sete falanges, dominadas por Orixás, Yorimá (Pretos-Velhos) e Yori (Crianças). Na legião de Iemanjá haveria Orixás comandando suas subdivisões, tais como Oxum, Iansã e Nanã. Em alguns locais, os Orixás não “descem” pessoalmente, mas são representados por Pretos-Velhos (antigos escravos), Caboclos (indígenas) e espíritos de Crianças (entidades evoluídas que se apresentam sob a forma infantil). Há rituais em matas, praias, pedreiras, cachoeiras, etc. Nela foram abolidos rituais com sangue (sacrifícios) e magia negra.

 

 

 

54. O que é Umbanda Cruzada?

 

Chamada de Quimbanda pelos umbandistas (ditos de linha branca) e macumba, os seus trabalhos ou feitiços. Cultuam de dez a doze Orixás, dependendo da nação africana de origem, sendo que os Orixás “descem” pessoalmente, podendo haver, ou não, giras de caboclos e pretos-velhos em outros dias, intercalados. Fazem comidas (oferendas) mais elaboradas que na Umbanda Branca e sacrifícios animais. Nela é comum o jogo de búzios e rituais assemelhados ao Candomblé, feitos pelo pai ou mãe-de-santo ou babalorixá ou yalorixá. O vestuário é elaborado, há toque de instrumentos (algumas casas de Umbanda Branca aboliram), seu cerimonial e ritualística possuem maior quantidade de preceitos, proibições e quizilas (proibições alimentares).

 

Cultuam-se, obremaneira, os Orixás ligados à morte e aos cemitérios, fonte energética de muitos trabalhos de magia negra, como Xapanã (Omolu ou Obaluaiê), Exu (Elebaras) e Iansã como dominadora de Eguns.






Nação Nagô no Sul, resistência cultural de um povo

http://www.maniadescraps.com/gifs-animados/orixas.html

A Nação Nagô no Rio Grande do Sul é uma das modalidades do Batuque, uma religião voltada ao culto dos Orixás. Bem, minha intenção com este comentário é mostrar que esta nação não foi extinta como muitos pensam e que ela não sofreu processo de aculturação, ao contrário do que ocorreu com outras nações. Uma das principais marcas desta nação é que o transe para ela não é um tabu como nas demais; os filhos sabem que foram pegos pelo Orixá. Muito parecida com o candomblé em muitos aspectos, dentre eles, a nomenclatura dos cargos e o seu panteão que é mais numeroso do que nas demais nações. Esta nação buscou preservar suas origens, sendo por isso, uma nação fechada. Não há aglutinação de divindades como ocorre nas outras nações onde Ibeji é qualidade de Oxun e Xangô, Nanã é qualidade de Iemanjá, Olokun e Orumilá são qualidades de Oxalá, na Nação Nagô estes Orixás mantém sua individualidade.

Uma referência a esta Nação é o Ilê Axé Oba Oluorogbo, casa de Nação Nagô de Pelotas-RS dirigida pelo Babalorixá Eurico de Oxalá. O Panteão desta casa é bem diferente do convencional observado em outras casas. Os Orixás cultuados no Ilê Axé Oba Oluorogbo são:

Exu, Ogum, Odé-Otin, Logunedé, Xangô, Obaluaiê, Oxumaré, Ossaim, Oyá, Oxum, Yemanjá, Nanã, Ewá, Obá, Ibeji, Onilé, Oxalá, Orunmila-Ifa, Olokun.

Também quanto aos cargos que em outras nações não existem, e no Nagô é usado:

-Babalorixá ou Yalorixá: A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai. É o título sacerdotal.

-Iyakekerê (mulher): mãe pequena, segunda sacerdotisa.

-Babakekerê (homem): pai pequeno, segundo sacerdote.

-Egbomis: são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: “meu irmão mais velho”).

-Elegùn: filho-de-santo que já entra em transe.

-Abiã ou abian: novato.

-Ogãs ou Ogans: cargos a confirmar

-Ekedi: camareira do Orixá (não entra em transe).

Esta Nação muito linda, mas infelizmente incompreendida por parte de zeladores das demais nações, é uma boa referência, aqui no Rio Grande do Sul, da conservação da Cultura Africana.

Nas cerimônias os Orixás chegam e dançam ao som das cantigas, as roupas são simples, não há paramenta, os filhos dançam apenas com roupas nas cores de seus Orixás.

O processo de iniciação nesta modalidade também é diferente do que nas demais nações e se aproxima muito da iniciação do Candomblé, com Obí e tudo mais.

“Cada orixá possui “qualidades” ou “caminhos” que irão expressar aspectos ligados a ele, a exemplo uma passagem enquanto jovem, uma passagem enquanto de mais idade, uma passagem de conquista, seja por um titulo honorifico, seja por um cargo (Rei de determinada região). Cada qualidade portanto, trará consigo informações de culto, tais como: Local de origem, cores, números, ferramentas e tipos de ofertas. Há também “qualidades” cuja origem são Orixás independentes aglutinados a categorias de Orixás “maiores”.” (Babá Eurico D’Oxalá)

Etimologia 

Olodumaré
Oló = senhor
Odu = destino
Maré = supremo = deus, senhor do destino supremo. 

Correspondente á personalidade de Deus com o nome de Shadai ou Alhim Tsebaoth (kaballah) - Referencia para leigos entenderem.

Ododúwa - odú (tio) = recipiente, auto gerador.

Da = criador

Iwa = existência - Odudúwa, o ser criador da existência terna (vida) correspondente á figura de Orinxala. 

Os tambores chegaram ao Brasil, com uma família real africana

Religião natural, significando o culto dos seres da natureza, ou seja ainda, o culto á terra, ar, fogo e água compreendidos todas as suas proporções, e que o “ocultismo” divide em 7 reinos, compreendendo três reinos elementais.

Os Bantús rendem culto aos antepassados, cuja origem remontam a um grande ser estranho que existiu “só”, num tempo EM QUE AINDA NÃO EXISTIA O TEMPO (manifestação visível do universo criado) correspondendo ao mito bíblico: “no principio era o caos...”.

No conceito Yoruba, existiu um ser dotado de dois sexos, ao qual poderia gerar tudo que podemos ver ou sentir, seu criador teria o nome de (Olorum – é a causa sem causa e Obatalá – é a manifestação, deus que pode se adorar), como toda cultura por mais que se distancie em seus dogmas mesmo assim sequem a mesma linha como se surgissem de um só fio para se abrir em vários ramos com varias cores, a cultura Yoruba seque a mesma concepção do que temos conhecimento.

A evolução sobe uma escala sem pressa, vamos verificar. No período paleolítico de duração desconhecida, o homem habita cavernas e utensílios a pedra lascada e os ossos de animais. No neolítico, sabe polir a pedra, confeccionam utensílios novos para novos usos, abandona as cavernas, constrói tendas e cabanas e mesmo aldeias lacustres e já domestica o boi, o carneiro, a cabra e o cão. Surge a cerâmica, barcos, vestuários de pele, linho, lã e algodão. Um passo mais... utiliza o cobre e estanho e por fim o ferro. Sua concepção religiosa se aperfeiçoa, deixaram na face da terra os resquícios de uma cultura que escavamos e descobrimos nossas raízes. Descobriu-se que o Egito manuseou metais por meados de 6.000 A.C., na China e Grécia trinta séculos; na Gália e Suíça, vinte e cinco; na Scandinávia, vinte; e, na Finlândia, três. 

A tradição dos chineses alcança uma duração de 80 a 100.000 anos, embora os dados positivos contem somente 17.000.

Os egípcios abraçam uma duração de 30.000 anos. A dos hindus, variável com a região, orça entre 13.000 a 19.000 anos.

Plínio faz referencia a uma época em que os egípcios não tinham como arma de defesa nas tribos africanas, senão os seus bastões.

No mesmo sentido, dessas origens, poderiam ser citados Platão, Aristóteles, Bérosio, Sallustio, Strabão.

Perfurações e sondagens no solo do vale do Nilo, em 1854, Burmeister calculou que o Egitp era habitado pelo homem há mais de 72.000 anos, época em que a Europa era habitado por selvagens.

As mudanças que ocorram no Egito por volta de 8000 A.C. transformaram definitivamente a evolução da humanidade. Estas mudanças culminaram com a invenção da agricultura e da pastoreia perto do Egito, no Próximo Oriente e no Sudão.

A cultura Egípcia teve o seu início pouco antes da época pré-dinástica, que a levaria para o auge das épocas faraônicas. Por volta de 5000 a.C. apareceram as primeiras evidências de organização. Apesar de serem escassas, estas mostram-nos que por esta altura já existiam povoados em que a agricultura era a sua principal atividade. A caça não era uma forma de subsistência para estas primeiras povoações, já que estas já possuíam animais de pasto. Alguns artefatos de pedra, metal e cerâmicas encontradas vêm com inscrições e desenhos de animais domésticos, prova que estes povos eram já de fato pastores. Assim a transição da forma mais primitiva de civilização de tribos nômades para a civilização tradicional estava completa.

Um dos mais interessantes aspectos deste período de transição eram os seus costumes funerários. Antes desta transição, as tribos nômades sepultavam os seus mortos da forma mais conveniente, que freqüentemente era perto dos seus acampamentos, ou mesmo dentro deles, como os cemitérios encontrados em Jebel-Sahaba.

Os tambores falam de festas, coroações, tristezas, guerras e cultos, grande variedades de batidas muitas vezes transportam os nativos a reinos espirituais, o majestoso orgulho de ser negro e dançar com graça e leveza, a cultura negra se orgulha da herança que carrega mesmo que tenham levado seu ouro, suas terras seus animas e sua liberdade, o étnico levanta sua cabeça e baila com pés descalços e poucos tecidos envoltos no corpo.

A mais antiga das religiões traz ancestrais que remota a era da história falada, onde não tinha material para registra nem escrita para perpetuar tradições, os mais velhos passaram de boca em boca para os mais novos ate que descobriram formas para registrar os deuses, sacrifícios e rituais.

No mundo todas as religiões originam de um mesmo principio divino, somos um só povo com varias personalidades espirituais, o ser divino que criou o macrocosmo é o mesmo que governa o microcosmo, para os seres inteligentes, varias formas expressas provam suas existência e contradizem sua divindade.

Na cabala antiga temos exemplos da presença do criador.

O numero 1
Representado por um ponto, significa o universo o macrocosmo e o microcosmo, representando o ser individual e único em sua divindade. O principio do movimento porem ele não é perfeito se continuar único, porque a vida não terá sentido sem outra vida para compartilhar.

O numero 2
De dois ponto temos uma reta, de um lado o principio do outro o complemento, uma reta, nos da o movimento, e a duplicidade do ser e o compartilhamento das forças

O numero 3
De triangulo, tem a origem divina, o inicio, a dualidade e o trio da santidade, a perfeição do espírito e da humanidade, diz os mais antigos que o homem era dotada de divindade com sua ganância foi se afastando e com a historia na humanidade esta a graça divina se perdeu, os ocidentais foram os mais afetados e na atualidade busca o elo perdido da sabedoria interior.

Uma busca que talvez seja em vão, onde a tecnologia contesta e sufoca a tradição. Somos filhos de uma geração de dotados espirituais esquecidos, nossas células ainda guardam lembranças ancestrais, mesmo sendo difícil alcançar novamente o homem luta pela sua herança perdida.

Dizem os mais antigos que o mundo teve origem de uma palavra que continha as letras que movimentaram pela primeira vez as moléculas do universo, tal palavra foi passada de boca a ouvido pelos sacerdotes e pelos membros das antigas escolas de mistério, porem se é verdade, poucos podem afirmar, porque a palavra é tão bem guardada que se duvida da sua veracidade, conversando com antigos mestres de escolas tradicionais e templos, ao tocar no assunto apenas mudam de conversa e ficam sérios, com sua atitude e comportamento da para se ver que tem algo misterioso e bem guardado, homens sérios saudáveis mentalmente respeitáveis, não saberiam mentir, o conhecimento traz responsabilidades que temos que respeitar, mas como saber a verdade, talvez nós, os menos privilegiados não tenhamos a oportunidade de tocar um milésimo da verdade.

Antigos templos guardam escritos que contradizem a verdade da humanidade, como isso pode ser, uma pequena coincidência esta em escrituras que traz a origem do homem no pó, acredito que tal pó venha das estrelas, os cientistas estão estudando a possibilidade da vida ter surgido na terra de poeiras estrelares, esta verdade hoje em dia esta perto de ser desvendada, e talvez possamos afirmar que nossos genes vêm de planetas distantes, mas não se empolguem achando que somos e.t.

Quem poderá afirmar a verdade, eu não sei, mas tenho que me preocupar como a verdade é moldada, o que será um bem feito para mim, talvez possa prejudicar outras pessoas por isso temos que ter cuidado com nossos desejos e atos para não prejudicar nossos semelhantes.

Um povo inteiro desaparece no antigo mundo sem sabermos o que aconteceu realmente, apenas historia contada por poucos sábios que publicaram em pedra e papiros os costumes e ritos da época, mesmo assim corremos o risco de perder tudo que temos e sofrer o mesmo destino a qualquer momento, pois o poder que se encontra nas mãos de alguns homens pode matar milhões de pessoas em questão de segundo sem que destrua suas casas, imagina o poder de morte e vida.

O momento de nascer é um poder que o homem ainda não dominou ele pode matar se apossar, mas ainda não temos poder de gerar a vida e criar o espírito, mas por quanto tempo?

Não sabemos onde iremos parar, só sabemos é que estamos pagando o preço de nossos atos. E não temos o pleno domino dos nossos destinos, podemos comprar uma terra, roupa ou jóias, mas não seremos os verdadeiros donos, somente temos emprestado aquilo que podemos pagar, um dia quando morrermos não levaremos nada para o tumulo, somente nossa sabedoria e fé, mais nada.

A Bahia é a terra santa dos orixás, mas foi no rio grande do sul que me influenciei pelos Orixás, seres encantados que os africanos cultuam, são ancestrais e deuses que sincretisam com a natureza.

 

São Paulo uma cidade grande que guarda em cada esquina um terreiro, da periferia ao bairro mais nobre, temos muitos templos nesta terra de cimento.

Pesquisa realizada nos livros:
O batuque na umbanda Editora Aurora
Dicionário Yorubá Nagô Português
Baba Agnaldo de Xapanã - Nação Nagô - Oyó

 *Atenção - alguns dados publicados nesta matéria contem informações retirados da Kabalah, para ilustrar, não quer dizer que foi gerado no mesmo tempo e época.

 

“Religiões Africana no Brasil ou chamadas

de Afro-Brasileira”

 

 

Sintetizando: 

 

        Elucidando, que os negros escravos que vieram para o Brasil trouxeram enormes bagagens culturais, como: arte, gastronomia e de religiões, com seus usos e costumes sagrados, linguajar próprio, ritmos e vozes. 

        Dos estudos já realizados, reconhece-se desde o séc. XVI a presença no Brasil de africanos de origens de Nações “Bantu”, a esse grupo pertenciam os negros chamados e de Nações:  do Kongo; Angola; Moçambique; Makuas; Kabinda; Benquela; Monjolo, Musikongos, Rebolos, Munjolos etc... Mais tarde, a vinda dos povos de Nações Sudaneses com o seu linguajar de origem Yorùbá, a “língua geral” dos escravos, em muitos Estados do Brasil, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras Nações existentes em nosso País. Para melhor definição do idioma Yorùbá: pertence ao grupo “Kwa” de Línguas Sudanesas e ao grupo Nígerokameruniano, compreende vários sub-grupos e dialetos, e entre os quais o “Egbá” que inclui  a Nação de Keto (Kétu) -  e a Nação de Ijexá (Ìjèsà) – e a Nação de Òyó, sendo a mesma, a Região e Cidade da Nigéria, África Ocidental, antiga Capital Política do reino de idiomas Yorùbá e a de maior importância cultural e religiosa entre os povos sudaneses; desta Nação, região e cidade vindo negros escravos com ritos próprios, subsiste até hoje no Estado do Rio Grande do Sul, assim como, povos de Nação Ewe ( evoes) também chamados de “anago” – nome dado pelos “daomeanos” aos povos que falavam o Yorùbá, tanto na Nigéria como no Daomei, Togo e arredores e que os franceses chamavam apenas de “Nagô”. Portanto, Nagô não é uma Nação Africana e sim todo os povos Sudaneses que falam o idioma Yorùbá. Com os povos africanos, vieram também os cultos religiosos de cada região de sua origem, e, que devido aos empórios de escravos e a mistura destes, e também de rituais, originaram as chamadas religiões, hoje, chamadas por muitos de afro-brasileiras, eu prefiro, chamar de africanistas. 

 

            A história nos narra, que nos navios negreiros, os cantos de lamentações e de apelações aos Orixás (Òrìsàs / Voduns) se confundiam com o barulho do mar e os açoites sofridos pelos negros. Era o maior castigo, que um ser humano poderia suportar.

            Já no Brasil, após os empórios de escravos; e, com suas convicções religiosas, levaram um bom tempo para adaptá-las ao Novo Mundo; misturando-se à religiosidade de seus patrões, aglutinando os Orixás aos Santos Católicos (sincretismo), e que também mais tarde, houve a inclusão a religiosidade do ameríndio (nativo do Brasil).

            Das sobrevivências culturais africanas no Brasil, as maiores influências inicialmente foram no Nordeste e depois se estendendo há todo o País. A contribuição da África, recebidas em nosso País, está em todas as “divindades” que recebemos “direta ou indiretamente do Povo Africano / Negro – Sudaneses (Nagô / Anago) e Bantus”.

            No Brasil, a cultura dos povos e Nações Sudanesas Africanas recebeu o nome de “Nagô” e com a inclusão da Nação Ewe (Avoes) do Daomei (Jèje) que são chamados de “Anago” e que ainda subsiste em uma pequena minoria no Estado do Rio Grande do Sul, e são chamados Nação de Jèje ou Nagò – Vodú. 

 

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Sobre as Qualidades de Orixas"

Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polêmica sobre as multiplicidades dos orisas chamada por todos de qualidade de orisa
Para melhor entendimento é que na África não há qualidade de orisa; ou seja, em cada região cultua-se um determinado orisa que é considerado ancestral dessa região e, alguns orisas por sua importância acaba sendo conhecido em vários lugares como é o caso de Sàngó, Orumila, etc.
É de se saber que Esu é cultuado em todo território africano, da forma que  Osun da cidade de Osogbo é Osun Osogbo, da região de Iponda é a Osun de Iponda, Ogún da região de Ire é Ogún de Ire (Onire: chefe de ire), do estado de Ondo é Ogún de Ondo,etc. Na época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas etnias

Ijesas, Oyos, Ibos, Ketus,etc e cada qual trouxe seus costumes juntos com seus orisas digamos particulares, e após a mistura dessas tribos e troca de 
informações entre eles cada sacerdote ou quem entendia de um determinado orisa trocaram fundamentos e a partir daí surgem todos esses aspectos, e essa quantidade de orisa presente aqui no Brasil, sendo que o orisa é o mesmo com origens diferenciadas.
É claro que por ter origens diferenciadas seus cultos possuem particularidades religiosas e até mesmo culturais por exemplo Oyá Petu tem seus fundamentos assim como Oyá Tope terá o seu, isso nada mais é, que uma passagem do mesmo orisa por diversos lugares e cada povo passou a cultuá-lo de acordo com seus próprios costumes. Um exemplo mais nítido é que aqui fazemos muitos pratos para Osun com feijão fradinho, entretanto num determinado país nãohá esse feijão portanto foi substituído por um grão semelhante e assim puderam continuar com o culto a Osun sem a preocupação de importar o feijão fradinho.
Outro exemplo de orisa transformado em qualidade no Brasil é Osun kare, Kare é uma louvação à Osun quando se diz: Kare o Osun! A palavra kare também é uma espécie de bairro na África, logo Osun cultuada em kare é Osun kare, e por vai surgindo desordenadamente essa quantidade de orisa aqui no Brasil. Imagine um rio que atravessa todo território Nigeriano e, em suas margens diversas etnias que num determinado local algumas pessoas diria que ali é a morada de Osun Ijimu (cidade de Ijumu na região dos Ijesa), mais para frente em Iponda diria aqui é a morada de Osun Iponda, mais para frente, em Ede esse rio terá o culto de Ologun Ede, o chefe de guerra de Ede segundo sua mitologia, e serão diversos orisas cultuados num mesmo rio por diversas etnias com pequenas particularidades. Isso acontece com todos orisas e suas mitologias fazem alusão a essas passagens e constantes peregrinação de seus sacerdotes quer por viajens comercias ou por guerras intertribais sempre espalharam seus orisas em outras regiões.
Outro fato interessante é títulos que algumas divindades possuem e foram transformadas em qualidades, por exemplo Ossosi akeran, akeran é um titulo de um determinado caçador (ancestral) com isso vamos na próxima edição analisar esses fatos e informar todas qualidades de orisa da nação keto que o sacerdote pode ou não mexer de acordo com o conhecimento de cada um, pois o nosso dever é informar sem a pretensão de nunca ser o dono da verdade Na próxima edição vamos diferenciar, títulos de nomes de cidades, nomes tirados de cânticos que as pessoas insistem em dizer que é qualidade de orisa.

Sobre a multiplicidade dos orisa. 
Vamos separar a qualidade como é chamada no Brasil (em Cuba chama-se caminhos), dos títulos e de nomes tirados de cantigas como insistem pseudo sacerdotes. Já sabemos que os orisa são venerados com outros nomes em regiões diferentes como: Iroko (Yoruba), Loko (Gege), Sango (Oyo), Oranfe (Ife), isso torna o culto diferente. Temos também o segundo nome designando seu lugar de origem como Ogun Onire (Ire), Osun Kare (Kare),etc, também temos os orisa com outros nomes referentes as suas realizações como Ogun Mejeje refere-se as lutas contra as 7 cidades antes dele invadir Ire, Iya Ori a versão de Iyemanja como dona das cabeças, etc. Há portanto uma caracterização variada das principais divindades, ou seja, uma mesma divindade com vários nomes e, é isso que multiplica os orisas aqui no Brasil.

Vamos começar com Esu o primogênito orisa criado por Olorun de matéria do planeta segundo sua mitologia, ele possui a função de executor, observador, mensageiro, líder, etc. Alem dos nomes citados aqui que são epítetos e nomes de cidades onde há seu culto, ele será batizado com outros nomes no momento de seu assentamento, ritual especifico e odu do dia. Não será escrito na grafia Yoruba para melhor entendimento do leitor.

Oba Iangui : o primeiro, foi dividido em varias partes segundo seus mito.

Agba: o ancestral, epíteto referente a sua antiguidade.

Alaketu: cultuado na cidade de ketu onde foi o primeiro senhor de ketu.

Ikoto: faz referencia ao elemento ikoto que é usado nos assentos esse objeto lembra o movimento que esu faz quando se move do jeito de um furacão.

Odara: fase benéfica quando ele não está transitando caoticamente.

Oduso: quando faz a função de guardião do jogo de búzios.

Igbaketa: o terceiro elemento, faz alusão ao domínios do orita e ao sistema divinatório.

Akesan: quando exerce domínios sobre os comércios.

Jelu: nessa fase ele regula o crescimento dos seres diferenciados. Culto em Ijelu.

Ina: quando e invocado na cerimônia do ipade regulamentando o ritual.

Ona: referencia aos bons caminhos, a maioria dos terreiros o tem, seu fundamento reza que não pode ser comprado nem ganhado e sim achado por acaso.

Ojise: com essa invocação ele fará sua função de mensageiro.

Eleru: transportador dos carregos rituais onde possui total domínio.

Elegbo: possui as mesmas atribuições com caracterizações diferentes.

Ajonan: tinha seu culto forte na antiga região Ijesa.

Maleke: o mesmo citado acima.

Lodo: senhor dos rios, função delicada dado a conflitos de elementos

Loko: como ele é assexuado nessa fase tende ao masculino simbolizando virilidade e procriação.

Ogiri Oko: ligado aos caçadores e ao culto de Orumila-Ifa.

Enugbarijo: nessa forma esu passa a falar em nome de todos os orisas.

Agbo: o guardião do sistema divinatório de Orumila.

Eledu: estabelece seu poder sobre as cinzas, carvão e tudo que foi petrificado.

Olobe: domina a faca e objetos de corte é comum assenta-lo para pessoas que possuem posto de Asogun.

Woro: vem da cidade do mesmo nome.

Marabo: aspecto de esu onde cumpre o papel de protetor Ma=verdadeiramente, Ra=envolver, bo=guardião. Também chamado de Barabo= esu da proteção, não confundi-lo com seu marabo da religião Umbandista.

Soroke: apenas um apelido, pois a palavra significa em português aquele que fala mais alto, portanto qualquer orisa pode ser soroke.


Ogún, Òsòósí e Ode lembrando que nem todos caçadores tomaram o titulo de Òsòósí e, na África, Òsòósí em certas regiões é feminino tomando o aspecto masculino no antigo reino de Ketu. Ode que dizer caçador, porém, nem todos Ode's são Òsòósí; Ijibu Ode, Ikija, Agbeokuta, são alguns lugares onde houve seu culto, pois seu culto, expandiu-se mesmo aqui no Brasil onde ele é lembrado como rei de Ketu, Ogún em outro aspecto foi chefe dos caçadores (Olode) entregando essa função mais tarde para seu irmão caçula Òsòósí para partir em buscas de suas inúmeras batalhas.
Já em certas mitologias o caçador passa a ser sua esposa Òsòósí L`Obirin Ogun, ou seja, Òsòósí é a esposa de Ogún, segundo o verso desse mito. 
Isso afirma o chamado enredo de santo aqui no Brasil quando se diz que para assentar Òsòósí temos que assentar Ogún e vice versa. Era costume africano quando os caçadores tinham que partir em busca de suas presas, louvarem Ogún para que tudo desse certo, de òrìsà secundário na África Òsòósí, passou a uma condição importantíssima no Brasil sendo òrìsà patrono da nação Keto, senhor absoluto da cerimônia fúnebre do asesé, alguns cânticos fazem alusão a essa condição: Ode lo bi wa, ou seja, o caçador nos trouxe ao mundo. Eis alguns nomes de Ogún/Òsòósí/Ode conhecidos, sobretudo no Brasil e seus aspectos, características, origem e particularidades:

Ogún Olode: epíteto do òrìsà destacando sua condição de chefe dos caçadores.

Ogún Je Ajá ou Ogúnjá como ficou conhecido: um de seus nomes em razão de sua preferência em receber cães como oferendas, um de seus mitos o liga a Osagìyán e Ìyémojá quanto a sua origem e como ele ajudou Osalá em seu reino fazendo ambos um trato.

Ogún Meje: aspecto do òrìsà lembrando sua realização em conquistar a sétima aldeia que se chamava Ire (Meje Ire) deixando em seu lugar seu filho Adahunsi.

Ogun Waris: nessa condição o òrìsà se apresenta muitas vezes com forças destrutivas e violentas. Segundo os antigos a louvação patakori não lhe cabe, ao invés de agradá-lo ele se aborrece. Um de seus mitos narram que ele ficou momentaneamente cego.

Ogún Onire: Quando passou a reinar em Ire, Oni = senhor, Ire = aldeia.

Ogún Masa: Um dos nomes bastante comum do òrìsà, segundo os antigos é um aspecto benéfico do òrìsà quando assim ele se apresenta.

Ogun Soroke: apenas um apelido que Ogún ganhou devido a sua condição extrovertida, soro = falar, ke= mais alto. Nossa historia registra o porque o 
chamam assim.

Ogún Alagbede: nesse aspecto o òrìsà assume o papel de pai do caçador e esposo de Ìyémojá Ogunte (uma outra versão de Ìyémojá) segundo um de seus inúmeros mitos.

Há vários nomes de Ogún fazendo alusão a cidade onde houve seu culto como Ogún Ondo da cidade de Ondo, Ekiti onde também há seu culto, etc. O òrìsà possui vários nomes na África como no Brasil e com isso ganha suas particularidades e costumes.


Ode/Ososi.

Há uma síntese sobre esse orisa na edição anterior, eis então suas várias formas de se apresentar:

Ososi akeran = um titulo do orisa;

Ososi Nikati = um de seus nomes;

Ososi Golomi = um de seus nomes;

Ososi Fomi = um de seus nomes;

Ososi Ibo = um de seus mitos o liga a Ossaniyn;

Ososi Onipapo = um dos antigos, tem culto a mais de um século no país;

Ososi Orisambo = possui seu assentamento diferente dos demais;

Ososi Esewi/Esewe = seu mito o liga a Ossaniyn e as vezes a Osala segundo os "antigos";

Osossi Arole = uns de seus epítetos;

Ososi Obaunlu = segundo registro há um assentamento deste orisa aqui no Brasil desde 1616 no ase de D.

Olga de alaketu, é considerado o patrono de ketu;

Ososi Beno = um dos mais antigos, detalhe tem assento aqui em São Paulo, cidade considerada emergente para tradições do candomblé Keto, com poucas casas antigas.

Ososi DanaDana = aquele que ateou fogo ou roubou, um epíteto dos mais perigosos dado ao caçador.

Ode Wawa = epíteto do caçador;não se tem notícia do seu culto no Brasil;

Ode Wale = epíteto do caçador, não se tem notícia de seu culto no Brasil;

Ode Oregbeule = é um Irunmale, portanto acima do orisa foi um dos companheiros de Odudua em sua chegada na terra segundo sua mitologia;

Ode Otin = outro caçador confundido com Ossosi, sua lenda o identifica ora como uma caçadora ora como um caçador, contudo sua ligação com Ossosi é fato, Otin se apresenta sempre junto com ele a ponto de confundi-los;

Ode Karo = um do caçadores que também mora as margens de um rio é irmão de Igidinile.

Ode Ologunede = o chefe de guerra de Ede, titulo ganhado quando seu pai o entregou aos cuidados de Ogún;

Olo = senhor, gun = guerra, Ede = um lugar na áfrica.É filho de um outro caçador chamado Erinle tendo como mãe Osún Iponda. O posto de asogun, a priori, surge desse mito que o liga a Ogún companheiro de seu pai.

Possui outros nomes como Omo Alade, ou seja, o príncipe coroado. Não há qualidades de Logun como acreditam alguns tais como locibain, aro aro, etc., são apenas nomes tirados de cânticos, aliás aro quer dizer tanta coisa menos nome de orisa. O nome Ibain é de um outro caçador homenageado nos cânticos de Ologun, esse caçador inclusive é o verdadeiro proprietário dos chifres tão importantes no culto. Oba L`Oge é um outro nome para esse orisa. É da região de Ijesa;

Ode Erinle = outro caçador confundido com Osossi no Brasil. Seu assento é completamente diferente dos demais, pois Erinle ou Inle é um orisa do rio do mesmo nome, o rio Erinle que corta a região de Ilobu na Nigéria. Encontra-se seus mitos no odu Okaran-Ogbe e Odi-Obara. Sua esposa é Abatan pois é considerado médico e ela enfermeira, seu culto antecede o de Ossayn, o pássaro os representam. Ibojuto é a sua própria reencarnação representado pelo bastão que vai em seu assentamento e tem a mesma importância do Ofa de Ossosi.Tem uma filha chamada Aguta que às vezes se apresenta como irmã ou como filha sendo sua mãe Ainan. Ode Otin se apresenta como sua filha, às vezes e ai é representado por uma enguia. Ainda temos Boiko como seu guardião, Asão seu amigo e Jobis seu ajudante. No Brasil o ligam a Osún e a Iyemanja pois segundo sua lenda é pela boca dela que ele fala, Erinle é um orisa andrógino e considerado o mais belo dos caçadores;

Ode Ibualama = uma outra versão para Erinle quando ele se apresenta mais ao fundo do rio, há um templo com esse nome na África fazendo alusão ao seu fundador. Aliás há vários templos mas todos são de um orisa só: Erinle nessa situação o caçador traça um outro caminho e pactua seus mitos com Omolu, Osumare, Nana,etc. A montagem de seu Igba (cuia) também difere de um simples alguidar com um ofa para cima como é comum as pessoas não esclarecidas assim fazer.


Ossaniyn, Omolu, Oluaye, Osumare, Nanan e Iroko.

Ossaniyn = Também chamado Baba Ewe, Asiba, que são epítetos do orisa. Possui seu próprio sistema divinatório; o orisa exerce suas funções interligadas a Esu composto ao mesmo tempo em que ele. Kosi ewe, kosi orisa: Sem folhas, sem orisa.

Osumare = Chamado Araka seu epíteto. É o orisa do arco-íris e da transformação, não deve ser confundido com o vodun Becem que se apresenta como Dangbe, Bafun, Danwedo todos da família Danbira e cultuados em outra nação.

Omolu / Obaluaye = É como se apresenta o orisa sapata transmutando-se para formas conhecidas tais como: Agoro, Telu, Azaoni, Jagun, Possun, Arawe, Ajunsun, Afoman, etc, cada qual com suas particularidades.

Nanan = apresenta-se nas formas conhecidas como: Iyabahin, Salare, Buruku, Asainan, sem culto no Brasil. É sempre bom lembrar que muitos nomes são de lugares onde se cultua o orisa. Por exemplo: Ajunsun é o Rei de Savalu, assim como Dangbe é o Rei do Gege, portanto são nomes que dão origem as suas formas. :

Iroko = orisa da gameleira (no Brasil), controla a hemorragia humana.


Iyabas  são os orisá feminino.

Oba = orisa guerreira é única em seu aspecto.

Iyewá = orisa guerreira única em seu aspecto.

Osún Opara = a orisa se apresenta jovem e guerreira.

Osún Iponda = jovem e guerreira, da cidade de Iponda.

Osún Ajagura = jovem e guerreira, nação nagô - Oyo, Pernambuco.

Osún Aboto = aspecto maduro da orisa.

Osún Ijimun = aspecto idosa e dada as feitiçarias, ligação com Iami Eleye.

Osún Iberin = aspecto maduro da orisa, nessa forma não desce nas cabeças.

Osún Ipetu = aspecto maduro da orisa.

Osún Ikole = seu mito a liga a Iemanjá e Ode Erinle, transformou-se numa ave.

Osún Popolokun = Conta os antigos que não vem mais, será?.

Osún Osogbo = ela deu oringem ao nome da cidade de Osogbo.

Osún Ioke = Se apresenta como caçadora.

Osún Kare = Um de seus títulos, Kare tem seu próprio nome que poucos conhecem.

Iyeyeo Ominibu = epíteto da Osún.

Iyemoja Ogunte = orisa se apresenta jovem e guerreira.

Iyemoja Iyasesu = assume a maternidade de Sàngó é ranzinza e respeitável.

Iyemoja Saba = uma das formas da mãe.

Iyemoja Maleleo = não se obteve noticias desse aspecto no Brasil.

Iyemoja konla = seu mito conta que ela afoga os pescadores.

Iyemoja Ataramaba = Nessa forma ela está no colo de sua mãe olokun.

Iyemoja Ogunde = aspecto da orisa cultuado no Nagô em Pernambuco.

Iyemoja Iyá Ori = nessa forma ela assume todas as cabeças mortais.

Iyamase = forma de quando ela é definitivamente mãe de Sàngó.

Iyemoja Araseyn = fuxico com Ossayn.

Oyá Leseyen = uma das Igbales que mora no próprio Lesseyen.

Oyá Egunita = orisa Igbale.

Oyá Foman = orisa Igbale.

Oyá Ate Oju = orisa Igbale aspecto dificil de Oyá quando caminha com Nana.

Oyá Tope = uma de suas formas.

Oyá Mesan = um de seus epítetos.

Oyá Onira = rainha da cidade de Ira.

Oyá Logunere = uma de suas formas.

Oyá Agangbele = esse caminho mostra a dificuldade quando a geração de filhos.

Oyá petu = nesse aspecto ela convive com Sàngó.

Oyá Arira = uma de suas formas.

Oyá Ogaraju = uma das mais antigas no Brasil.

Oyá Doluo = eró ossayn; culto Nagô.

Oyá Kodun = eró com Osaguian.

Oyá Bamila = eró Olufon.

Oyá Kedimolu = eró Osumare = Omolu.
Texto Adaptado por Ifatolá

“Religiões Africana no Brasil ou chamadas

de Afro-Brasileira”

 

 

Sintetizando: 

 

        Elucidando, que os negros escravos que vieram para o Brasil trouxeram enormes bagagens culturais, como: arte, gastronomia e de religiões, com seus usos e costumes sagrados, linguajar próprio, ritmos e vozes. 

        Dos estudos já realizados, reconhece-se desde o séc. XVI a presença no Brasil de africanos de origens de Nações “Bantu”, a esse grupo pertenciam os negros chamados e de Nações:  do Kongo; Angola; Moçambique; Makuas; Kabinda; Benquela; Monjolo, Musikongos, Rebolos, Munjolos etc... Mais tarde, a vinda dos povos de Nações Sudaneses com o seu linguajar de origem Yorùbá, a “língua geral” dos escravos, em muitos Estados do Brasil, tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras Nações existentes em nosso País. Para melhor definição do idioma Yorùbá: pertence ao grupo “Kwa” de Línguas Sudanesas e ao grupo Nígerokameruniano, compreende vários sub-grupos e dialetos, e entre os quais o “Egbá” que inclui  a Nação de Keto (Kétu) -  e a Nação de Ijexá (Ìjèsà) – e a Nação de Òyó, sendo a mesma, a Região e Cidade da Nigéria, África Ocidental, antiga Capital Política do reino de idiomas Yorùbá e a de maior importância cultural e religiosa entre os povos sudaneses; desta Nação, região e cidade vindo negros escravos com ritos próprios, subsiste até hoje no Estado do Rio Grande do Sul, assim como, povos de Nação Ewe ( evoes) também chamados de “anago” – nome dado pelos “daomeanos” aos povos que falavam o Yorùbá, tanto na Nigéria como no Daomei, Togo e arredores e que os franceses chamavam apenas de “Nagô”. Portanto, Nagô não é uma Nação Africana e sim todo os povos Sudaneses que falam o idioma Yorùbá. Com os povos africanos, vieram também os cultos religiosos de cada região de sua origem, e, que devido aos empórios de escravos e a mistura destes, e também de rituais, originaram as chamadas religiões, hoje, chamadas por muitos de afro-brasileiras, eu prefiro, chamar de africanistas. 

 

            A história nos narra, que nos navios negreiros, os cantos de lamentações e de apelações aos Orixás (Òrìsàs / Voduns) se confundiam com o barulho do mar e os açoites sofridos pelos negros. Era o maior castigo, que um ser humano poderia suportar.

            Já no Brasil, após os empórios de escravos; e, com suas convicções religiosas, levaram um bom tempo para adaptá-las ao Novo Mundo; misturando-se à religiosidade de seus patrões, aglutinando os Orixás aos Santos Católicos (sincretismo), e que também mais tarde, houve a inclusão a religiosidade do ameríndio (nativo do Brasil).

            Das sobrevivências culturais africanas no Brasil, as maiores influências inicialmente foram no Nordeste e depois se estendendo há todo o País. A contribuição da África, recebidas em nosso País, está em todas as “divindades” que recebemos “direta ou indiretamente do Povo Africano / Negro – Sudaneses (Nagô / Anago) e Bantus”.

            No Brasil, a cultura dos povos e Nações Sudanesas Africanas recebeu o nome de “Nagô” e com a inclusão da Nação Ewe (Avoes) do Daomei (Jèje) que são chamados de “Anago” e que ainda subsiste em uma pequena minoria no Estado do Rio Grande do Sul, e são chamados Nação de Jèje ou Nagò – Vodú. 

 

 

“As facções das religiões de origem Africana”

 

            Após vários estudos realizados por sociólogos, antropólogos e etnógrafos. Notou-se que a Religião e Rituais aos Òrìsàs / Voduns no Estado do Rio Grande do Sul, chamado de “Batukàjé – Batuque” venha ser, os mais idênticos aos da Religião dos Òrìsàs / Voduns “Anagos e Bantus” praticados na África. Por vários fatores, enumerando alguns: Por ter sido um dos últimos Estados, deste País, a receber escravos africanos; o rigor e rigidez de julgamento e provas as “Divindades” e de seus Rituais; julgamento de Ebós e de Feituras de Òrìsàs / Voduns através do “Emissò Kássum” (Julgamento, através da roda humana, de pessoas selecionadas que possui assentamento de “Divindades com animais com quatro patas”);  a integração universal (Natureza - Divindades) através do Ritual, em um só momento, ou seja, a representação Universal, através das Divindades no bàsá (sala / salão); após uma doutrina e feitura completa da Divindade é concedido através de provas, a liberdade de expressão das “Divindades” em língua africana e brasileira; a inexistência de luxo e deslumbramentos, através pessoas, em seus rituais; o não, poder saber de uma pessoa de que recebe (ocupar-se) uma Divindade, preservando assim o Fundamento e Rituais assim como, a própria Religião de Matriz Africana.  Assim, poderíamos citar vários fatores; mas, não é nosso objetivo desfazer os Rituais realizados em outros Estados do País, e sim, de mostrarmos as características do Batukàjé – Batuque, visto, pela maioria dos etnógrafos. 

 

 

“Sincretismo, Candomblé, Afro-Brasileiro”

 

        Subjetivo, é a mídia dizer, bem como, os desinformados que o Candomblé venha ser a maior pureza dos cultos Nagô, veja, a origem do seu próprio nome (Candomblé), e a mídia informa, como sendo, os mais tradicionais em nosso País.

            Os melhores pesquisadores das religiões afro-brasileiras e que não estão comprometidos com nem uma das facções religiosa, são unânimes em dizer que o Candomblé é uma mescla de sincretismos. Recebendo o apoio de Governos Estaduais (Bahia) e da mídia em geral, o que não ocorre em outros Estados, para fins comerciais e turísticos, chamados de folclóricos de orixás afro-brasileiros. Exemplo:  

            Na Bahia, as “Confrarias religiosas” –  os negros de Angola na “Venerável Ordem do Rosário de Nossa Senhora das Portas do Carmo”, fundada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho.

            Os Nagôs de Nação de Kétu; formaram, juntos, com a comunidade católica, duas irmandades: a) A de “Nossa Senhora da Boa Morte”, somente para mulheres. b) E outra, somente para os homens, chamada de : “Nosso Senhor dos Martírios”.

            Já os de origem de Nações Bantu, em especial, a do Congo, associaram-se nas irmandades de “São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário dos Negros Congos”, dizendo-se, ser vossa padroeira, já no cristianismo africano, por influência dos colonizadores portugueses.

 

 

“Candomblé – Origem – Funções”

 

 

            Candomblé = Tendo como a origem de Nações Bantu, do idioma kimbundo. Se originando da palavra “Kandombe” (ka = costume, uso; + ndombe =  preto, costume dos pretos), que quer dizer em africano: Dança antiga africana de Nações Bantu, sem nenhum sentido religioso na África, espécie de batuque ou batucada, com vários instrumentos, inclusive com tambores. Dando a origem da palavra Candomblé na fronteira da Argentina, Uruguai com o Brasil (RGS) como dança de escravos nas fazendas (farra africana, como nem, hoje, são as rodas de sambas). Os baianos e outros; adotaram e copiando essa terminologia de origem espanhola Sul Americana, como sendo, o termo correto a dar aos cultos afro-brasileiros. E, os mesmos, desejam induzir que os cultos/rituais baianos e outros difundidos pelos mesmos, idênticos, ou seja, cópia fiel africana, se nem o nome é original africano! Isto, mais uma vez, prova que o Batukàjé – Batuque do RGS., sendo o mais próximo aos rituais religiosos praticados na África, ao menos, não temos nomes falsos ou de origem espanhola! 

            A função do Candomblé / Afro-Brasileiro (baianos e outros). Relaciona-se ao local onde se realizam as cerimônias de certos cultos que abrange rituais de origens africanas e o sincretismo católico e indígena (nativo do brasileiro). Com relação a certos rituais, como nem, o jogo de búzios, houve muita reserva, razão porque, hoje poucos são os que têm “mão-de-jogos” (oná – ifá = mão de Ifá / Òrìsà da adivinhação e do destino = odu). Hoje, no Candomblé / Afro-Brasileiro, o “jogo de búzios”, toda ação é procedida de um oráculo já pré-estabelecido, sendo a fórmula mais fácil de aprendizado. Dando, desde a origem da pessoa até os procedimentos cotidianos, passa-se pelo diagnóstico dos problemas que afetam a vida do consulente e pela prescrição dos sacrifícios de animais, caso sejam necessários à sua solução. Usando, na maioria das vezes, a feitura de orixás, como recurso pela inexperiência de outros recursos. Possuindo um custo elevadíssimo, totalmente fora dos recursos e padrão de vida financeira dos brasileiros, sendo poucos que possuem condições de realizá-los. 

 

 

Orixás, afinal o que são? E quais são as posições ocupadas pelas divindades (Status)?

 

 

        Os Orixás (Òrìsàs) são: Os que governam, à sua discrição, a vida e o destino dos seres humanos. São caprichosos, amam e odeiam, beneficiam e castigam, curam ou perseguem com doenças, e se fazem respeitar e temer. Têm suas cores, os seus animais prediletos e suas comidas, os seus toques e as suas andanças, as suas insígnias e os seus cânticos, as suas preferências e as suas antipatias – e ai! - daqueles que, devendo-lhes obediência, os irritar!

            Embora sejam todos Orixás, há uma hierarquia poderosa e rígida em relação ao “status” – posições ocupadas pelas “Divindades”, os mais poderosos entre eles são, como na África: Òòsàálá => Oxalá (Brasil) => (ou Obàtálá / Odùdúwà); Óbara; Ògún; Oyá; Songó; Sakpatá ou Sakponã /Sapanã, também chamados de Homulú e Obaolúayé; Òsún (Oxum no Brasil); Yémonja (Yemanjá no Brasil).

 

            Superior = Deus. Olóòrun (Olórun) que, depois de ter criado o mundo, dividiu o cosmo e deu a cada Òrìsà (Orixá) um domínio sobre o qual reinar.

            Obàtálá (deus criador do homem) / Odùdúwà (deus criador, distribuidor da justiça) => filhos de Olórun que, no Brasil, receberam o nome de Oxalá (Òòsàálá).

            Óbara => Aquele que, inicia ou termina / o que abre ou fecha. Sendo o pólo oposto ao de Òòsàálá. Sem Óbara, não se vai a lugar ou chega-se em algum objetivo almejado, pois sendo, o grande mensageiro entre os homens e as Divindades. Resumindo: Sem Óbara, não se faz nada ritualisticamente. 

 

            Intermediários = Orixás com muitos elementos, constituindo-se o resultado dos extremos como, por exemplo: Ògún; Oyá;  Songó; Sakpatá ou Sakponã / Sapanã; Òsún; Yémonja e sucessores.

 

Inferiores = (Culto aos Ancestrais). Egún ou Egúngun, espíritos, almas dos mortos que retornam a Terra, dependendo das cerimônias ritualísticas. Tanto pode ser da família, como antepassados da Religião Africana, e devem ser honrados. Já o Bàbá Eégún = São espírito reencarnado de uma Ancestral, que muitos chamam, somente, de Eégún. Esse, até pode ser, o primeiro grau de algumas iniciações, que podem variar de “uma” até “sete” cerimônias, mudando em cada delas a classificação do candidato.

            Exu = Em primeiro lugar, nunca foi de origem africana e sim, hebraico e de língua palli (o que quer dizer: o inverso de Deus), pois, os negros-africanos os temem. E nem tão pouco, como sendo, mensageiros entre deus e homens, como o Candomblé o apregoa, são personagens muito controvertidos. O surgimento desta “entidade” veio com a formação de Umbanda, pertencendo, principalmente, a facção de Quimbanda, o Exu como sendo escravo direto de Caboclos e Pretos Velhos e, sendo sim, está “entidade” o verdadeiro mensageiro dos homens para “Magia Negra”, bem como, nos rituais praticados na religião primitiva Celta e outras.... Africanos, evitam Exus; porque, os temem, em vista disto, consta em seus “orins” e “oríkìs” (rezas) a presença da “entidade Exu”. E tendo como, umas das atribuições principais, os Orixás Óbaras, com a obrigação de cuidar e de evitar os Exus. Não é como muita gente pensa, que Óbara é um Exu, isso não é verdade! Eles cuidam sim, dos Exus, para não perturbarem de modo geral o negro – africano e seus Rituais. Assim como, o Orixá Oyá cuida dos Egúns.

 

            Observações: A verdadeira Doutrina dos Cultos de Religião de Matriz Africanas, e o aprendizado da mesma, por um Feitor ou Feitora, tem que ser paralelo, como nem trilhos de trem, ou seja, deve aprender todos os rituais de Orixás, assim como, cultuar seus Antepassados (Ancestrais), caso contrário, e nesses casos, os Feitores ou Feitoras, sempre, serão chamados de “pernetas” ou “manetas”! Como queiram....

 

            Como esclarecimento, muita gente não conhece ou não sabe distinguir entre “Obàtálá Odùdúwà”:

 

            Obàtálá = Nome africano de Oxalá (Òòsàálá), filho de Olórun, o Deus Supremo. Divindade às vezes masculina, às vezes hermafrodita, é o Orixá da “criação”. 

            Mitos: Olórun começou o mundo e encarregou “Obàtálá” de terminá-lo. Também fez o “homem e a mulher”, grosseiramente, de barro, e Obàtálá deu-lhes membros e feições, tendo-lhes então Olórun insuflado a vida. 

            Outro mito: Obàtálá é o único criador do primeiro casal humano, e ainda outro lhe atribui a formação da criança no ventre materno, sendo os portadores de defeitos físicos – albinos, coxos, corcundas etc... – vistos como erros seus e por isso seus protegidos, ou então um sinal de seu desagrado para com os pais.

            Devemos externar que seus fieis usam roupas brancas e comem só comidas brancas e manteiga vegetal (ori) que é branca, em lugar do óleo de dendê, vermelho. Também como os caracóis comestíveis ìgbín (conhecido no Brasil por “ebi”) são lhe oferecidos. Seus filhos usam colares brancos e são proibidos de beber vinho de palmeira e de se alimentar com alimentos contendo sal. 

            Importante: Deve constar em seu assentamento, entre outros objetos de seu culto “os bolos redondos de pembas (cal)” – nome africano => “sésé efun”; é sua arma de encantar.

            Título: Chamado de “Òrìsàálá (e no Brasil de Orixalá), cuja contração deu Oxalá (Òòsàálá), sendo seu nome chamado no Brasil.“Obàtálá” => deus criador do homem.  

 

 

            Odùdúwà: Orixá de origem dos povos sudaneses (nagô), ora masculino, ora feminino. Irmão de “Obàtálá” => Òòsàálá (Oxalá), esposa deste, simbolizando a “mãe terra” e Obàtálá o “céu”. Esta união é simbolizada por dois objetos formando uma bola (o Universo) que contém a vida e deve constar, dentro de um “Ilé”, e que traz prosperidade ao mesmo, sendo um “eró”, sendo proibido sua divulgação, só pode dar-se aquém têm àse (axé).

            Mito:Como irmão de Obàtálá, Odùdúwà, segundo os mitos, criou o mundo no lugar de seu irmão que dormia, em vez de cumprir a tarefa que lhe dera Olórun, embriagado pelo demasiado vinho de palmeira que bebera (razão pela qual esse vinho de palmeira, bem como, o óleo de dendê é proibido aos filhos de Obàtála / Òòsàála / Oxalá).

            Odùdúwà, ascendente dos povos Nagô, por seu filho “Òron Yòn” (pronunciando-se no Brasil como: Oranhiã) => deus progenitor dos povos Nagô (Nações Sudaneses Africanas). Seu nome verdadeiro era “Odé-dé” (caçador-chegado), dá longa vida, e aos anciãos honoráveis (africanos) que possuem um desses (símbolos) em sua casa (Ilé) abrem-na quando desejam morrer. É bom que se diga, no Brasil, de modo geral não é cultuado, ou seja, não existe culto e muito pouco lembrada. Porque, seu culto sempre se constitui, baseados, em grandes segredos africanos. Conhecemos alguns, mas nem todos! Por exemplo: Na Nação de Òyó (Pelotas – RS., e arredores) usa-se ou usava-se como Orixá de frente. Empregando-se o “awo eró” (segredos secretos). Odùdúwà => odù = cabaça para o àgbo + du = jorrou + wà = existe (cabaça [porongo] de onde jorrou a vida).Tendo sua atribuição como: Criador, distribuidor da justiça, neste Mundo.

 

            Observação: Após está explanação ou de ter elucidado, os Orixás acima, com certeza, terá a preferência, homossexualismo, isto será lamentável. Desejo deixar claro, que não existe e nem deve existir comparações com os mitos de Orixás à personalidade ou escolha sexual de cada ser humano.  

 

 

“Predominantes nos Cultos/Rituais Africanistas”

 

 

        Os aspectos predominantes nos Cultos/Rituais Africanistas são leitura de “búzios”; linguagem específica; de uso junto às “divindades” e de costumes africanos ou de africanistas (Brasil). Outros rituais, e de facções umbandistas/quimbandistas, bem como, madames que colocam cartas, todos são embuste à leitura de “búzios”, assim como, até africanistas pára-quedistas de cidade em cidade ou tenda em tenda à cata de clientes. Os africanistas só podem ler seus búzios em seu Ilé (Casa) e perante aos seus Orixás, caso contrário, é duvidoso ou logro, também são chamados de embusteiros.

            Como também, são predominante e belo, as oferendas de frutas; flores; comidas de origem africanas e o respeitoso voto de sacralização de animais aos Orixás, sendo uma obrigação milenar, oriundo primitivo africano.

            Vestuário de acordo com os Orixás (ornamentos, guias, cores, etc...), altar das Divindades; cerimônias públicas para diversos fins, inclusive para apresentação dos futuros seguidores; diversos instrumentos musicais primitivos e específicos.

            Os Orixás, nos rituais e cultos africanistas, têm como predominante o seu grande repositório, dominando mar; céu; terra; cachoeiras; rios e o homem, bem como, todas as forças cósmicas do Universo. Têm suas preferências pela natureza, roupagem simples, cor, flores, grutas, nascentes, animais, dias, instrumentos de guerra e musicais, melodias e ritmos.

            Em suas “lendas”, há tipos que se apresentam como figuras com características humanas como, por exemplo: Oyá; Yémonja; Òsún; Nanã; Ògún; Songó e Òòsàálá, significando, respectivamente, a mulher lutadora, a dona das águas do mar, a dos rios e cachoeiras, a mais velha, o guerreiro, como sendo o ministro da guerra, o julgador, justiceiro e também guerreiro e por fim o sábio experimentado.

            Feitura - para não deixar dúvidas para muitas pessoas, com relação à feitura de Orixás pessoal. As pessoas, em sua maioria, só têm dois Orixás; mas, há possibilidade de até três, a fim de equilibrar a personalidade e a individualidade, caso contrário é piada! Ou, outros interesses, como financeiros etc... 

            O Orixá de cabeça (Olórí) e o de frente / corpo (Eléèdá ou Eléèmí => Orixá protetor pessoal). Mas não é muito fácil compreender, devemos ir analisando vários fatores, após um estudo mais apurado e de confirmações com outros Feitores, dá-se melhores informações sobre os Orixás de cada um (pessoal).

 

 

“Umbanda”

 

 

        Pode-se dizer, hoje, como sendo, uma das religiões dos brasileiros. Tomando o significado geral da religião dos negros do Rio de Janeiro e também como em outros Estados do País.

            É a religião, dos cultos de ancestrais (Egúns com luz), de caboclos, boiadeiros, pretos – velhos, certas falanges de ciganos, marinheiros e crianças, bem como, de escravos e subordinados aos demais, já citados, são os exus e também a exu fêmea (pomba-gira), destes nascendo a “quimbanda”, sendo esta, um dos caminhos, para tão chamada de “Magia-Negra brasileira”. É bom ressaltar, que este culto e ritual de quimbanda, nada tem haver com as doutrinas de cultos/rituais praticados pelos africanistas ou como chamados por muitos de afro-brasileiro.

            Uma das diferenças existente e básica entre a Umbanda e com as demais, religiões de matriz africana, encontra-se (diferença) na doutrina de uma e de outra, bem como, também na concepção sacral e na explicação da experiência de mediunidade. A Umbanda, não deixa de ser um culto como os africanos intitulam, para Bàbá Eégún (Egúns com luz => Guias [caboclos; pretos velhos, etc...]). Já na tradição africana, é o Orixá (Òrìsà) que toma o corpo dos filhos de Orixás (omoòrìsàs); ao passo que, a Umbanda, é o espírito desencarnado de um ancestral ou antepassado que se manifesta no médium. Possuindo um linguajar bem diferente e misturando várias línguas, ou seja, falam através da matéria do médium. Ao passo que, em alguns rituais de origens africanos, principalmente, no Candomblé, o Orixá “não fala e nem canta, mas sussurra e grita”; porque, não existe no Candomblé (de forma geral) uma doutrina, assim como, de ensinamento do linguajar (idiomas) africano aos seus sacerdotes, e extensivo aos adeptos religiosos.

É bom, esclarecer, que no “Batukàjé” (batuque – RS.), em seu início, havia uma doutrina do linguajar africano, tanto de Nagô, Anago e Bantu e, com o tempo foi se perdendo e agravou-se na década de 60, pela discriminação racial nos USA. Isto, vindo a repercutir nos afro-descendentes, da época e até os dias de hoje, no Rio Grande do Sul e, os mesmos, passaram obliterar o linguajar africano em troca da língua oficial do País, em suas comunicações diárias; mas, ainda existe, pouco é verdade, não com a mesma intensidade do passado, nos cultos/rituais religioso. O linguajar africano, que aos poucos, estamos resgatando, principalmente, o idioma yorùbá.

            A Umbanda tradicional ou de antigamente baseava-se nos ensinamentos dos orixás, dos guias e protetores, cuja essência era fornada pelo ABCDEF, como sendo a sigla representativa de amor; bondade; caridade; desprendimento; evolução e fé, tanto que seus rituais e trabalhos sérios não tiravam o caráter benevolente para com as pessoas.

            Hoje, como a Umbanda cruzada ou também chamada de popular, e com o desenvolvimento de Quimbanda em nosso País, devido, as facilidades e influência de drogas e vícios existentes, a mesma, vem soterrando a própria Umbanda e demais religiões de matriz africanas em nosso País, na conquista de novos adeptos religiosos.

            A base dos aspectos predominantes de Umbanda tradicional em no País, são rituais de várias origens; roupas simples e brancas; imagens de santos católicos; pretos-velhos; caboclos e índios; desenvolvimento de doutrinas umbandistas ao médium, através de freqüência permanente e de acordo com sua capacidade mental e espiritual, atinge graus ascendentes; com o auxílio dos palmeados e de instrumentos simples e rústicos. Cultuando às vezes, alguns orixás de origem africana e instrumentos como tambores e outros, sendo esta, chamada de popular ou cruzada. 

            O nome de Umbanda de Linha Branca é dado quando somente há magia branca, ou seja, elevação espiritual e mediúnica, não se utilizando a Linha da Esquerda (Preta) que trabalha com exus, praticando o mal, praticados por pessoas nódoas e sem escrúpulos e sendo escroques. Notificando, que vem nulificando a sublime, Umbanda tradicional. Desejo notificar; que ambas não têm nexo aos Cultos/Rituais Africanistas. Que a sociedade brasileira realiza sua judicatura envolvendo todas em uma só religião.

            É de bom alvitre dizer que a Umbanda tradicional trabalha para a evolução espiritual; mental e mediúnica dos vivos. No século XXI, existe a necessidades de elucidar e de externar ao ser humano as facções de escroques existentes em nosso meio, confundindo o leigo. Em breve, a tendência é de unir as facções religiosas que trabalham para o bem e a evolução do homem.Temos que buscar na formação intelectual de cada pessoa e suas aptidões, sendo importante, para feitura de futuros sacerdotes. Já que a Umbanda não é um culto, mas sim uma religião popular. Caso contrário, será um niilismo para as religiões populares neste País.

            A principal finalidade de Umbanda seria o serviço aos espíritos humanos “encarnados ou desencarnados”, seja por meio da doutrinação ou do auxílio espiritual, se destacando nas dificuldades materiais e morais, alívio ou cura de doenças.  

 

 

 

“O Sincretismo”

 

 

            Com a dificuldade dos africanos cultuarem seus costumes religiosos na nova Terra, optaram por fazer uma aproximação dos santos católicos aos Orixás, por eles, cultuados na África-Negra. Tornando-se assim, mais compreensível os usos e costumes dos escravos pelos seus patrões e representantes da Igreja Católica; mas, mesmo assim, com a perseguição e discriminação de muitos.

            Assim, os escravos, embora “convertidos” ao catolicismo (cristianismo), continuavam a praticar seus rituais, com muitas restrições, em idiomas de origens de sua Nação - África-Negra.

            É bom que se diga; as relações que os escravos faziam entre o Orixá e o Santo Católico eram interessantes e com muita esperteza, como por exemplo: Entre muitas, as comparações feitas, entre Ògún e São Jorge; Xapanã / Sakpatá e São Lazaro / São Roque; sendo este Orixá, o deus da varíola e, o santo tem o corpo coberto de feridas. Observação: Na verdade, o sincretismo nos leva apenas a comparações, havendo na conversão dos negros-escravos-africanos e seguido até pouco tempo por alguns afro-descentes ao catolicismo uma grande ilusão de catequese.  Hoje, lutamos para desfazer esse sincretismo; mas, o leigo insiste em mantê-lo! O sincretismo, criado na época como fuga ou disfarce, para o negro-africano poder cultuar seus rituais religiosos de origem. Hoje, não existe mais a necessidade, embora, ainda exista a discriminação religiosa neste País, principalmente, em um Estado como nem o Rio Grande do Sul, sendo colonizado, em sua maioria por povos de origens européias.  

            As religiões de matriz africana tiveram no Brasil, em seu princípio e até os dias de hoje, existindo perseguições e discriminações, embora, tenha um vasto campo de proliferação e sendo muito fácil, e como ainda sendo utilizado, por muitos, do sincretismo permanente. Embora, não exista mais essa necessidade. Assim, iremos encontrar no País: 

 

            Candomblé = Nome falso das origens dos negros-africanos, sendo de origem espanhola (Argentina / Uruguai). Se fosse o nome africano, seria então “kandombe” do idioma Bantu, dialeto Kimbundo => (costume dos pretos) dança sem fins religiosos na África-Negra. A prova do que o sincretismo está no próprio “Candomblé”, é só notarmos as “Confrarias religiosas na Bahia”. Aos leigos ou desinformados, o Candomblé se diz o núncio das verdadeiras religiões de matriz africana, estão nefando. 

 

            Bàbásuê = No Pará e Piauí, tendo fluência da Casa Grande das Minas (Jèje).

 

            Tambor = Chamado de Tambor de Mina ou de Nagô. Culto de ritual “daomeano” principalmente no Estado do Maranhão.

 

            Xangô = Nome usado por leigos para designar os cultos de matriz africana  em Recife e nas Alagoas. 

 

            Macumba = Nome dos Cultos afro-brasileiros, do Estado do Rio de Janeiro.

 

            Catimbó = Nome dos Cultos relacionado à pajelança, com várias procedências. Muito comum no Nordeste Brasileiro.

 

            Batukàjé = Nome original do idioma Bantu, dialeto Kimbundo. Passando a chamar-se; genericamente, ou de forma geral de “Batuque” no Estado do Rio Grande do Sul. Sendo este o Estado, um dos últimos a introduzir os serviços de escravos negros. E, em princípio, a maioria de escravos-negros de origem, de povos, sudaneses e depois os póstero escravos-negros, os de origem de povos Bantu, os quais, deram o nome dos Cultos e Rituais Religiosos de Matriz Africana no Rio Grande do Sul. Possuindo hoje, em nosso País, os rituais mais semelhantes e tradicionais existentes da África-Mãe. Mas, também existe, entre muitos, Africanistas o sincretismo, devido, há várias influências, perseguições e discriminações.  

 

            Por fim, devo elucidar para todos, que as Religiões de Matriz Africanas, de modo geral, encontram-se muito modificadas de seu princípio em nosso País, sofrendo grandes alterações no seu “Fundamento” e principalmente, em seus Cultos/Rituais a passo largo. Devido, a má preparação, hoje, dos futuros Bàbálóòrìsàs e Iyálóòrìsàs está comprometendo a continuação dos usos e costumes das tradicionais Religiões de Matriz Africana, sendo que as pessoas menos avisadas passam a adotar as deturpações através da persuasão dos sofisticados “Feitores de Orixás” que não têm qualquer preparo, negaceando e nocivo ao “Fundamento” e dos Rituais de Matriz Africana; aplicando um neologismo e niilismo do “Fundamento e Rituais”, fazendo de seus adeptos os néscios das Religiões de Origem Africana, visando sim, dos mesmos, somente o lado financeiro. O que acaba prejudicando as demais manifestações nobres e religiosas existentes em nossa Comunidade, Estado e País. Pois, a luta para neutralizar os falsos feitores é grande; mas, o leigo ignora esse fato. Cuidado! Com aquele ou aqueles que realizam vários rituais!!! Será que ele ou eles sabem realizarem um ritual por inteiro!? Cuidado, você poderá ser cobaia dos feitores escroques!

 

 

“Esclarecimento”

O que é Nagô – Anago – Bantu?

 

Tenho observado, erros cometidos por africanistas, assim como, de simpatizantes das Religiões de Matriz Africana, com relação ao emprego da palavra “Nagô”!

                                                                  “Nagô”

 

            Devemos iluminar há todos; que a palavra “Nagô” não significa uma Nação ou Reino Africano, e sim, sendo uma denominação dada pelos “franceses” aos povos africanos sudaneses que compreende as Nações: de Òyó; de Ijèsà; e de Kétu, todas elas de “Idiomas Yorùbá” que pertence aos grupos “Kwa ou Nígerokameruniano” de Línguas Africanas Sudanesas. Que também compreende vários sub-grupos e dialetos, entre os quais o “Egbá” – que inclui a Nações de Kétu e Ijèsà. Portanto, “Nagô” quer dizer; várias Nações Sudanesas Africanas, entre as quais, existem seus costumes e rituais religiosos.

            Devido, aos “empórios de escravos no Brasil” e a misturas de crenças, costumes e práticas religiosas destes povos sudaneses africanos, chamados de negros Yorùbás. Também, deu-se, o mesmo, nome no Brasil, como nem os franceses, de “Nagô”. A religião que trouxeram estava poderosamente plantada na sua Terra Natal, servindo de modelo para outras Nações Africanas, onde nasceu o termo de “Anago”, formando-se com o Nagô mais as religiões das áreas vizinhas, e mais particurlarmente entre os povos “Ewes” (Evoes), conhecidos no Brasil como povo Jèje, os mesmos, são vizinhos dos Nagôs na África. Têm as mesmas divindades, mas com nomes diferentes, que conservam em oclusão. Uma das principais característica das “Casas de Cultos (Jèje) é a presença de “Dã”, serpente não venenosa, companheira de todos os voduns (divindades). Já na África, como a religião andava de mãos dadas com o poder civil, também a realeza, nos territórios de leste e a oeste, seguia os padrões “Nagôs”, com seus “reis” pagando tributo, real ou simbólico ao soberano Reino de Òyó. Sendo a Nação de Òyó, a principal Nação Sudanesa Africana (Nagô), tanto na África como no Brasil, devido, o “Fundamento e seus Rituais religiosos” em todos eles, existindo a lógica entre o Fundamento e os Rituais, por eles praticados.

 

“Anago”

 

            Como já citei acima como se formou o “Anago” na África. Aqui no Brasil, damos, o mesmo, exemplo no início das Nações Religiosas Africanistas do Rio Grande do Sul e, em outros Estados do País. A princípio, no Rio Grande do Sul eram a maioria, hoje, já predominando os de Nações de Bantu (por exemplo: Kabinda). Devido, a facilidade nas feituras de adeptos, dando-se aproliferação desta Nação em nosso Estado.

            O “Anago”, é bom sempre esclarecer, que são as Nações Sudanesas (de Òyó; Ijèsà; Kétu) e mais a Nação de Ewe (Evoes), dita de Nação Jèje; o “Anago” também chamado no Brasil de “Nagô-Vodú” ou “Nagô – Jèje” => formou-se com a únião do povo Nagô com Ewe (evoe) Língua da África Ocidental, falada em parte da região da antiga Costa do Ouro (atual Gana), Rio Volta, Togo e Daomei (atual República Popular do Benin). Tem vários grupos dialetais e dialetos, como Ewe propriamente dito, “Fon” (Jèje do Dahomey); “Mina” (anexo, Popo, etc...); “Anlo”; “Inland”; “Fantis”; “Esantis”; “Camarões”; “Gabões”; habitantes da “Costa”, “Hauças”; “Maometanos”, etc... 

            Devemos ressaltar, para fins de “religião” – “Fundamento e Rituais”- e para formar-se o “Anago” pode ser uma só ou mais Nações Sudanesas acresentando-se mais a Nação de Jèje. 

            Ewe (Evoes) =>língua que pertence ao Grupo Kwa, foi falada juntamente com a Língua Yorùbá, no Brasil, pelos escravos vindos dessas regiões, especialmente os Dahomey => que tiveram o nome geral de Jèje. Embora tivessem sido muito influenciados pelos povos Nagô, deixaram algumas palavras, bem como, alguns rituais nos cultos religiosos e também certos dialetos ainda são falados por um ou por outro, em certas Nações de origem Jèje que exitem no Brasil, mas com a predominancia do Nagô (Yorùbá). É bom que se diga:

            Entre os demais, os Nagôs sempre exerceram, do ponto-de-vista religioso, uma grande e inconstestada supremácia, devido, ao grande Reinado de Òyó na África, com relação a toda cultura religiosa africana, inclusive sobre aos povos Bantus, menos cultos aos costumes religiosos na África.

 

 

“Bantu”

 

            É um Grupo ligüístico, chamado no Brasil de povos “Banto”, compreendendo milhões de africanos, com inúmeras línguas e quase 300 dialetos, possuindo aproximadamente 2/3 da África Negra.

A população escrava, vinda para o Brasil, era formada quase que totalmente dos negros de origem “Bantu”, e principalmente, os negros de “Angola” e “Congo”. Os escravos aqui chamados de: Banquelas ou Bangalas; Rebolos; Munjolos ou Monjolos; Makuas; Musikongos; Moçambiques; Kabinda, está última se destacando no Sul do País, (onde, juntamente com a Nação de Òyó, vinda em primeiro lugar ao Estado – RS.). Mas, eram poucos escravos, os procedentes das colônias portuguêsas de Moçambiques e da Guiné, vindos para o Brasil.

            No momento da chegada dos “Nagôs”, um século e meio, já de escravidão no Brasil, os negros escravos existentes de origem Bantu, já haviam sido desafricanizados e apagando os seus costumes, as suas crenças religiosas, as suas línguas nacionais. A maioria dos escravos Bantus no Brasil, esse Grupo, e cujas línguas, Kimbundo e Kikongo, entre outras, são as que mais termos deixaram em nossa linguagem religiosa atual. Quanto aos costumes religiosos, associaram-se ou mesclaram-se com as demais, principalmente, no Rio Grande do Sul. O importante foi o nome dado pelo povo Bantu aos Cultos Religiosos do Rio Grande do Sul => do Batukàjé, que no passar dos tempos, originou o nome popular de Batuque dos gaúchos.

            Como também devemos elucidar, pelos estudos até hoje realizados. Na África, os povos Bantus, houve tempo em que os de Nação de Angola (do Congo ou Kongo, Kabindas e Banguelas, inclusive) jamais passaram do nível de gênios ou demiurgos; a colonização portuguesa interrompeu o processo natural de codificação de crenças e práticas e, portanto, do surgimento de ordens sacerdotais; seminômades em grande parte, os negros de Nação de Angola e outras de povos Bantus, teriam os seus lugares de oração, mas não em templos. Tudo isto, os esperava, porém, no Brasil, graças aos Nagôs e Anagos. Tendo aceito a nova religião, como o fez toda a massa escrava, Kabindas, Banguelas, Rebolos e outros, reinterpretarem o modelo recebido pelos Nagôs e Anagos, fazendo aproximações entre as suas “divindades (do povo Bantus)” e as dos Nagôs e Anagos, adaptando aos seus costumes o ritual (muito rígido e mesmo hierático entre os Nagôs / Anagos, mais livre entre os povos Bantus).

 

            É de bom alvitre dizer: Os três tipos de Religiões de Matriz Africanas realizadas em nosso País, ligam-se, em geral, entre si, elementos socialmente acomodados de emprego, de situação familiar estável, capazes de satisfazer as “Obrigações Religiosas” individuais e de acorrer às necessidades sociais das “Casas de Cultos Religiosos de Origem Africanas”.

Neste texto apresento alguns tópicos relativos às religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Sul (RS) que contemplam ao mesmo tempo uma visão histórica e atual, com ênfase nas suas características que mais se destacam na atualidade.

Inicio com dados historiográficos sobre o ingresso do negro escravo no RS e sobre a estruturação do Batuque. Discorro então sobre os distintos "lados" desta religião ao mesmo tempo em que aponto alguns aspectos históricos e especificidades da Umbanda e da Linha Cruzada neste estado. Em seguida, me atenho a um personagem legendário do campo afro-gaúcho, um príncipe africano que residiu neste estado a partir de 1899 e aqui faleceu em 1935. Na seqüência, discorro sobre três importantes características atuais do campo religioso afro-gaúcho, a saber: a presença de "brancos" nas religiões de matriz africana; a transnacionalização do batuque e demais religiões afro-brasileiras para os países do Prata; e a aproximação dessas religiões no campo político estadual e municipal, sem, porém, ocorrer o ingresso efetivo na esfera política, como fazem, por exemplo, os evangélicos.

 

Os Negros e as Religiões Afro-Brasileiras no Rio Grande do Sul

Os negros africanos e seus descendentes participaram diretamente do desenvolvimento econômico dos dois primeiros séculos da história do Rio Grande do Sul. Segundo Beatriz Loner, "praticamente não houve profissão manual que não tivesse representantes dessa etnia em seu desempenho, tanto no período imperial quanto na República" (Loner, 1999:9). O mesmo, como se sabe, ocorreu nas demais capitanias e províncias do Brasil onde, como diz Prandi, os escravos africanos "foram sendo introduzidos [...] num fluxo que corresponde ponto por ponto à própria história da economia brasileira" (Prandi, 2000:52).1

O marco inaugurador do Rio Grande do Sul é a fundação do Forte de Jesus, Maria e José, na Barra de Rio Grande, no ano de 1737, pelo brigadeiro José da Silva Paes, em cuja tropa, formada por 260 homens, havia escravos e negros libertos.

A historiografia do Rio Grande do Sul ainda se debate em torno da questão de saber a procedência do negro escravo trazido para este estado. Há, no entanto, algum consenso de que essa população se dividia entre negros "crioulos", ou seja, indivíduos nascidos no Brasil e para aqui transferidos, "ladinos", isto é, indivíduos que já haviam trabalhado em outras regiões do país, e africanos, aqui chegados após terem passado por algumas regiões brasileiras, entre elas, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, e mesmo africanos que chegaram ao Rio Grande do Sul provenientes da Argentina e do Uruguai. A título de exemplo, um levantamento realizado junto aos Inventários da Freguesia de Pelotas, no período compreendido entre 1850 e 1880, mostrou que num universo de 1.604 escravos, 460 eram crioulos, 556 indeterminados e 590 africanos (Assumpção, 1990). Estes últimos, por sua vez, dividiam-se em diferentes nações ou grupos tribais. Por exemplo, por ocasião das comemorações da Abolição, desfilaram em Pelotas os "Filhos de Angola, Mina, Benguela, Erubé, Congo e Cabinda..." (Jornal Echo do Sul, 10/6/1888 apud Loner, 1999:8).2Seja como for, no Rio Grande do Sul "os banto vieram em número muito superior aos sudaneses" (Correa, 1998a:66).

A introdução do escravo no RS ocorreu a partir da primeira metade do século XVIII. Trabalhavam na agricultura, nas estâncias e, sobretudo a partir de 1780, na produção do charque, na região de Pelotas. Segundo Correa, os negros compunham cerca de 30% da população da Província em 1780, e 40% do total em 1814. Nesta data, os negros perfazem cerca de 51% da população de Piratini e 60% de Pelotas (ibidem:65-66). Porém, com o início da chegada dos colonos alemães em 1824 e dos italianos em 1875, verifica-se um aumento da população branca e uma redução na porcentagem da população negra em território gaúcho.

A produção das charqueadas — executadas pelo trabalho braçal escravo em condições bastante desfavoráveis em razão das condições climáticas, precariedade de infra-estrutura e exigências severas ditadas pelo próprio regime escravocrata — foi de tal monta que em 1861 o charque contribuía com 37,7% do total do que o RS exportava e os couros com 37,2% do total, juntos somando 74,9% do total da produção gaúcha para fora da Província (Assumpção, 1990). A relação entre o trabalho forçado dos negros e o desenvolvimento das charqueadas era tal que na medida em que se aproximava a Abolição também diminuiu o número de charqueadas. Assim, referindo-se a Pelotas, Loner lembra que "de um total de 34 charqueadas existentes em 1878 na cidade, elas reduziram-se a apenas 21 às vésperas da Abolição e a 18, dois anos depois" (Loner, 2001:7), ocasionando a diminuição do charque que servia de alimento dos escravos do sudeste e desta forma acarretando problemas no mercado de consumo deste produto.

A estruturação do batuque no Rio Grande do Sul constitui outro tema que aguarda um aprofundamento investigativo. Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados justamente na região de Rio Grande e Pelotas. Para o historiador Marco Antônio Lirio de Mello — que fez uma ampla pesquisa nos jornais de Pelotas e Rio Grande do século XIX — a presença do batuque é atestada nesta região desde o início do século XIX (Mello, 1995). Também Correa situa o período inicial do batuque nesta região entre os anos de 1833 e 1859 (Correa, 1988a:69). Se assim for, permanece a dúvida de se saber se a estruturação do batuque ocorreu posteriormente ou paralelamente à estruturação do candomblé, uma vez que o primeiro terreiro de candomblé teria surgido na Bahia no ano de 1830 (Jensen, 2001:2). Aliás, a mesma dúvida M. Herskovits havia levantado em 1942, por ocasião de uma "rápida viagem" pelo Rio Grande do Sul (Herskovits, 1948).3

No entanto, a partir das décadas de 70 e 80 do mesmo século, os jornais dessa região apresentam, com alguma regularidade, em suas páginas policiais, matérias sobre cultos de matriz africana. De fato, nos jornais Correio Mercantil e Jornal do Comércio, de Pelotas, bem como no jornal Gazeta Mercantil de Rio Grande, pode-se ler notícias, infelizmente as mais recorrentes sendo de prisão de "feiticeiros" e "feiticeiras", como esta:

Foram presas à ordem da delegacia, duas pretas feiticeiras que atraíam grande ajuntamento de seus adeptos. Na ocasião de serem presas, encontrou-se-lhes um santo e uma vela, instrumento de seus trabalhos [...]". (Jornal do Comércio, Pelotas, 9/4/1878, p. 2 apud Mello, 1995:26)

Quanto ao mito fundador do batuque, há duas versões correntes: uma que afirma ter sido o mesmo trazido para esta região por uma escrava, vinda diretamente de Recife; e outra que não associa a um personagem, mas às etnias africanas que o estruturaram enquanto espaço de resistência simbólica à escravidão.

Já as notícias relativas ao batuque em Porto Alegre4 datam, preferencialmente, da segunda metade do século XIX, isto sugerindo que ou sua origem, ou, o que é mais provável, o seu incremento pode ter ocorrido com a migração de escravos e ex-escravos da região de Pelotas e Rio Grande para a capital. Novamente, as principais fontes de referência são os jornais que reportam ações policiais contra os terreiros. Lilian Schwarcz transcreve, por exemplo, reportagem do Correio Paulistano, de 30/11/1879, intitulada "Os feiticeiros do RS — Grande Caçada". Diz a reportagem:

a polícia tomou ontem em uma casa 42 pretos livres e escravos e 11 pretos minas. A caçada deu-se às 10h30 da noite no momento em que o preto João celebrava uma sessão de feitiçaria. Foi uma surpresa e um desapontamento que aqueles fiéis crentes jamais perdoarão a polícia [...]. A polícia apreendeu cabeças de galo e outros manipansos. Os principais atores da indecente comédia foram recolhidos à cadeia e os escravos castigados. (Schwarcz, 1989:126, ênfases minhas)

Inútil dizer que as perseguições aos terreiros não deixam de expressar um certo medo branco diante do poder de manipulação das forças sobrenaturais por parte dos escravos e seus descendentes. Obviamente que a perseguição era sempre precedida de um conjunto de estigmas lançados sobre essas religiões, visando justificar aquele procedimento.

Em Porto Alegre, a partir da segunda metade do século XIX, o maior contingente de negros se encontrava nas cercanias da cidade, no Areal da Baronesa, na cidade baixa, imediações da atual Rua Lima e Silva,5 e nas chamadas Colônia Africana e "Bacia", atuais bairros Bonfim, Mont Serrat e Rio Branco.6 Estas últimas tratavam-se, em sua origem ("em torno da época da abolição"), de uma "zona insalubre, localizada nas bordas de chácaras e propriedades que ali existiam, de baixa valorização e de pouco interesse imediato para seus donos, que foi sendo ocupada por escravos recém-emancipados" (Kersting, 1998:111).7

Kersting mostra como, sobre essas áreas, foram criadas representações que as associavam a criminalidade, vícios, perigo, e seus habitantes tidos como membros de "classes perigosas". Por isto mesmo, essas áreas foram deixadas a um relativo isolamento por parte das autoridades públicas e, ao longo das décadas do século passado, foram dissolvidas mediante um processo de "higienização urbana".8 Evidentemente que por trás desta atitude existiam interesses imobiliários de ocupação dessas áreas da cidade para "modernizá-las", o que começou a ocorrer ainda nas primeiras décadas do século XX, com o processo de branqueamento da população, simultaneamente à abertura de ruas e de construções em padrões arquitetônicos não populares. Por exemplo, parte da Colônia Africana começa a receber iluminação elétrica em 1911, algumas ruas são asfaltadas em 1912 e neste momento prevê-se também a construção de uma rede de esgotos. Reitero que esse processo de urbanização consiste fundamentalmente na descaracterização como área essencialmente negra "até se transformar em bairro saneado que se vê em 1922" (ibidem:195). Este autor informa que a maioria dos não-negros que fixam residência na ex-Colônia Africana são judeus, enquanto os negros são expulsos para áreas mais periféricas e ainda desabitadas, como o bairro Mont Serrat, destino primeiro dos exilados da Colônia Africana e onde algumas famílias conseguiram estabelecer moradia até os dias de hoje.9

Simultaneamente a esse processo de modernização, justamente em 1912 a Colônia Africana passa a ser um bairro chamado Rio Branco. Embora seja uma homenagem ao Barão do Rio Branco, não deixa de ser irônico que um território anteriormente denominado Colônia Africana, em razão da presença maciça de negros, seja chamado de Rio Branco, caracterizando o predomínio de não-negros nesta área.

Há relatos da prática de cultos afro-brasileiros em todos os territórios negros referidos. Relativamente à Colônia Africana, por exemplo, o primeiro sacerdote da igreja de Nossa Senhora da Piedade, concluída e inaugurada nesta área em 1913, cônego Matias Wagner, "aponta para a presença desses cultos e para o fraco número de católicos realmente fiéis" (ibidem:184). Assim, em seu livro "Paróquia de N. S. da Piedade de Porto Alegre:1916-1958", o referido cônego escreve: "Encontrei certa vez um homem que, dizendo-se muito católico, apostólico e romano, era também dono e Pai Santo de uma casa de batuque..." (apud Kersting, idem:186). O mesmo cônego refere também que foi alvo de despachos de "parte daquela gente de Umbanda". Aliás, o pároco se refere às religiões afro-brasileiras pelos nomes de batuque, umbanda e espiritismo e, mais genericamente, pelos termos etnocêntricos e preconceituosos de crendices, superstições e feitiçarias.

No contexto das lacunas históricas sobre as religiões afro-brasileiras no Rio Grande do Sul figuram também dados estatísticos sobre os terreiros deste estado. Dispomos unicamente de informações parciais sobre o número de terreiros de batuque para Porto Alegre, durante 20 anos, de 1937 a 1952, apresentados por Carlos Krebs (1988:16).

Tais dados constam das estatísticas oficiais do Rio Grande do Sul, tendo o censo sobre a religião sido abandonado em 1952. Malgrado sua precariedade, pode-se perceber um crescimento quase que anual do número de terreiros em Porto Alegre, fato este que continua, segundo dirigentes de federações, até os dias de hoje, onde existem, no seu conjunto, cerca de dois mil terreiros na capital gaúcha.

 

 

O Batuque

Batuque é um termo genérico aplicado aos ritmos produzidos à base da percussão por freqüentadores de cultos cujos elementos mitológicos, axiológicos, lingüísticos e ritualísticos são de origem africana. O batuque é uma religião que cultua doze orixás10 e divide-se em "lados" ou "nações", tendo sido, historicamente, as mais importantes as seguintes: Oyó, tida como a mais antiga do estado, mas tendo hoje aqui poucos representantes e divulgadores; Jeje, cujo maior divulgador no Rio Grande do Sul foi o Príncipe Custódio, sobre o qual falaremos mais abaixo; Ijexá, Cabinda e Nagô, são outras nações de destaque neste estado. Nota-se que o Keto esteve historicamente ausente no RS, vindo somente nos últimos anos a se integrar por meio do candomblé.

Vejamos alguns dados disponíveis sobre as mencionadas nações neste estado:

OYÓ. Segundo a tradição local, esta nação chegou a Porto Alegre vindo da cidade de Rio Grande. Foi cultuada no Areal da Baronesa e dali no Mont Serrat onde se situaram as principais casas deste culto.

M. Herskovits e R. Bastide, por ocasião de suas estadas em Porto Alegre, o primeiro em julho de 1942 e o segundo em 1944, referem-se carinhosamente à Mãe Andrezza Ferreira da Silva, da nação Oyó que, segundo Bastide, "formara-se com um velho babalorixá que ainda tinha à sua volta alguns africanos nativos" (Bastide, 1959:238). Segundo Carlos Krebs, Mãe Andrezza teria vivido de 1882 a 1951 (Krebs, 1988).

Hoje, como disse acima, trata-se de um culto praticamente em extinção, restando algumas poucas casas no estado. Segundo Pernambuco Nogueira,

[...] o último nome da antiguidade da nação Oyó que conhecemos foi Tim do Ogum, já falecido, e que foi o iniciador da Delsa do Ogum, casa ainda em atividade. Além deste vamos encontrar o Antoninho da Oxum e sua filha-de-santo a Moça da Oxum (Lídia Gonçalves da Rocha), como nomes de projeção. Distinguiu-se entre os praticantes do Oyó a figura de Fábio da Oxum quer pela beleza e suavidade do orixá que recebia, quer pelo fato de ter sido um dos raros pais-de-santo que não vivia da Religião (Nogueira, 2001b).

As especificidades da nação Oyó residiam, sobretudo, na ordem das rezas, uma vez que chamavam primeiro os orixás masculinos e a seguir os femininos, encerrando-se com as de Yansã (Oiá), Xangô e finalmente Oxalá, o destaque para os dois orixás resultando do fato de serem o Rei e a Rainha de Oyó. Também era próprio da nação Oyó os orixás conduzirem em suas bocas, ao término das obrigações, as cabeças dos animais oferecidos em sacrifício já em estado de decomposição; finalmente, segundo os mais antigos, no Oyó os ocutás eram enterrados, em vez de colocados em prateleiras (ibidem).

IJEXÁ. Trata-se da nação predominante hoje no estado. Os deuses invocados são os orixás e a língua ritualística é o iorubá. Renomados babalorixás históricos (já falecidos) como Manoelzinho do Xapanã e Tati do Bará, ambos iniciados na Cabinda, passaram mais tarde para o Jeje e seus descendentes ingressaram todos no Ijexá, dizendo-se então Jeje-Ijexá.

Segundo um depoimento colhido por Norton Correa junto ao já falecido tamboreiro Donga de Yemanjá, o Ijexá predominava nas regiões negras de Porto Alegre como o Mont Serrat e Colônia Africana (Correa, 1998a:76).

JEJE. No dizer de Pernambuco Nogueira,

[...] foi, durante muito tempo, a Nação que predominou no Rio Grande do Sul, em que pese o fato de jamais termos ouvido falar em voduns a exemplo dos cultuados em São Luis do Maranhão. Sempre ouvimos dos que se diziam jeje puros falar e invocar os orixás nagô. Dada a complexidade dos seus toques, a morosidade dos mesmos e a dificuldade na preparação dos tamboreiros que, inclusive, deviam usar os oguidavis, de difícil manejo, foram adotando as rezas do Ijexá [...]" (idem).

As figuras mais importantes desta nação foram Paulino do Oxalá Efan, que reiniciou no Jeje o Manoelzinho do Xapanã e Tati do Bará, oriundos da Cabinda, como disse acima. Um dos filhos de Paulino foi João Correia de Lima, Joãozinho do Bará Agelú, morador do Mont Serrat, talvez o primeiro e um dos mais importantes babalorixás que "exportou" o batuque para além das fronteiras do Rio Grande do Sul em direção aos países do Prata, como veremos abaixo. Outro importante babalorixá desta nação foi Idalino do Ogum, que faleceu com a idade de 104 anos. Enfim, outro personagem, este mitológico, da nação Jeje foi o famoso Príncipe Custódio de Almeida, sobre o qual falaremos a seguir.

Vale aqui registrar que a origem do termo "jeje" é bastante problemática. Lorand Matory, por exemplo, sintetiza uma série de autores que tentam esclarecer o "mistério" em torno deste conceito e propõe a hipótese de que se trata de uma construção transatlântica, ou seja, um nome aplicado pelos comerciantes e donos de escravos — alguns retornados, em suas idas e vindas entre Brasil, Cuba e Golfo da Guiné — "a todos os africanos que eles consideraram seus parentes, apesar de ser pouco provável que esses ‘parentes’ assim se identificassem inicialmente" (Matory, 1999:64).

CABINDA. Trata-se de uma nação Banto, originalmente de fala Kimbundo. O cemitério é o início da nação religiosa de Cabinda, diz um pai-de-santo e estudioso do batuque. Segundo ele,

[...] o culto aos Eguns nesta Nação é tão forte que dificilmente se encontrará uma casa-de-religião sem que tenha o devido assentamento de Balé (culto aos egunguns), ou Igbalé (casa dos mortos). (Ferreira, 1994:59)

Já para o babalorixá Pernambuco Nogueira, nos rituais de Cabinda que freqüentou no Rio Grande do Sul "jamais ouvimos falar de Inkices. O que sempre foi cultuado foi o Orixá iorubano" (Nogueira, 2001b).

Segundo consta, este culto foi trazido para o Rio Grande do Sul por um africano conhecido por Gululu, de cujas mãos saiu a figura mais marcante do culto Cabinda no Rio Grande do Sul: Waldemar Antônio dos Santos, do Xangô Kamucá. Dele descenderam as famosas Mãe Maria Madalena Aurélio da Silva, de Oxum Epandá Demun, que iniciou Romário Almeida, do Oxalá, e Henrique Cassemiro Rocha Fraga, de Oxum Epandá Bomi, todos falecidos, e Mãe Palmira Torres dos Santos, de Exum Epandá Olobomi, que iniciou João Cleon Melo Fonseca, do Oxalá, que é tido hoje como o mais importante herdeiro da tradição Cabinda do estado, embora, como diz Pernambuco Nogueira, "de sua origem mantém apenas o rótulo: o conteúdo é todo ele Ijexá" (ibidem).

NAGÔ. No dizer de Pernambuco Nogueira, [...] é uma nação que, tendo sido a origem do Culto no Rio Grande do Sul, hoje está praticamente extinta, restando pouquíssimas casas" (idem). Há, em Porto Alegre, o terreiro Nova Era, do pai Jader, que pretende ser a continuação dessa tradição longínqua no estado. Diferentemente dos demais terreiros, neste, "a chegada dos orixás se faz como no Candomblé (linha por linha, trabalhando e desincorporando) e a matança é procedida com o animal no chão e não suspenso" (idem).

Ainda segundo Pernambuco Nogueira, "talvez situa-se nesta casa a semente do culto africano plantada pelos escravos das charqueadas, desde a sua origem em Rio Grande..." (idem).

Ao que consta, não dispomos de informações numéricas sobre a incidência dessas nações no Rio Grande do Sul. O historiador Dante de Laytano, em pesquisa realizada sobre o batuque em Porto Alegre, em 1951, observou que as 71 casas por ele encontradas dividiam-se em 24 de nação Nagô, 21 Jeje, 13 Oyó, 8 Ijexá e 5 "mistos" (Laytano, s.d.:53). Na atualidade, porém, predomina no batuque do Rio Grande do Sul o lado Ijexá, "quer pela facilidade do toque como pela ausência de tamboreiros iniciados nos demais Cultos" (Nogueira, 2001b). Embora haja terreiros que se digam seguidores de outros lados, trata-se, segundo o babalorixá Adalberto Pernambuco Nogueira, "apenas de rótulos utilizados talvez para marcar a origem dos fundamentos" (idem).11

 

A Umbanda

A primeira casa de umbanda no Rio Grande do Sul foi também fundada na cidade de Rio Grande, em 1926. Chamava-se "Reino de São Jorge" e foi fundada pelo ferroviário Otacílio Charão.

Como em todo o Brasil, também no Rio Grande do Sul a umbanda surgiu defendendo padrões e comportamentos aceitos socialmente. No entanto, não escapou à repressão policial, a tal ponto, informa M. Caldas — um dos maiores intelectuais da umbanda e do espiritismo no Rio Grande do Sul, hoje falecido — que nos primeiros tempos o centro de Charão não possuía um endereço fixo, funcionando de forma itinerante (seu endereço mudava toda semana). Também o próprio espiritismo e o batuque se opuseram à umbanda nascente, o primeiro desqualificando suas práticas mediúnicas, o segundo não aceitando que seus orixás fossem invocados sem suas normas rituais, o que denuncia que estava em jogo uma disputa de bens simbólicos (Isaia, 1997:386).

De Rio Grande, a umbanda foi trazida para Porto Alegre, em 1932, pelo capitão da marinha Laudelino de Souza Gomes, que fundou nesta capital a Congregação Espírita dos Franciscanos de Umbanda, existente até os dias atuais. Neste caso, é dupla a razão do termo franciscano. Em primeiro lugar, pela sincretização entre São Francisco de Assis e Lokô (termo yorubá), ou Irokô (termo jeje), ou orixá tempo (Angola), isto é, a árvore gameleira branca; em segundo lugar, pelo uso que seus membros fazem de uma espécie de bata branca, com sandália e cordão em torno ao ventre, semelhante ao que consta na iconografia histórica atribuída a São Francisco.

Pernambuco Nogueira esclarece que tanto Charão quanto Souza Gomes não eram originários do Rio Grande do Sul e ambos estiveram na África por algum tempo. No entanto, dedicaram-se quase que exclusivamente à implantação e divulgação da Umbanda (Nogueira, 2001b). Outros importantes personagens divulgadores da umbanda neste estado foram Norberto de Oliveira, que a introduziu no município de Viamão; Jesina Furtado, fundadora da casa Mestre Quatro Luas; e Astrogildo de Oliveira, fundador do Templo Rainha Yemanjá Fraternidade Ubirajara. Segundo Pernambuco Nogueira, esta última casa possuía

[...] a peculiaridade de ter construído, nos fundos, uma miniatura de todos os reinos em que se efetuavam os rituais, inclusive uma calunga pequena (cemitério) para ali realizar os trabalhos sem sair do local do Templo, preocupado com as deturpações já então existentes. (ibidem)

Uma particularidade desses templos mencionados, e que hoje já não mais vigora, reside no fato de que

a abertura dos trabalhos era efetuada por uma linha que hoje não mais encontramos: a linha das Yaras que se apresentavam arrastando-se pelo chão, como o fariam as sereias em terra seca, e promoviam a limpeza do templo utilizando-se de água (idem).

No mais, na umbanda do Rio Grande do Sul são cultuados "caboclos", "pretos-velhos" e "crianças" (Ibeji), aos quais não são realizados sacrifícios de animais.12 Outrora era também cultuada a "linha", ou "povo do oriente", hoje quase em extinção. Segundo a representação dos umbandistas, tratavam-se de entidades bondosas, bastante evoluídas e que transmitiam vibrações puras. Seus médiuns, incorporados, adotavam a postura corporal e os gestos dos povos do Oriente: chineses, indianos, árabes e ciganos. Nos trabalhos da casa de Pernambuco Nogueira manifestavam-se duas entidades indianas: Brahmayana e Nargajuna.

Hoje o "povo cigano" foi transformado em Linha de Exu. Quanto aos guias orientais, manifestam-se em poucas casas que trabalham com o que denominam de Junta Médica.

 

A Linha Cruzada

Trata-se de uma expressão religiosa relativamente nova, iniciada, tudo indica, na década de 1960. Constitui, porém, a que mais tem crescido neste estado, sendo cultuada hoje em cerca de 80% dos terreiros. Segundo Norton Correa, esta modalidade ritualística chama-seCruzada

[...] porque, enquanto o Batuque cultua apenas orixás e a Umbanda caboclos e pretos-velhos, a Linha Cruzada reúne-os no mesmo templo, cultuando, alem deles, também os exus e suas mulheres míticas, as pombagiras, provavelmente originários da Macumba do Rio de Janeiro e São Paulo. (Correa, 1998a:48)13

Ainda segundo Correa, as principais razões para o crescimento da Linha Cruzada seriam os seguintes: os custos dos rituais são mais baratos do que os do batuque; o aprendizado geral é mais simples do que o do batuque; seus membros podem reunir e somar a força mística do batuque com a da umbanda (ibidem:90).

A proliferação de terreiros cruzados tem se constituído num forte motivo de polêmica e de acusação mútua entre os membros das religiões afro-brasileiras do RS. Trata-se, em verdade, de um conflito em parte intergeracional, em que os "mais velhos" na religião tendem a considerar essa inovação como uma "deturpação" da religião dos orixás por parte dos mais jovens, ao mesmo tempo em que expressa em parte também um conflito entre os "conservadores" e os "modernos", as mudanças sendo compreendidas pelos batuqueiros mais apegados à tradição como uma violação dos fundamentos da religião.

De uma maneira geral, são extremamente precários os números acerca dos terreiros existentes no Rio Grande do Sul, bem como a incidência de rituais dentro das três modalidades religiosas acima referidas. Seja como for, e para dar ao menos uma idéia de grandeza, sugiro que deva existir hoje cerca de trinta mil terreiros em atuação14 neste estado, onde, em cerca de 80% deles são celebrados rituais de Linha Cruzada, em 10% somente rituais de Umbanda (caboclos e pretos velhos) e em 10% somente rituais de Batuque (nação).

Neste estado, como já assinalou Correa (1996), a estruturação das três diferentes expressões religiosas afro-brasileiras acompanha, até certo ponto, as mudanças que atingiram a própria estrutura da sociedade.

De fato, o batuque floresceu na segunda metade do século XIX e adaptou-se às condições de um Rio Grande do Sul "tradicional", eminentemente agrário, pois naquela forma religiosa a tradição regia a estrutura ritual com os orixás formando uma grande família patriarcal. Os sacrifícios de animais não ofereciam problemas num estado pastoril e em uma Porto Alegre onde havia ainda bairros "rurais". As iniciações podiam ser longas, pois as relações de trabalho eram ainda relativamente frouxas.

Já a umbanda se instalou no RS na década de 30 num quadro social em que a implantação do capitalismo encontrava-se numa fase mais adiantada: a economia se monetarizava, iniciava-se o processo de industrialização, já ocorria o êxodo rural. O tempo tomava nova dimensão. As pessoas centravam suas vidas em tomo do trabalho. A umbanda se adequou aos novos tempos: seus rituais não se prolongavam noite adentro, não faziam uso de tambores e não realizavam sacrifícios de animais. Dessa forma, os fiéis podiam cumprir suas obrigações religiosas sem alterar o ritmo do cotidiano; não se prejudicava o sono dos vizinhos e se levava em conta a diminuição dos espaços para criar os animais que, além disso, se tornavam uma mercadoria cara.

A Linha Cruzada surgiu a partir da década de 60 numa fase de consolidação do capitalismo com o conseqüente incremento de graves problemas, tais como desemprego, insegurança, doenças, frustrações. Neste contexto, a Linha Cruzada torna-se uma religião prática, pragmática, de serviço, que se especializa nas soluções sobrenaturais daqueles problemas.

 

O Príncipe Custódio de Almeida

Detenho-me agora, mesmo que sucintamente, sobre um dos mais controvertidos personagens do campo afro-gaúcho, um príncipe africano, herdeiro do trono de Benin, que morou no Rio Grande do Sul de 1899, quando chegou à cidade de Rio Grande, até 1935, quando faleceu em Porto Alegre.

Segundo informações colhidas por Maria Helena Nunes da Silva junto a diferentes fontes — bibliográficas, intelectuais africanos e, sobretudo, dois filhos biológicos de Custódio — este descendia da tribo pré-colonial Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin, na Nigéria. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho primogênito do Obá Ovonramwen (Silva, 1999).

Há diferentes versões sobre sua saída da terra natal. Todas, porém, estão associadas à invasão britânica ao reino de Benin, em 1897, diante da qual não se sabe ao certo se Osuanlele teria resistido, ou fugido, ou, então, feito um acordo com os britânicos para deixar o país e viver no estrangeiro, onde receberia mensalmente uma pensão do governo inglês (a mais provável). De fato, Dionísio Almeida, filho de Custódio, relatou a Maria Helena que seu pai teria deixado Benin em direção ao Porto de Ajudá, acompanhado por oficiais ingleses e por parte do seu Conselho de Chefes, onde teria permanecido por cerca de dois meses, dali embarcando para o Brasil, tendo chegado ao porto de Rio Grande em 7 de setembro de 1899, com uma comitiva formada de 48 pessoas, em sua maioria membros do seu Conselho. Segundo aquele informante, antes de chegar a Rio Grande Custódio teria estado em Salvador, depois no Rio de Janeiro, tendo se estabelecido em Rio Grande por orientação dos orixás, através dos ifás.15 Custódio permaneceu nesta cidade até o dia 4 de outubro de 1900, quando se transferiu para Pelotas, e no dia 4 de abril de 1901 veio para Porto Alegre, a convite do então presidente do estado, Julio de Castilhos, que algumas semanas antes o teria procurado em Pelotas como último recurso para remediar um câncer que tomava conta de sua garganta. Como teve uma melhora temporária, teria convidado Custódio a morar em Porto Alegre para continuar a tratá-lo nesta cidade, o que não impediu, porém, a morte de Julio de Castilhos aos 43 anos de idade, em 1903.

Em Porto Alegre, Custódio morou durante 35 anos na rua Lopo Gonçalves, na cidade baixa. Mantinha-se com a pensão mensal que recebia do governo inglês, via Banco do Brasil. Consta que se apresentava em público sempre bem vestido, desfilava pela cidade com uma carruagem puxada por parelhas de cavalos brancos e pretos, dedicava-se ao seu esporte preferido, o turfe, possuía um haras, era proprietário e treinador de cavalos de corrida, nunca se casara e vivia em situação poligâmica. "Haras" e "harem", sintetizam a vida do Príncipe Custódio em Porto Alegre, disse-me um velho e bem informado batuqueiro.

Consta também que a partir do seu primeiro contato para fins terapêuticos com o presidente da Província, este e outros políticos da época, e mesmo o sucessor de Julio de Castilhos, Borges de Medeiros, bem como Getulio Vargas, teriam visitado o Príncipe em sua casa e este teria estado em várias oportunidades no palácio do governo. Este é, porém, um tema controvertido, uma vez que à primeira vista parece difícil que aqueles políticos, fervorosos positivistas, procurassem o "feiticeiro" africano. Mas não seria ilógico pensar que este nobre e político africano, durante os 35 anos de vida em Porto Alegre, não pudesse ter sido socialmente contatado pelos políticos ou por membros da elite local.

Também controvertido é o papel desempenhado por este Príncipe no que diz respeito aos membros da sua etnia. No campo político, enquanto por um lado diz-se que ele teria usado do seu prestígio para conquistar melhor espaço para os negros locais e contribuído para aliviar o preconceito e a discriminação que pesa sobre eles, por outro, recrimina-se que ele teria usado suas relações políticas unicamente em favor dos membros da sua família, empregando-os no serviço público, por exemplo, pouco ou nada fazendo para os negros em geral. No campo religioso paira a mesma controvérsia. Por um lado, muitos são os pais e as mães-de-santo de Porto Alegre que se dizem descendentes da linhagem religiosa do Príncipe, defendendo que ele teria contribuído decididamente para a estruturação do batuque na cidade, para o reconhecimento social do mesmo e para diminuir as perseguições policiais; mas, por outro lado, afirma-se também que ele não teria iniciado ninguém, pois sendo nobre não teria "posto sua mão" em nenhum plebeu, e que teria atuado como religioso somente para as elites e as pessoas de sua amizade e família.

Seja como for, segundo consta na sua certidão de óbito, Custódio morreu em 28 de maio de 1935, aos 104 anos, solteiro e deixando bens. Sua morte foi noticiada nos jornais locais e seu enterro foi bastante concorrido, contando inclusive com a participação de políticos da época.

Hoje o Príncipe Custódio constitui um mito no imaginário negro do Rio Grande Sul e, como escreveu N. Correa, "a figura ainda hoje mais legendária que a memória dos integrantes do Batuque guardam [...]" (Correa, 198a:77). No entanto, quanto à sua vida e realizações, e às várias controvérsias que as envolvem, trata-se de mais um tema à espera de pesquisadores que efetuem uma investigação transatlântica.

 

Os Brancos nas Religiões Afro-Brasileiras do Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul é uma sociedade multiétnica e pluricultural construída no "encontro de civilizações", como diria Bastide, onde os nativos indígenas viram seu território sendo ocupado pelos portugueses e espanhóis, aos quais foram associados os escravos africanos e, posteriormente, os imigrantes europeus, com destaque para os alemães e ositalianos.16

Em termos gerais, hoje a composição multiétnica do Rio Grande do Sul é assim constituída: 86,8% são brancos, 4,1% negros, 8,9% pardos e 0,2% indígenas (PNAD, IBGE, 1999). Com estes números, o Rio Grande do Sul constitui o estado mais "branco" do Brasil, depois de Santa Catarina.17

Ora, neste território multiétnico, malgrado a posição superior que os brancos ocuparam em relação aos negros e aos índios, ocorreram, de alguma forma, trocas culturais em diferentes direções, sendo uma delas a aproximação dos não-brancos, de diferentes etnias e de diferentes camadas sociais, às religiões afro-brasileiras.

É praticamente impossível saber quando este encontro começou a ocorrer. Tudo indica, porém, que data ainda do século XIX, tendo aumentado nas primeiras décadas do século XX e se consolidado a partir da segunda metade daquele século, quando, então, há notícias de brancos que ocupam a condição de pais e mães-de-santo. Este fenômeno, como se sabe, ocorreu em praticamente todo o Brasil, chegando ao ponto em que hoje, em algumas regiões, como escreve Prandi, referindo-se a São Paulo, "o Candomblé é uma religião que não pode ser caracterizada como uma religião de negros" (Prandi & Silva, 1987:4). Trata-se, antes, de religiões multiétnicas e universais (Prandi, 1991).

A procura de terreiros por parte dos brancos pobres geralmente está associada à busca de solução para problemas práticos como doenças, desemprego ou dificuldade econômica, ou problemas legais, geralmente relacionados à sua condição desfavorável de classe. Já os brancos de maior poder aquisitivo o fazem na busca de solução de problemas existenciais como os de sentido, identidade, afetivos, etc. Também o caráter misterioso, exótico e fascinante da religião dos orixás, associado à sua eficácia simbólica, contribui para a atração de brancos.

Diga-se de passagem que as mesmas ou semelhantes razões apontadas para a aproximação dos brancos das camadas populares aos terreiros servem também para os negros ingressarem neles. No entanto, não se pode imaginar uma convivência harmônica entre negros e brancos nos terreiros multiétnicos gaúchos. Ocorre aqui uma espécie de tolerância mútua ou, como Silva e Amaral referiram para São Paulo, uma

espécie de negociação velada onde os brancos, com dinheiro, tornam-se necessários à própria sobrevivência do terreiro de maioria negra e, assim, o que é visto como negativo (a entrada dos brancos no candomblé) acaba adquirindo sinal positivo, já que a concessão é necessária à manutenção das despesas da casa. (Silva & Amaral, 1994:17)

Em outras palavras, parece prevalecer no Rio Grande do Sul a representação negra segundo a qual é importante a presença simultânea de brancos e de negros nos terreiros por serem, os primeiros, detentores principalmente de capital econômico e os segundos principalmente de capital simbólico, religioso, dado pela tradição. Evidentemente que os atores sociais implicados no processo nem sempre possuem esta consciência dos fatos. É mais recorrente neles a afirmação de que "o axé não tem cor".

No entanto, há terreiros multiétnicos onde o preconceito de cor tende a se manter. Isto se dá especialmente quando os brancos implicados na religião detêm pouca consciência da origem africana desta e não realizam uma aproximação mais efetiva com a etnia negra. Há outros terreiros multiétnicos, porém, onde até certo ponto e por um tempo limitado parece haver uma suspensão dos preconceitos raciais; neste caso, negros e brancos juntam-se no espaço religioso para se divertir, rezar e fortalecer uma identidade social comum.

Os terreiros multiétnicos a que me refiro reúnem especialmente pessoas das camadas populares. Isto porque os terreiros de camadas médias tendem a ser predominantemente freqüentados por brancos, enquanto os terreiros de camadas altas são freqüentados quase que exclusivamente por brancos. Em todos eles, como mostrei em outro lugar (Oro, 1998), são reproduzidas as desigualdades raciais encontradas na sociedade gaúcha (e brasileira).

 

A Expansão das Religiões Afro-Brasileiras para os Países do Prata

Um outro aspecto que sobressai no estudo do atual campo religioso afro-gaúcho consiste na importância que ele tem para o ressurgimento e introdução das expressões religiosas de matriz africana nos países do Prata. Com efeito, a Argentina já teve uma história de reprodução dessas religiões até o final do século XIX, quando os atabaques, tocados até então pela comunidade afro-argentina, silenciaram em razão do abrupto declínio destapopulação.18 Já no Uruguai, não consta ter havido uma histórica prática religiosa africana, mas importantes expressões musicais de origem africana como o candombe.19 No entanto, em ambos os países, a partir da década de 60 do século passado, verifica-se o reingresso (na Argentina) e a introdução (no Uruguai) das religiões de matriz africana, sobretudo através do Rio Grande do Sul.

Este processo ocorreu primeiramente nas cidades platinas fronteiriças com o Rio Grande do Sul e dali alcançaram as capitais federais. Deveu-se a iniciativas que partiram de ambos os lados da fronteira, ou seja, de pais e mães-de-santo brasileiros que procederam à expansão da religião para os países platinos e de cidadãos desses países que procuraram terreiros brasileiros.

Na década de 70, o fluxo se estendeu até Porto Alegre, onde se localizava o maior número de renomados batuqueiros que passaram a ser visitados por argentinos e uruguaios. Estes para aqui vinham em busca de iniciação religiosa junto a um famoso pai ou mãe-de-santo, ao mesmo tempo em que buscavam o reconhecimento oficial da sua condição de iniciados, ou sacerdotes, junto a uma federação local. Sem tais documentos, tinham muitas dificuldades de praticar a religião em seus países, sobretudo na Argentina, podendo até mesmo sofrer perseguições policiais.

O período áureo das relações religiosas internacionais platinas ocorreu na década de 80. Em relação à Argentina deu-se sobretudo após o retorno à vida democrática, em 1983 (Frigerio & Carozzi, 1993), enquanto no Uruguai o crescimento do número de terreiros e o incremento das relações religiosas com o Brasil coincidiram com o período ditatorial, que se estendeu até 1985 (Hugarte, 1993).

Na década de 90 ocorreu um arrefecimento das relações religiosas entre gaúchos e platinos e isto se deveu, segundo o discurso dos pais e mães gaúchos, à crise econômica que se abateu sobre aqueles países, sobretudo na Argentina, que reduziu os investimentos das pessoas na religião, embora não tenha diminuído o interesse pela mesma. Mas há um não-dito: o arrefecimento também se deveu à concorrência religiosa que estão sofrendo naqueles países. Ou seja, se até o início da década de 90 havia uma relação relativamente assimétrica, mas aceitável, entre os pais e mães gaúchos e seus filhos platinos — os primeiros colocando-se numa posição hierárquica superior — a partir deste período estabeleceu-se uma relação conflituosa entre alguns, senão a maioria dos pais-de-santo gaúchos (cerca de 15 pessoas), que participam do circuito religioso platino, sobretudo argentino, e os seus colegas deste país, posto que estes últimos passaram a disputar poder pela ocupação do espaço religioso afro-brasileiro e pelo exercício legítimo do sacerdócio naquele país.

Apesar disto, nos dias atuais continuam as viagens de membros das religiões afro-brasileiras nos diferentes sentidos e foram criadas verdadeiras redes internacionais de parentesco simbólico, as quais constituem denominadores de fronteiras sociais e simbólicas que contribuem para a construção de verdadeiras identidades transnacionais. Ao mesmo tempo, essas redes constituem uma forma de integração regional/internacional, legitimada religiosamente, mediatizada pelas religiões afro-brasileiras, onde a nacionalidade e as diferenças sociais e ideológicas não são anuladas, mas superpostas à religiosa.

Evidentemente que a construção de identidades não significa a formação de comunidades (no sentido tradicional do termo) internacionais. Igualmente, a integração e a formação internacionais de redes de famílias-de-santo não significa que as relações entre os seus membros sejam harmônicas. Elas continuam a reproduzir o ethos de rivalidade e aliança que caracteriza o campo religioso afro-brasileiro.20

 

As Religiões Afro-Brasileiras no Rio Grande do Sul e suas Relações com o Poder Político Local

Nos últimos anos, as religiões afro-brasileiras parecem ter conseguido, em Porto Alegre, uma aproximação não alcançada até então, e em nenhum outro local do estado, com o poder público local. É sobretudo nas gestões do PT na prefeitura, especialmente na segunda e na atual, em que o chefe do Executivo é Tarso Genro,21 que aquelas religiões conseguem lograr apoios e interagir diretamente com o gabinete do Prefeito e com algumas secretarias, como da Cultura e do Meio Ambiente, tudo isto ocorrendo, porém, não sem conflitos.22

Assim, em Porto Alegre, mediante Lei Municipal, e por intermediação da Secretaria Municipal da Cultura e da Câmara Municipal de Porto Alegre, desde o ano de 1996 comemora-se a Semana da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros.Os eventos desta Semana são compostos de palestras e rituais, celebrados no Parque da Harmonia, no centro da cidade. Iniciam-se no dia 15 de novembro com uma sessão de Umbanda e encerram-se em 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, com uma sessão de Batuque. Nestes eventos comparecem autoridades civis, membros das religiões afro-brasileiras, além de simpatizantes, curiosos e o povo em geral.

Outra atividade pública semelhante a essa, e que também consta como Lei Municipal de Porto Alegre, é a Festa da Oxum, celebrada desde 1996 em todos os dias 8 de dezembro, na praia de Itapema, diante da imagem deste orixá erguida à beira do Rio Guaíba. Nesta ocasião ocorre também uma sessão religiosa na praia em homenagem à deusa das águas doces.

É digno de nota que ambas as atividades referidas, a Semana da Umbanda e a Festa da Oxum, constam no calendário de eventos da prefeitura de Porto Alegre.

Outra iniciativa de parceria com o poder público ocorreu entre as três maiores federações do estado (Conselho Superior da Umbanda e dos Cultos Afro-brasileiros, Afrobras e Aliança Umbandista e Africanista do Estado) e as Secretarias Estadual e Municipal do Meio Ambiente, ao editarem um caderno de orientação intitulado "A Educação Ambiental e as Práticas das Religiões Afro-Umbandistas", com o objetivo de "orientar as Casas de Religião e funcionários do poder público municipal e estadual sobre procedimentos em relação a cultos e colocação de trabalhos religiosos no meio ambiente". Trata-se de um manual de aconselhamentos em relação às oferendas, tendo como pressuposto a preservação da natureza.

As federações acima mencionadas também conseguiram, junto ao poder público municipal e à Assembléia Legislativa do estado, o apoio financeiro e logístico para realizar anualmente um Seminário Cultural e Teológico da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de um seminário que desde a sua primeira edição, em 1996, é celebrado no salão nobre da Assembléia Legislativa do estado e conta com palestrantes oriundos do próprio campo religioso em questão e de pesquisadores dos mencionados cultos, provenientes de diferentes regiões do Brasil e dos países do Prata. O seminário tem duração de três dias e dele participam em média 400 pessoas.

Principalmente neste evento, mas também nos demais referidos, nota-se sempre a presença de políticos, dos Executivos e Legislativos, municipal e estadual, de distintos partidos.

Outra forma de aproximação do campo religioso afro-brasileiro com o político ocorre através de outorga de comendasetítulos honoríficos, com que os governos locais distinguem alguns líderes destas religiões. Assim, por exemplo, o babalorixá Cleon (Fonseca) de Oxalá recebeu das mãos do então governador do Estado do Rio Grande do Sul, Antônio Brito, em 30/6/1996, a medalha Negrinho do Pastoreio, a mais alta comenda do estado. Três pais-de-santo receberam na Câmara Municipal de Porto Alegre o título de cidadãos de Porto Alegre. São eles: Ailton (Albuquerque) da Oxum, Jorge (Verardi) de Xangô e Adalberto Pernambuco Nogueira — o primeiro nascido em Pelotas (RS), em 3/11/1945, o segundo em Cruz Alta (RS), em 19/10/1949, e o terceiro em Belém do Pará, em 3/11/1928.

O último agraciado, Adalberto Pernambuco Nogueira, é presidente do Conselho Estadual da Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros do Rio Grande do Sul (CEUCAB/RS), e uma das maiores lideranças desta religião no estado. Devido o seu carisma e bom trânsito na esfera pública, tem contribuído para as religiões afro-brasileiras conquistarem maior e melhor espaço tanto no campo político quanto no campo religioso institucional. Na área política tem participado, enquanto representante das religiões afro-brasileiras, no Conselho Político de Campanha da Frente Popular (formado então por cerca de 160 pessoas de destaque das várias áreas de atuação social e profissional) por ocasião das últimas eleições municipais de 2000, e atualmente integra o Conselho Político de Governo da Frente Popular (formado por cerca de 300 pessoas). Igualmente, a partir de janeiro deste ano foi escolhido como membro do Conselho Municipal de Cultura.

Além destas atividades no meio político, Pernambuco Nogueira é o representante mais solicitado das religiões afro-brasileiras por ocasião de celebrações ecumênicas, ocorridas, por exemplo, por ocasião das posses do governador do estado e do prefeito municipal, no dia do aniversário da cidade de Porto Alegre (26 de março), no dia das Mães e na celebração de 25 de agosto, dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas.

Em tais cultos ecumênicos comparecem representantes da igreja católica, da igreja luterana, do islamismo, do budismo, do judaísmo, do espiritismo, além dos cultos afros.

Mas, se, de um lado todos os fatos acima mencionados revelam uma aproximação — que, como já disse, não ocorre sem tensões — entre as religiões afro-brasileiras e o poder político no Rio Grande do Sul, por outro lado, os representantes dessas religiões não logram ingressar diretamente no campo político mediante a condução pelo voto. Ou seja, malgrado as tentativas para sua viabilização de parte de alguns renomados pais, não conseguiram eleger nenhum seu representante nas Câmaras Municipais e muito menos na Assembléia Legislativa do estado. O único precedente neste sentido data da década de 1960, quando o umbandista Moab Caldas foi eleito para a Assembléia Legislativa do estado, pelo PTB de Leonel Brizola e Jango Goulart, e reeleito nos anos de 1964 e 1968. Foi cassado em 1968, vindo a falecer em 1997.23 Também no ano de 1960 foram eleitos 3 prefeitos e cerca de 20 vereadores umbandistas no Rio Grande do Sul.

Após este período não parece ter havido mais presença efetiva de membros desta religião em cargos eletivos no Rio Grande do Sul, malgrado algumas tentativas, como a do babalorixá Ailton Albuquerque, de Porto Alegre, que se apresentou às eleições legislativas gaúchas nas últimas eleições de 1998 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Não logrou se eleger, tendo obtido 3.425 votos, quando o mínimo necessário situa-se em torno de dez mil, dependendo da situação da legenda.

Nas eleições de 2000 não consta ter havido algum líder desta religião que tenha sido eleito em algum município do Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, entre os 411 candidatos a vereador para a Câmara Municipal, havia 5 representantes das religiões afro-brasileiras, 4 pais-de-santo e 1 presidente de um famoso terreiro. Foi, entre eles, o presidente da Federação Afrobras quem obteve o maior número de votos, 1.994, este montante representando, porém, somente um quarto dos votos necessários para ser eleito. Os demais candidatos obtiveram 1.668, 1.109, 451 e 421 votos, totalizando, juntos, 5.643 votos, quantia insuficiente para eleger um único candidato.24

O discurso eleitoral veiculado pelos pais-de-santo de Porto Alegre para dentro da "comunidade" afro-umbandista era fundamentalmente o mesmo: a necessidade de a "religião" ter representantes no legislativo municipal para defender os seus direitos e para mostrar sua força perante a sociedade e, sobretudo, perante os evangélicos (pentecostais), que estão ampliando seu espaço na política e se mostrando abertamente críticos em relação às religiões afro-brasileiras. Ora, este discurso não produziu a eficácia esperada pelos candidatos e, a meu ver, isto se deve, sobretudo, à própria estrutura e ao ethos das religiões afro-brasileiras.

De fato, o modelo organizacional das religiões afro-brasileiras repousa sobre uma variedade de federações e uma pulverização de terreiros, sendo todos ao mesmo tempo autônomos e rivais entre si. Como não existe, no âmbito desta religião, uma única hierarquia religiosa, um poder centralizador e aglutinador dos centros religiosos, estes constituem-se autônomos e, por isso mesmo, concorrentes entre si. Em conseqüência disso, reconhece o candidato a vereador Jorge Verardi, presidente da Afrobras, "cada um procura sua própria autopromoção". "Não temos a organização dos aleluia", disse uma mãe-de-santo.

Ora, este ethos constituído de permanente disputa, rivalidade entre terreiros e desqualificação do outro, torna, como reconhece R. Prandi, bastante remota a possibilidade de união entre terreiros e grupos, mesmo em se tratando de proveito para a religião (Prandi, 1991:163).25

 

Considerações Finais

Malgrado os avanços alcançados nos últimos anos pelas ciências sociais e humanas na compreensão da história e do presente do negro e sua cultura no Rio Grande do Sul, muita coisa ainda resta a ser investigada.

Talvez não pese hoje tão forte como há alguns anos atrás a frase escrita em 1940 pelo historiador D. de Laytano quando afirmava que "os nossos cronistas, os historiadores de compêndios oficiais e toda a literatura gaúcha não se ocuparam do negro senão acidental, ligeira e negligentemente" (Laytano, 1940). No entanto, malgrado produções recentes, permanece atual a exortação de outro historiador, Mário Maestri Filho: "a história do escravo sulino, proto-história do proletariado gaúcho, ainda está por escrever-se" (Maestri Filho, 1979:67). Especificamente sobre as origens do negro gaúcho, escreveu que "não sabemos rigorosamente nada" (idem, 1993:30), enquanto Norton Correa afirmou que "ainda não foram perfeitamente esclarecidas as origens das populações trazidas como escravos para o Rio Grande do Sul" (Correa, 1998a).

A explicação para a desconsideração do negro pela academia, mas não só ela, pode residir, como salienta R. Oliven, no próprio processo de construção política e cultural do Rio Grande do Sul, onde ocorreu um interesse massivo e concentrado em torno da figura do gaúcho — que foi elevado à condição de "autêntico" representante desse território — e do colonizador europeu, em detrimento de outros grupos sociais aqui presentes desde o princípio da colonização, como os negros e os índios. Estes parecem condenados ao silêncio e ao esquecimento e comparecem no âmbito das representações de uma forma extremamente pálida. Particularmente quanto ao negro prevalece uma invisibilidade social e simbólica (Oliven, 1996) ao mesmo tempo em que ainda predomina, no Rio Grande do Sul, a auto-imagem de um estado branco e moderno, construído pelas figuras "heróicas" dos gaúchos e dos imigrantes europeus e seus descendentes.

No contexto de exclusão do negro e sua cultura no Rio Grande do Sul figura também o batuque, cuja história, linhagens, tradições religiosas e repressão policial, permanecem ainda com lacunas, incógnitas e dúvidas não resolvidas, como pudemos constatar neste trabalho.

 

Notas

1. Por se tratar de um texto que pretende ser, até certo ponto, um vôo panorâmico sobre as religiões afro-brasileiras no Rio Grande do Sul, este será, necessariamente, superficial em alguns aspectos; porém, essa deficiência poderá ser em parte sanada com as indicações bibliográficas respectivas para os interessados.

2. Ou seja, atuaram como mão-de-obra nos engenhos de açúcar de Pernambuco e Bahia, na mineração aurífera de Minas Gerais, nos campos de fumo e cacau da Bahia e Sergipe, no cultivo do café do Rio de Janeiro e São Paulo, no algodão do Maranhão e Pará, nas plantações de café também cultivado no Espírito Santo, na agricultura e pecuária do Rio Grande do Sul e na mineração de Goiás e Mato Grosso.

3. Sabe-se que durante algum tempo o envio para o Sul era tido como um pesado castigo e forte ameaça aos escravos desobedientes, por parte dos patrões de outras regiões do Brasil.

4. De fato, ao efetuar uma comparação entre o candomblé da Bahia e o batuque o Rio Grande do Sul, Herskovits propunha a hipótese de que a existência do africanismo no Rio Grande do Sul resulta de um trabalho independente e paralelo, "de idênticos impulsos culturais africanos primitivos". Ponderava, porém, de que tal hipótese deveria ser revista com os avanços dos estudos historiográficos "sobre a migração negra dentro do Brasil e da procedência tribal africana dos negros importados para a parte sul do país" (Herskovits, 1948:64).

5. "Embora ocupada desde os meados do século XVIII por colonos açorianos, Porto Alegre só começou a se desenhar após 1772, quando se deu a primeira demarcação do espaço urbano e a distribuição de datas de terras para esses açorianos. Só então a condição de ponto estratégico daquele sítio vai transfigurar-se em funções comerciais e político-militares" (Kersting, 1998:61). A instalação de Porto Alegre como capital da província ocorre em 1773. Sua população era de 1.500 habitantes em 1780 e 12.000 em 1820.

6. "Era uma região insalubre, fora do centro urbano, habitada por uma população pobre, essencialmente negra, estigmatizada pelos órgãos oficiais, pela imprensa e por tudo aquilo que era considerado sociedade na época" (Kersting, 1998:148). A palavra "Areal" tem sentido ambíguo. Trata-se de uma corruptela da palavra Arraial, mas também área de depósito de areia do fluxo da foz do riacho Ipiranga com o rio Guaíba. A palavra "Baronesa" refere-se à proprietária dessa chácara, de então, a Baronesa do Gravataí.

7. "Como limites mais ou menos definidos da Colônia Africana, podemos estabelecer a Rua Ramiro Barcelos, a Avenida Protásio Alves (antigo Caminho do Meio) até a altura da Rua Dona Leonor, seguindo pela parte alta até aproximadamente o atual Instituto Porto Alegre (IPA), e deste até a rua Castro Alves, descendo por essa até a Ramiro Barcelos, de onde partimos" (Kersting, 1998:102).

8. O número de moradores dessas áreas não é preciso. Relativamente à Colônia Africana, era de 3.460 em 1910; 4.299 em 1912 e 5.636 em 1917. Estes números correspondem respectivamente a 2,66%, 2,92% e 3,15% do total da população de Porto Alegre nesses anos (Kersting, 1998:128-129).

9. Este autor mostra como a análise dos registros de ocorrências policiais da virada do século em relação à Colônia Africana não são superiores às de outras áreas da cidade, mesmo o centro, considerado "civilizado" e "moderno". Entretanto, sobre este não foram construídas representações sociais excludentes como em relação àquele território negro da cidade (Kersting, 1998).

10. A expulsão se dá mediante a expansão da cidade com a conseqüente valorização da área, que implica em aumento de impostos, impossível de ser pago por moradores de baixa renda.

11. São os seguintes os principais orixás cultuados no batuque: Bará, Ogum, Oiá, Xangô, Odé (Otim), Ossanha, Obá, Xapanã, Bêdji, Oxum, Iemanjá e Oxalá. O anexo I apresenta um conjunto de elementos vinculados a cada um desses orixás, segundo a tradição batuqueira gaúcha.

12. Segundo Paulo Tadeu B. Ferreira, na Nação Cabinda, por exemplo, a língua ritualística deveria ser o Bantu (Kunbundo) e os deuses chamados de Inkices. Na prática cultuam-se os orixás em lingua yorubana. Na Nação Jeje (Jeje), a língua deveria ser o Ewe e os deuses os voduns. Na prática adotam o mesmo procedimento da Cabinda, que é o mesmo do Ijexá e do Oyó (Ferreira,1997:42).

13. O anexo II apresenta algumas especificações das entidades acima mencionadas.

14. O anexo III apresenta os nomes e algumas concepções relativas às principais entidades da Linha Cruzada praticada no Rio Grande do Sul.

15. Este montante é aproximado, mesmo porque "terreiro" é uma categoria ampla que reúne desde um congá familiar onde seu dono recebe clientes para "jogar", até um espaço onde são realizados rituais de distintas expressões religiosas afro-brasileiras no âmbito de uma comunidade religiosa local. Seja como for, mesmo os terreiros no Rio Grande do Sul, segundo esta última observação, podem ser considerados de tamanho pequeno ou médio, pois o número médio de freqüentadores situa-se entre 10 e 30 pessoas, sendo reduzidos os terreiros que reúnam num único espaço ritualístico em torno de 100 pessoas.

16. Eis, textualmente, o depoimento de Dionísio: 
"[...] o Forte de São João Batista de Ajudá era comandado por um baiano, o qual tornou-se amigo do papai e indicou-lhe a Bahia como lugar adequado para viver no Brasil. Isto porque José Maria só conhecia a Bahia, nada sabendo dos outros estados brasileiros. Quando Osuanlele chegou à Bahia ele jogou novamente seus ifás e, em resposta, obteve que ainda não era aquele lugar o escolhido. Da Bahia ele foi para o Rio de Janeiro. Conheceu algumas pessoas que professavam a religião africana. Bem, na Bahia ele também conheceu importantes figuras que estavam ligadas diretamente à religião africana. Lembro que ele nos dizia que tinha muitas coisas que ele entendia sobre a sua religião. Homenagens foram feitas a ele" (Dionísio, 13/5/1988 apud Silva, 1999:71).

17. De fato, os alemães desembarcaram no Rio Grande do Sul a partir de 1824, tendo chegado a mais de 60.000 indivíduos até 1939. Os imigrantes italianos, por sua vez, chegaram a partir de 1875 e a última vaga desembarcou em 1914. Neste período, entre 70.000 e 100.000 italianos se estabeleceram no Rio Grande do Sul.

18. Segundo a mesma fonte, a distribuição étnica de Santa Catarina é de 91,0% de brancos, 2,1% de pretos, 6,4% de pardos e 0,5% são índios (PNAD, IBGE, 1999).

19. O último depoimento sobre um ritual religioso de tipo afro-americano em Buenos Aires é de 1903 (Segato, 1991). Ainda segundo esta autora, a população negra era de 30% em Buenos Aires no início do século passado e caiu para 2% no final do mesmo século. As causas mais importantes do desaparecimento dessa população foram as guerras e as pestes. É possível também que seus últimos componentes tenham emigrado para o Sul do Brasil. Rita Segato aponta, no entanto, que o desaparecimento do negro na Argentina foi antes ideológico, cultural e literariamente construído, do que propriamente físico. Ou seja, na imagem que os políticos e os intelectuais argentinos se fizeram de nação homogênea e depurada não havia lugar para o negro (id. ibid.).

20. Para uma análise sobre o candombe uruguaio ver Ferreira (1997).

21. Para uma análise mais aprofundada do processo de transnacionalização das religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Sul para os países platinos ver Oro (1999).


23. Talvez o conflito maior resida na própria administração municipal e, sobretudo, no interior do PT, onde vozes do partido, movidas por brios ideológicos, se erguem em desaprovação às relações estabelecidas pelos organismos executivos com as religiões afro-brasileiras e, mesmo, com as religiões em geral.

24. Diana Brown recorda que em 1960 os umbandistas também elegeram para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro Atila Nunes — um radialista umbandista que havia sido eleito vereador em 1958 (Brown, 1985). Maria Helena Villas-Boas Concone e Lísias Nogueira Negrão fazem uma análise histórica dos distintos momentos da relação da umbanda com a política e o estado, onde prevaleceu a perseguição até o golpe de 1964 e a sua cooptação política a partir de então. Mais especificamente analisam o envolvimento político-partidário da umbanda paulista nas eleições de 1982 e analisam a derrota dos candidatos umbandistas (Concone e Negrão, 1985).

25. No entanto, não estamos emitindo nenhum juízo de valor sobre este permanente conflito entre líderes de terreiros das religiões afro-brasileiras. Há mesmo alguns autores, como N. Correa que, baseado em G. Simmel, levanta a hipótese de que o conflito referido não representa algo negativo na vida social dessas religiões, posto que ele constitui a chave para explicar a permanência histórica e o crescimento das religiões afro-brasileiras, em razão do seu papel também construtivo e agregador em termos sociais (Correa, 1998b).

 

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*Este texto foi originalmente apresentado na 53ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Salvador, Bahia, de 14 a 17 de julho de 2001, no Simpósio: Afro-Diversidade no Brasil, coordenado por Reginaldo Prandi (USP).

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

O SIMBOLISMO DAS CORES NO CANDOMBLÉ DE CONGO-ANGOLA

 


As cores fazem parte das atividades humanas desde que o homem ganhou estatuto de humano. Mesmo para os povos menos desenvolvidos tecnologicamente as cores exercem um grande fascínio, haja vista que os homens da caverna já as utilizavam para suas pinturas rupestres. Na história da arte humana vemos que, adornos corporais, aparatos de guerra, instrumentos musicais, utensílios domésticos, seja qual fosse qual fosse à finalidade ou a forma do instrumento, o homem destacava e destaca essas formas com as cores mais variadas e luminosas, utilizando-se de materiais que tinha a mão, sejam folhas e troncos maceradas, barro de várias procedências, carvão de madeiras e outros matérias, na intenção de dar-lhes um colorido e uma expressividade maior.
O próprio corpo humano tem servido como território de pinturas e arabescos em busca do belo e também do terrível e do assustador. Para atividades da caça, da guerra, atividades religiosas e simbólicas, o homem se paramenta de cores, seja para assustar, agradar, ou apenas como prazer estético. As cores fazem parte do cotidiano dos homens desde priscas eras e mesmo entre os povos mais desenvolvidos tecnologicamente ela é elemento fundamental na sociedade, seja colorindo casas e habitações, ou tomando forma nos afrescos e pinturas em tela ou escultura em madeira e outros materiais. As cores estão presentes em todas as atividades humanas, que procura imitar a natureza que é sempre colorida, seja nos reinos animal, vegetal ou mineral. Tudo é cor, tudo são matizes, tudo vibra no contato com a luz, criando um mundo de formas e texturas que impressionam e comovem o olhar humano.
No candomblé de congo-angola, enquanto sociedade religiosa, as cores gozam de um estatuto especial, assim como nas demais religiões, seja através das comidas votivas, nos adornos da casa, ou nas pinturas rituais dos iniciados, enfim, tudo gira em torno das cores branco, vermelho e preto, que são carregadas de um simbolismo próprio. Outras cores também são utilizadas, mas não com a mesma freqüência e normalmente são cores derivadas das três principais que são o branco, o vermelho e o preto.
No Nzo Tumbensi de Itapecerica da Serra-Sp. fizemos um levantamento das principais cores nas cerimônias e chegamos à seguinte conclusão.
Entre as três cores utilizadas encontramos as seguintes percentagens assim distribuídas entre os vários momentos do culto.
47% dos elementos são de cor branca, 32% são de cor vermelha e 21% são de cor preta, o que dá uma idéia da preferência simbólica pela cor branca, seguida da vermelha e em último lugar da preta. Isso indica também que a cor branca e vermelha poderia ser vistas como cores positivas, enquanto a cor preta é considerada negativa, e, portanto, usada só em determinadas ocasiões.


COR BRANCA

Cor branca em roupas e paramentos
1) A roupa branca em uso no terreiro
2) Roupa branca da Muzenza (iniciado)
3) Colares brancos usados por todos os filhos de santo

B) A cor branca dos animais de oferenda
4) Galos e galinhas brancas
5) Cabritos e cabras
6) O sangue branco do caramujo

C) Comidas votivas brancas
7) Acaçá
8) canjica
9) farinha de mandioca
10) bolinhos de farinha
11) Água
12) Cachaça
13) Vinho branco
14) Pipoca
15) Sal
16) Feijão branco

D) edificações
17) A casa de kavungo é pintada de branco
18) A casa de Nvumbi (casa dos mortos) é branca
19) Barracão (salão de festas públicas) é pintado de branco
20) A pintura do quarto sagrado é branca (baquisse)
21) O nkissi Lemba é branco
22) Na primeira saída pública a Muzenza é pintada de branco

E) Outros materiais
23) Máscaras dos Bankissi
24)Pemba branca
25) Pano branco (morim) usado na kusaka
26) Bandeira do Tembu
27) Velas

COR VERMELHA

a) Roupas e paramentos
1) a roupa do Nkissi Matamba
2) contas vermelhas dos colares (Nzazi, Matamba, e outros)
3) máscaras dos bankissi
4) assentamento de Nzazi

b) Animais
1) frangos e caprinos vermelhos (ou marrons)

c) Comidas votivas
1) sangue dos animais
2) vinho tinto
3) azeite de dendê
4) mel
5) Makanza (acarajé)

d) outros materiais

1) Pano na sakulupemba
2) Velas para os catiços
3) Barro dos vasos, potes e quartinhas
4) Pintura no muzenza
5) Miçangas (Contas) vermelhas

e) edificações
1) casa do catiço

COR PRETA

a) roupas e paramentos
1) as roupas dos catiços
2) colares preto e vermelho e preto e amarelo
3) pintura azul no muzenza

b) animais
1) galos e cabritos pretos para os catiços[1]

c) alimentos

1) feijão preto
2) verduras


d) outros materiais
1) as estatuetas de Nzilla e Nkod
2) Pano na sakulupemba
3) carvão
4) pólvora

e) edificações
1) casa do catiço

Como se pode ver pelas descrições o uso maior se faz da cor branca e há uma razão para isso. Victor Turner (2005) ao analisar os Ndembu faz um estudo sobre o uso das cores entre eles e mostra a predominância da cor branca no cotidiano e nos rituais. Sabe-se e é de conhecimento corrente que o branco é a cor dos antepassados. Entre os bakongos quando alguém morre, faz uma passagem pelo grande mar e ao chegar à terra dos antepassados, o Mbanza Pemba, ele está branco translúcido pelo contato que teve com a grande água. Em compensação, os que não tiveram uma vida exemplar, não chegam à Mbanza Pemba e transformam-se em Tebo (pl. Matebo) e transformando-se na cor cinza com os cabelos vermelhos. São seres espirituais inferiores que passam o tempo rodeando as aldeias dos vivos, atormentando-os e roubando seus frutos e alimentos. Turner nos informa que tanto o branco quanto o vermelho em determinadas ocasiões pode representar tanto a masculinidade quanto a feminilidade. Na pintura de guerra dos homens o vermelho funciona como masculinidade, mas nos ritos reguladores das menstruações femininas o branco é que representa a masculinidade e o vermelho a feminilidade. Quanto ao negro representa a escuridão, o final das coisas, mas como tudo na cultura africana possui dois pólos, o negro pode também representar o recomeço, já que como representante da morte é também o recomeço das coisas. E a morte não é encarada como um fim em si como na cultura ocidental, mas como uma mudança de estatus perante a vida comunitária.
O branco é sempre entre os Ndembus uma cor positiva, enquanto o negro é negativa e o vermelho possui caráter ambivalente, pois pode ao mesmo tempo ser positivo e negativo, porque ao mesmo tempo em que representa a vida (sangue menstrual, das caçadas, que circula e dá vida aos seres) pode também simbolizar a morte. (o sacrifício ritual, a caçada, a mestruação etc.)
A primeira afirmação que podemos fazer é que o candomblé de congo-angola é herdeiro desse esquema de cores como já vimos em páginas precedentes. O uso intensivo dessas três cores vem demonstrar que herdamos dos africanos a utilização dessas cores com ligeiras adaptações, até na quantidade empregada do branco do vermelho e do negro. O negro como cor negativa está colocada em último lugar na escala cromática, enquanto o vermelho como cor ambivalente está em segundo lugar e o branco como cor positiva está colocada em primeiro plano. Todos os rituais existentes numa casa de candomblé congo-angola fazem uso das três cores, às vezes entremeados de outras cores, mas reconhecidas como oriundas dessas. Por exemplo, o azul e o verde são considerados negros, o laranja e o amarelo como vermelhos. Entre os Ndembu o sol e a lua são considerados brancos, dada a sua luminosidade, assim como entre outros povos bantu, e tal como no candomblé de congo-angola, o amarelo e o laranja são vermelhos e o azul e o verde são negros.
Percebemos que nos ritos de limpeza – sakulupemba[2] – as três cores são utilizadas numa ordem crescente, primeiro usa-se o preto, alimentos, folhas, grãos, depois se usa o vermelho e finalmente o branco, finalizando com a alva canjica de milho, como a fechar o ciclo cromático e finalmente passa-se um pano branco, em todo o corpo do consulente, finalizando o ritual. O uso do preto em primeiro lugar está claramente expresso na necessidade de expulsar as coisas negativas e maléficas que vem causando sofrimento ao paciente. Em seguida entra a cor ambivalente trazendo boas coisas, num período intermediário entre o ruim, o negativo e o bom. E finalmente o branco, como cor positiva, a preparar o paciente para um novo momento, livre dos males que o acometiam. O uso das três cores, que vai do negativo (negro), da escuridão, passando pelo vermelho, uma cor ambivalente, e chegando ao branco é um percurso de fruição espiritual e mística que consiste em libertar o sujeito de todas as mazelas a que foi submetido.
Quanto aos animais de sacrifício, apenas se sacrifica animais de cor preta para as entidades ligadas aos aspectos de segurança e proteção da casa, dos homens e de tudo que se dispõe no candomblé. Catiços (machos ou fêmeas) recebem em sacrifício animais de cor escura (preferencialmente pretos) ou Mpambu Nzilla em suas várias modalidades, pois são divindades encarregadas de levar o mal, acostumadas a lidar com as forças negativas e, portanto, necessitam do sangue de animais escuros para receberem a força (nguzo) necessária para desempenharem suas devidas funções. Os bankissi ligados a terra também recebem cores fortes (preto e branco, preto e vermelho, preto e amarelo), pois a terra (o Ntoto) é o grande mistério e de força incomensurável. Daí a presença do preto como força renovadora, princípio e fim de todas as coisas. Alguns bankissi recebem em sacrifício animais de cor vermelha (marrom) ou amarelo, que são considerados vermelhos. Seriam esses bankissi de natureza ambivalente, já que o vermelho é uma cor ambivalente? Pensamos, sobretudo que esses bankissi dado o seu caráter ambivalente (Nzazi, Matamba, Bamburecema, Kavungo) tanto podem ser benevolentes quanto se provocados fazer grandes estragos na natureza e nos homens. Por isso, suas cores estão ligados ao vermelho e seus derivados, assim como os ligados a terra e a força da natureza usam as cores preto e amarelo, preto e branco, ou branco e vermelho.
Os bankissi ligados a água, ou vestem-se de amarelo (considerado vermelho) ou vestem-se de azul ou verde e portam contas da mesma cor. O verde é considerado preto, dado o mistério das águas profundas, no caso das divindades do mar. Os de amarelo são as águas doces dos rios e lagoas, o que mostra o caráter ambivalente dessas águas, que são tão necessárias à sobrevivência humana, mas que também podem matar e destruir, com afogamentos, alagamentos e tantos outros perigos. Cada cor atribuída a um Nkissi seja através das contas rituais ou das roupas portadas por eles, quando manifestados, tem uma razão lógica, acompanhando o raciocínio e a tradição bakongo.
Há todo um esquema classificatório de cores evidenciando a natureza de cada divindade, herança naturalmente africana, vinda com os escravizados das terras bantu.
Quanto às cores da iniciação, durante todo o período de recolhimento a que é submetido o noviço, 21 dias em total recolhimento no bakissi, ele fica vestido o tempo todo de branco, evidenciando o rito de passagem da vida profana para a vida eclesial. O branco aí representa esse momento de transição, sendo a cor dos antepassados e da passagem da vida terrena para a vida na aldeia dos antepassados. O branco além de significar a pureza, ou seja, os momentos de purificação por que está passando o noviço, é também o símbolo da entrada numa nova vida, vida essa de caráter sacralizante. Sendo a cor da morte e da renovação tem o claro caráter de morte para a vida profana e o renascer na vida espiritual dentro da religião que ele abraçou.
Durante as saídas públicas que em algumas casas é em número de três e em algumas em número de quatro, o noviço vai envergar as três cores. Na primeira saída ele vem vestido de branco, com as pinturas rituais em branco, feitas de pemba[3] a cor branca por excelência. Traz o rosto e a cabeça assim como parte do corpo pintados de pemba, e vem vestido com uma roupa inteiramente branca. É o simbolismo de uma vida que esta nascendo para a comunidade por isso ele porta a cor positiva por excelência, numa clara alusão a morte do velho homem e o renascer do novo membro da confraria.
É alguém que está nascendo para o Nkissi, mas que ainda está em momento de passagem, como se este fosse o primeiro rito. Aliás, as saídas do Muzenza nada mais são que uma rememoração pública, aos olhos da comunidade, dos ritos pelos quais passou durante os dias de recolhimento.
Na segunda saída, o noviço vem de roupa colorida e tem o corpo pintado com as três cores (preto, vermelho, branco) ou de cores correspondentes a essas. Sendo a segunda saída um estágio intermediário, natural que as três cores apareçam, num momento de equivalência entre o ontem e o agora. Se na primeira saída ele demonstra que está entrando numa nova fase de vida, que vai pertencer à confraria, nessa segunda saída e o momento entre o querer pertencer e o pertencer. É nessa saída que o Nkissi vai se manifestar dando seu nome, o nome da divindade que rege o novo iniciado. Esse momento colorido (roupa e pinturas rituais) é o momento de afirmação total do novo fiel àquela confraria. O colorido feito em seu próprio corpo referenda esse momento de posse do Nkissi. A partir de agora, o neófito passa a ser “propriedade” daquele Nkissi e sua vida será regida pelos ditames da nova condição. As três cores são, pois a demonstração desse pertencimento a uma religião e a uma cultura.
Turner (2005) informa que nas grandes cerimônias entre os Ndembu, como o ritual de circuncisão, a partida para a guerra, ou os rituais de iniciação em geral, as três cores (o preto, o vermelho e o branco) estão presentes, nas máscaras, nos escudos, pintados nos participantes, ou como emblemas e estandartes. Talvez só nas grandes ocasiões as três cores apareçam combinadas entre os Ndembu, pois o mais comum e que seja usada aos pares, como o branco e preto ou branco e vermelho. Mas nas grandes ocasiões e comemorações elas são usadas juntas no sentido de completude, pois os Nedembu dizem que três rios têm origem em Nzambi Ampugo. Um rio de águas brancas, outro de águas vermelhas e ainda outro de águas pretas, numa clara alusão de que as três cores são originadas em Nzambi e partilham da realização e do equilíbrio do mundo. Toda a natureza é composta de três cores, desde as águas até os frutos das árvores, passando pelos animais e os homens. A vibração das três cores é que dá sentido e equilibra o mundo criado por Nzambi Ampungo, o incriado.
Na terceira saída, o noviço vem vestido com as cores do seu Nkissi protetor, que será de acordo com a natureza do mesmo. Se for um Nkissi ligado a terra, normalmente virá vestido de palha, ou de um tecido grosso e rústico, nas cores palha ou marrom. Se for ligado aos fenômenos da natureza, virá de roupas vermelhas ou vermelho e branco, assim como se for ligado às águas virá de amarelo ou azul ou verde. As cores aí obedecem a um determinado esquema, de acordo com a herança recebida dos africanos, sem fugir ao básico do preto, vermelho e branco, com suas derivações. É o momento culminante da festa, pois o Nkissi, ao dançar entre os humanos estará demonstrando sua alegria e sua posse naquela comunidade. Geralmente há a presença de uma ou duas cores, ou o preto e o vermelho ou o preto e branco, ou as cores consideradas como tal. Mesmo nas roupas estampadas procura-se juntar essas cores, ou evidenciar uma das cores mais características do nkissi em questão.
Quanto ao preto, não é uma cor totalmente negativa. Turner (2005) nos informa que o preto é também considerado a cor do amor verdadeiro, pois durante o ato nupcial é distribuída lama preta em todas as casas da aldeia, num claro partilha mento do amor do casal. Assim podemos ver que os Catiços, que são mais ligados às questões amorosas (como as pomba-giras) usam vermelho e preto, e os catiços machos usam preto. Além do mistério que o preto evoca e a ambigüidade do vermelho, são cores que remetem ao amor e a paixão carnal. Daí o uso dessas cores por esta qualidade de divindade. Algumas dessas entidades usam as três cores, mas o mais comum é que suas roupas sejam em preto, às vezes só vermelho, e às vezes vermelho e preto.
As três cores provêm de Nzambi Ampungo em forma de rios e colorem todos os elementos da natureza. Ao usá-las, o homem está entrando em sintonia com aquele que tudo criou, e deu aos homens elementos para que ele viva melhor. Tudo é colorido e tudo faz parte da criação de Nzambi. Citando textualmente Victor Tuner,

“As cores são concebidas como rios de poder, que tem sua nascente comum em Deus e permeiam todo o universo de fenômenos sensoriais com suas qualidades específicas. Mas, além disso, são consideradas também como tinturas da vida moral e social da humanidade...” (TURNER:2005 pg.106)

Concluindo, poderíamos dizer que as cores no candomblé de congo-angola obedecem a um rígido esquema de composição e uso. Que como as demais manifestações do candomblé nada é aleatório, mas tudo e todos ocupam lugares bem determinados nos rituais e na hierarquia do culto. Que as três cores utilizadas são provenientes da África bantu e que apesar das influências e adaptações necessárias no novo mundo, muito do que de lá veio permanece quase inalterado. Que se parte do conhecimento perdeu-se durante os horrores do tráfico, parte dele permanece na memória oculta de homens e mulheres passados de geração em geração e perpetuados por eles através da oralidade.
Que as três cores o branco, o vermelho e o negro, que são os três rios que fluem de Nzambi Ampungo, são os elementos que estruturam e dão sentido às praticas religiosas e dão unidade a liturgia do candomblé. As águas coloridas dos rios que fluem de NZambi Ampungo é que fertilizam a terra e todos os seus frutos, assim como dá vida aos seres e aos homens. Sem essas águas coloridas o mundo e todos os seres viriam a fenecer. Portanto, não utilizá-las é negar a existência de Nzambi Ampungo, é negar a existência da natureza exuberante, é em suma, negar a própria existência do homem na terra.
 

AS FAMÍLIAS DE SANTO NO CANDOMBLÉ DE CONGO-ANGOLA

 

Em um artigo intitulado TOMA KWIIZA KYA KIZOONGA BANTU! NZAAMBI KAKALA YETO! de Taata Lubitu Konmannanjy – Unzó kwa Mpaanzu – Raimundo Nonato da Silva, publicado no site http://www.inzotumbansi.org/, o autor nos apresenta uma composição das famílias de santo pertencentes ao candomblé de congo-angola no Brasil.

Segundo ele, o candomblé de congo-angola compõe-se de cinco grandes famílias sendo a primeira delas a família de Maria Nenén, Sra. Genoveva do Bonfim, seguida de Gregório Makwende, depois da família Amburaxó, do Sr. Miguel Arcanjo de Souza, da família de Mariquinha Lemba e da família Gomeia, do Sr, Joãzinho da Goméia, Tatá Londirá. Ainda segundo o autor, em entrevista dada a nós no dia 21.01.2010, na sede da Acbantu em Salvador-Ba., a família de Maria Nenén é de origem muxicongo, a de Makweende é de origem ovimbundo, a de Mariquinha Lemba é de origem kimbundo, enquanto a Amburaxó e a Goméia já nasceram misturadas com outras nações.

A partir dessas informações faremos uma pequena reflexão sobre a composição “étnica” do Candomblé de Congo-Angola no Brasil de hoje. Essa modalidade religiosa que se contrasta com outros candomblés de outras nações, como a nação de Ketu e de Efon, tendo como parâmetro as línguas rituais e o toque de atabaques, se ampara no mito das origens – fundadores de raízes- e na língua ritual assim como em certos ritos praticados em suas casas, como únicos e pertencentes só a sua raiz ou sua casa. Alguns têm idéias claras a respeito desses grandes agrupamentos familiares, mas a maioria apenas sabe a descendência de seu fundador, que pertencia inicialmente à determinada família, quando muito.

Existem no Brasil hoje uma maioria de casas de Candomblé da vertente Congo –Angola e podemos enumerar as principais raízes, como sendo o Tumbenci, cuja fundadora foi Maria Nenén –Maria Genoveva do Bonfim, Nengwa Twenda Kwa Nzaambii era gaúcha de nascimento e foi iniciada por Roberto de Barros Reis, um liberto da província de Cabinda, Angola, África austral, provavelmente no início do século XX. Segundo o depoimento oral dos antigos era mulher muito enérgica, de semblante fechado, riso difícil, mas de caráter irrepreensível e bom coração, como prova o ato de adotar inúmeras crianças, alguns falam em 17 outros em 21, que criou como filhos até a fase adulta. Exercia a profissão de corretora de imóveis e Edison Carneiro a coloca na galeria das Sacerdotisas mais amadas da Bahia da sua época. Durante a perseguição movida pelo delegado Pedro Gordilho ao povo-de-santo, conta a história quase lendária que Maria Neném foi a única a nunca ser molestada pelo delegado. E que inclusive, corajosamente colocou em sua casa uma placa com os dizeres – cá te espero –numa clara afronta ao poder do sanguinário delegado. O terreiro Tumba Junçara fundado por Ciriáco, o Bate-Folha Salvador, fundado pelo lendário Manuel Bernardino da Paixão, o Kupapa Unsaba do Rio de Janeiro, fundado por João Lessenge, nos anos 30 do século XX.

Sendo assim, todas essas raízes pertenceriam a família de Maria Genoveva do Bonfim, pois Manuel Ciriáco e Bernardino da Paixão foram filhos diretos de Maria Nenê, e João Lessenge foi feito ritualmente por Manuel Bernardino da Paixão, tornando-se dessa maneira neto da fundadora. Também pertence a essa família outra raiz importante, o Viva-Deus, do Senhor Feliciano, cujo nome é mesmo Terreiro Viva-Deus, está situado na Estrada das Barreiras 1233E – Bairro Cabula Salvador-Bahia. Foi fundado em 1946, pelo Senhor Feliciano Alves dos Santos, que era marinheiro de profissão, mas também era Babalorixá, filho de Oxalá com Omolú, e tinha como dijina Orisasi. Importante destacar que Feliciano era de nação Ketu, de uma linhagem do recôncavo, e que tal linhagem ainda existe com casas em vários estados brasileiros, conservando o nome inicial de Viva-Deus. Era filho de santo de Zé do Vapor, Babalorixá muito conhecido em Cachoeira, Cidade do Interior da Bahia. A primeira Nengua1 do terreiro Viva Deus, junto com Senhor Feliciano, foi a Senhora Francelina Evangelista dos Santos (D. Miúda), filha de Nndanda-Nlunda, cuja dijina era Diá Lubidi, ela sim, filha de santo de Maria Genoveva do Bonfim e que implantou os ritos congo-angola, no terreiro recém formado do Senhor Feliciano.

Todas essas raízes pertencem, portanto, a família Tombeici por terem seus fundadores saído das mãos da matriarca, sendo esse um traço que demarca a origem nessa e em outras vertentes do Candomblé.

Gregório Makwende é outra figura emblemática para o Candomblé de Congo-Angola. Filho carnal de Constâncio Silva e Sousa, angolano de nascimento, de quem herdou o terreiro, nasceu em 1874 e faleceu em 1934. Quanto a família de Makwende, segundo o próprio artigo citado, permaneceu inter-famílis, e só pertence a ela, de forma restrita, os membros carnais de descendentes de Gregório Makuende.

De Mariquinha Lemba sabe-se pouquíssima coisa, pois segundo os relatos orais e há poucos dados sobre a mesma em Edison Carneiro. Retratam-na como uma mulher de gênio difícil, não afeita a visitas de desconhecidos e muito menos de brancos. Sabe-se que constituiu uma grande família, da qual o articulista em questão faz parte. Há inúmeros descendentes dessa matriarca, mas a maioria das casas encontra-se em Salvador ou no estado da Bahia. Aqui no sul não temos conhecimento de descendentes de Mariquinha Lemba.

Quanto a família Amburaxó, do Senhor. Miguel Arcanjo de Souza sabe-se que a maioria adotou os rituais da nação ketu e portanto, saíram da esfera do Congo-angola. Existem muitos descendentes do Amburaxó, mas a maioria continua executando os ritos da nação ketu.

Uma das maiores famílias de santo da nação congo-angola é a família Goméia. Espalha-se do nordeste em direção ao sul e sudeste e ainda hoje goza de muito prestígio de adeptos e de público.

João da Goméia, assim chamado por causa do nome do terreiro que dirigia em Salvador, Bahia, veio para o Rio de Janeiro e aqui fundou um terreiro que se tornou célebre pelas suas festividades. Bailarino profissional, levou para o palco a dança dos deuses coreografada, freqüentou a mídia e tornou o candomblé conhecido através de seu carisma. Formou talvez a maior família de candomblé congo-angola apesar das muitas críticas que recebeu e ainda recebe mesmo após sua morte. Principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo há muitos descendentes de João da Goméia e que se orgulham por sê-lo.

Nessa enumeração das famílias postado em artigo por Raimundo Nonato da Silva gostaríamos de tecer alguns comentários que me parecem pertinentes na tentativa de esclarecer alguns pontos que nos parecem obscuros.

Tomemos como ponto de partida, que a história dos candomblés em geral e dos candomblés de congo-angola em particular não foram ainda escritas. Do candomblé de ketu já há algumas obras publicadas e do candomblé de gege, apenas uma, mas do candomblé de congo-angola tudo permanece no terreno da oralidade, o que dificulta em muito conhecer as verdadeiras origens e raízes de cada segmento.

Um outro ponto a ser considerado é que não existe unanimidade nas histórias de cada raiz. É chamado pelos angoleiros de raiz ou Ndanji cada grupo de casas que pertençam ao mesmo fundador. Assim sendo, existiria a raiz Tumbenci, a raiz Tumba Junsara, a Raiz Bate-Folha, a raiz Viva-Deus e talvez outras. Aliás, cada raiz advoga para o si o maior grau de pureza, de proximidade com os ritos africanos, à fidelidade aos padrões e ritos aprendidos, e não existe um conceito de congregação religiosa como em outras religiões. Há sim, muitas disputas e dissensões, agora explicitadas com maior clareza no âmbito da “internete” em comunidades de páginas de relacionamento, onde os membros procuram minimizar a força de outras casas ou de outras raízes com o intuito de valorizar mais as suas. Há na verdade, no cotidiano candomblecista, um fenômeno chamado “fuxico” que se constitui em tudo saber, tudo comentar, tudo criticar, e que funciona como cimentação necessária para a sobrevivência de uma religião sem fontes escritas. Como se trata de valorizar a palavra do “mais-velho” há muitas histórias controversas que circulam com ares de verdade, logo desmentidos por outros, esses sim, segundo eles, os melhores e maiores conhecedores da verdadeira história, e assim, o “fuxico” circula, criando novas histórias e novas versões para um mesmo fato. Sempre há nas rodas de conversa em candomblé, alguém que conhece “melhor” um fato narrado por alguém e pode e deve fazer a complementação necessária para o acontecimento, ou porque conheceu as personagens ou porque conheceu alguém que presenciou o evento em questão.

Nas comunidades de relacionamento da “internete”, que de certa forma substituem as longas conversas nos terreiros, há inúmeras polêmicas e discussões a respeito de atos litúrgicos, maneiras de cantar, o que é certo ou errado, e é claro, a casa dos outros está sempre errada, a certa, a correta, a mais tradicional é sempre a de quem faz uso da palavra. O candomblé que era restrito a atividade inter-murus, hoje espalha-se por um meio de comunicação popular, lugar onde todos têm a oportunidade de expor suas idéias e dar prosseguimento ao “fuxicos” do terreiro. Numa sociedade sem provas documentais e sem historiadores dispostos a levantar essa história, o que vale é a palavra como legitimador dos saberes.

Vejamos a composição das famílias de santo e suas respectivas composições lingüísticas para tentarmos elucidar a fala de Raimundo Nonato da Silva. Ele afirma em seu artigo que são cinco famílias, sendo uma de origem muxicongo, outra de origem kimbundo, outra de origem ovimbundo e duas que já nasceram misturadas com a nação de ketu, não tendo portanto, uma identidade muito definida. Fiquemos, por enquanto, com as três cujas identidades são de origem bantu sem mistura, pelo menos num primeiro momento. As três origens que ele dá, muxicongo - de fala kikongo –Maria Nenén, a outra família teria sua origem no meio cultural ambundo – de fala kimbundo – Mariquinha Lemba e a terceira como de língua ovimbundo – Gregório Makwende.

Parece-me que o articulista chegou a essas conclusões a partir de uma série de reuniões que ele conseguiu realizar com o povo de santo angoleiro de Salvador, Bahia, através da Acbantu - Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu - numa série de eventos denominado de Kizoonga Bantu no período de 11 a 14 de Fevereiro de 2003. Através dessas reuniões e cursos de língua kimbundo e kikongo pode-se colher dados importantes para se chegar a conclusão do que ele expõe no referido artigo, o que consideramos uma grande contribuição para se, aos poucos, conhecer melhor esse universo religioso.

No entanto, vemos com certa reserva as conclusões de Raimundo Nonato da Silva, tendo em vista os ritos e nomes ainda existentes no Candomblé de Congo-Angola e que foram registrados por Edison Carneiro (CARNEIRO: 1982) nos anos 30. Os ritos encontrados no interior das casas de santo, são em sua quase maioria de extrato congo, principalmente de Cabinda, como demonstramos em outro trabalho nosso.(ADOLFO;2010) O próprio termo Nkissi, sinônimo de divindade no universo lingüístico congo foi o que permaneceu e predominou no Brasil. Outros povos bantu chegados ao Brasil mantêm, em África, nomes diferentes para suas divindades, nomes que não foram registrados por aqui, pelo único etnólogo que registrou as manifestações culturais dos bantu na esfera religiosa. Se as famílias Mariquinha Lemba e Gregório Makwende fossem respectivamente do universo kimbundo e Ovimbundo, com certeza teriam nomes próprios para suas divindades, mas isso não acontece. Também, Edison Carneiro ao falar deles no seu Candomblés da Bahia (CARNEIRO;1982) nomeia-os como pertencentes a nação congo, juntamente com Manuel Bernardino da Paixão, do Bate Folha. Porque Edison Carneiro os dá como congos, se os mesmos eram Ambundos e Ovimbundos? Teria sido falha na observação do etnólogo, que convivia com as maiores autoridades do candomblé em sua época? Ou seus informantes também não conseguiam distinguir as línguas que falavam? São interrogações que ficam por enquanto em aberto a espera de pesquisas mais acuradas. No terreno das religiões bantu no Brasil, sobretudo do Candomblé Congo-Angola, tudo está ainda por ser feito.

Creio que uma possível explicação esteja na questão da língua ritual. É possível que uma porção maior do vocabulário das casas de Mariquinha Lemba seja de origem kimbundo, assim como a casa de Makwende use mais do Ovimbundo, para praticar os mesmos rituais da família Maria Nenén. Continuamos acreditando que o candomblé de congo-angola praticado no Brasil tenha suas raízes mais profundas nas terras de Cabinda, com apreciáveis contribuições de outros povos. E a chegada de escravizados não obedecia a nenhum critério menos ainda o das linguagens. Aliás, havia uma política de se misturar indivíduos de grupos lingüísticos os mais diferentes para que todos só tivessem como meio de comunicação a língua portuguesa, evitando assim fugas e sublevações. Nesse contingente populacional circulavam línguas africanas diferentes com predomínio de umas sobre as outras de acordo com a quantidade numérica dos falantes. Claro que, acreditamos que aconteceram importantes trocas lingüísticas até porque todas as línguas tinham um tronco comum que era a raiz bantu, apesar de serem línguas, se aparentadas em alguns pontos, muito diferentes em outros.

Assim como houve misturas lingüísticas também aconteceram acréscimos e supressões de determinados ritos, alguns já pouco lembrados como conseqüência do rapto, da captura, dos duros dias a espera dos navios e finalmente a viagem penosa e o mercado de escravos no Brasil. Traziam na lembrança e no coração seus ritos e memórias, mas agora intervalados pelos duros dias iniciais de cativeiro e pela difícil vida do trabalho escravo. Restabelecer os laços com a África e com um passado perdido encontrou na religião um refrigério para os que haviam perdido a liberdade lá do outro lado do Atlântico e não viam nenhuma saída para mudar a situação em que foram colocados pela condição servil.

Voltando a questão das cinco famílias enumeradas por Raimundo Nonato da Silva, acrescentaríamos que há candomblés que não foram enumerados nessas famílias. Para citar apenas três, a raiz de Nanã de Aracaju, com ramificações importantes em São Paulo-Sp. através de Mãe Manadeuí (PRANDI:1991) e outras casas da mesma raiz, e o Tombeici de Ilhéus, fundado ainda no século XIX e portanto anterior ao Candomblé de Maria Nenê. É necessário que se descubra a origem da casa de Nana de Aracaju, que permanece aberta no mesmo local de sua fundação, e segundo notícias, desenvolve importante papel social na cidade, assim como o do Tombeici de Ilhéus, com uma intensa programação cultural e ainda, uma outra raiz na cidade de Nazaré das Farinhas, no interior baiano, chamada de Congo de Ouro, da qual temos notícia apenas por ouvir dizer.

É importante frisar que a organização social e familiar entre os bantu em África se organiza em torno dos clãs, que é um conjunto de famílias sob a descendência matrilinear. Um conjunto de clãs de ancestral comum se estrutura em Kandas, cujo fundador é comum a todos os membros da kanda. Uma primeira unidade seria o clã e uma unidade maior seria a Kanda.

Parece-nos que esta estrutura permaneceu no Brasil na esfera dos cultos religiosos. Cada casa de santo formaria um clã, enquanto as famílias seriam as kandas, dada as características apresentadas.

“Comme dans de nombreuses sociétés bantoues, deux cadres fondamentaux régissent lá vie: populations kôngo em general, et dês lari em particulier: Il s’agite d’abord de l’intistitution du kánda, Le matrilignage – terme que l’on traduire schematiquement par famille – (...) (Nsondé:1999, pg.29)

Por exemplo, a kanda de Maria Nenê é formada a partir de um ancestral comum, ela própria enquanto fundadora, e o ancestral mítico, o Nkissi Kavungo. As várias raízes, pertencentes a essa kanda, como o Tombeici, O Tumba Junsara, com suas várias ramificações, o Bate Folha de Salvador e o Kupapa Unsaba, do Rio de Janeiro, seriam os clãs. Os laços de parentesco permanecem no terreno religioso porque os familiares desapareceram por efeito dos horrores da escravidão. Reconstruiu-se dessa maneira, nos terreiros religiosos e nos espaços sagrados a organização social do povo bantu e assim permanece até hoje.

Quanto ao clã, vale a pena ouvirmos João Vicente Martins em seu trabalho sobre os bakongos:

“Como já referimos, a base da organização social bakongo ou Tukongo é a família e a ela pertencem todos os parentes, razão pela qual todos os elementos familiares estão sob a alçada e autoridade de um “mwata” (chefe), assistido por um ajudante. Por sua vez, todas as aldeias ou clãs estão subordinados ao “fumo” (chefe de etnia). (MARTINS: 2008, Pg.240)

Portanto, de acordo com nossa argumentação podemos ver que cada terreiro está sob a guarda de um Sacerdote (Nganga) que exerce o poder total sobre a população daquele terreiro, mas não tem nenhuma jurisdição sobre os outros terreiros. Na organização do Nzo, forma-se uma rede de auxiliares, mas o chefe principal é sempre o Pai-de-Santo, que por sua vez, só deve submissão a chamada Casa Matriz, local e sede da Kanda.

Sendo assim, as kandas enumeradas por Tata Konmannanjy deverão receber novas irmãs na medida que os estudos sobre os angoleiros começarem a ser desenvolvidos.

O trabalho da Acbantu é pioneiro na área e poderá render outras pesquisas de igual teor, uma vez que Raimundo Nonato da Silva é historiador e poderá desenvolver pesquisas mais detalhadas e profundas na área. Aguardemos novas descobertas, interessantes e sérias como essa, vindas da parte da Acbantu.

 
 
 

Especial Candomblé - Terreiro resgatado

Aos poucos, o candomblé angola ganha espaço e reconhecimento de estudiosos

 

Axé, afoxé e babalorixá são termos bastante comuns na fala dos brasileiros. Eles foram incorporados à nossa cultura pelo candomblé nagô, que tanto foi divulgado nos estudos de Nina Rodrigues, Roger Bastide e Pierre Verger. Mas outra forma de candomblé vem experimentando expansão e popularidade desde o final da década de 1980: o de nação angola ou, simplesmente, candomblé angola. Valorizada pelo ativismo dos movimentos negros e reforçada por iniciativas como a criação de um curso de língua quicongo na Universidade da Bahia, essa vertente passou a ganhar atenção e estudos. E isto dentro de um contexto de resgate do papel do povo banto na construção da afrobrasilidade. 

Visto como um novo ideal de identidade religiosa, o candomblé angola parece não repercutir a realidade histórica do ambiente congo-angolano, como ocorre na mitologia dos orixás jeje-nagôs e no panteão de divindades daomeanas da “mina” maranhense. E por isso foi subestimado pelos etnólogos. 

A sequência de eventos que vai do primeiro desembarque português no Rio Congo, em 1482, até o início da colonização do Brasil e de Luanda, no século XVI, determinou a precedência dos africanos bantos na formação da civilização brasileira. Assim, é fácil intuir que, bem antes de orixás, voduns e bonçus – divindades específicas da região do golfo da Guiné –, os baculos (antepassados) e inquices bantos (nome que  designa  espécies de forças sobrenaturais e também os objetos que as contêm) já seriam cultuados no Brasil. 

O candomblé certamente surgiu da reorganização, no Brasil, de grupos atingidos por guerras devastadoras na África Ocidental, na passagem para o século XIX. Sob essa influência, praticantes de cultos bantos (de Angola e Congo), cujas expressões religiosas já estavam presentes no Brasil desde o início da colonização, foram moldando o que depois se chamou “candomblé angola”. Este, então, se estruturou a partir do candomblé jeje-nagô (da região Benim/Nigéria). Seus líderes fundadores associaram aos seus fundamentos bantos muitos dos elementos trazidos pelos jeje-nagôs daquela outra parte da África. Aparentemente, só conservaram o idioma ritual, dando nomes bantos (das línguas quimbundo e quicongo) até mesmo aos orixás jeje-nagôs. Zaze, por exemplo, corresponde a Xangô, e Matamba, a Iansã.

Os sistemas religiosos chegados aqui com a escravidão sofreram aclimatações e adaptações. Os ancestrais têm íntima ligação com a terra natal,  o território comunitário, e, em terra estranha,  isso só foi possível manter simbolicamente.  Mesmo assim, quatro séculos depois, as diversas formas religiosas africanas, de várias origens, conservam fundamentos comuns, como a crença em um princípio criador de todas as coisas, o culto a espíritos e gênios da natureza e a reverência aos antepassados.

A mais antiga descrição pormenorizada de uma celebração de um calundu – denominação genérica dos cultos africanos, de qualquer origem, antes do surgimento do vocábulo "candomblé" – no Brasil foi feita em 1646, segundo o antropólogo Renato Silveira em O candomblé da Barroquinha (Editora Maianga, 2006). O ritual aconteceu na capitania de São Jorge dos Ilhéus, sob a direção do liberto Domingos Umbata, certamente um membro do subgrupo congo Mbata, localizado no território da atual Angola. O poeta Gregório de Matos (1636-1695) chegou a se referir a “calundu” em “O Burgo” – Preceito 1: “Que de quilombos eu tenho/ com mestres superlativos, / nos quais se ensinam de noite/ os calundus e feitiços”, e seu uso passou a ser generalizado. O termo certamente se origina do vocábulo kilundu, do idioma quimbundo, de Angola, cuja tradução é “ancestral, espírito de pessoa que viveu em época remota”, e também é “parte da feitiçaria”, como afirmou o jurista e escritor Antônio Joaquim de Macedo Soares (1838-1905). No Brasil, o significado mais conhecido da palavra é o de mau estado de ânimo. Estar “de calundu” ou “com os seus calundus” é estar uma pessoa irritada e de mau humor, por conta da suposta presença, em seu quadro espiritual, de ancestrais insatisfeitos, cobrando atenção e reverência.

Já os rituais da cabula – forma religiosa tipicamente banta (congo-angolana) e certamente mais próxima das “macumbas” do Sudeste brasileiro, e não do candomblé desenvolvido a partir do eixo Pernambuco-Bahia –  foram objeto de descrição detalhada do bispo D. João Correa Nery, reproduzida por Nina Rodrigues no clássico Os africanos no Brasil, escrito antes de 1906. Neste relato, a expressão “cabula” configura efetivamente uma religião, com hierarquia sacerdotal, liturgia e um corpo de doutrina; e que ela foi, talvez, a célula a partir da qual se estruturaram as antigas macumbas do Sudeste e, mais tarde, a umbanda, a quimbanda (uma linha da umbanda voltada mais para a magia maléfica) e a reação reafricanizante do omolocô (forma religiosa nascida no universo da umbanda, mas que se denomina pretensamente mais africana), na década de 1940.

Entre os mais antigos tatas (pais) dos candomblés bantos no Brasil destacam-se os nomes de Gregório Maqüende e Roberto Barros Reis. Gregório, líder da nação Congo que viveu na Bahia de 1874 a 1934, nasceu em Angola e fundou sua comunidade religiosa. Já Roberto, mencionado como liberto e originário da região angolana de Cabinda, teria sido o fundador, por volta de 1850, do terreiro Inzo Tumbensi, provavelmente a primeira comunidade de culto banto com estrutura de templo no Brasil. Falecido por volta de 1909, Barros Reis foi o iniciador de outra grande personalidade dos primórdios dos candomblés bantos, a venerável sacerdotisa Maria Genoveva do Bonfim, “Maria Neném”, falecida na Bahia em 1945, com cerca de 80 anos. Dois de seus filhos de santo, Manuel Bernardino da Paixão, chefe do candomblé do Bate-Folha, fundado em 1916 – com sucursal no Rio desde 1938 –, e Manuel Ciríaco de Jesus, do Tumba Junçara, fundado em 1919, foram também tatas importantes, líderes fundadores de linhagens rituais, em comunidades que existem até hoje. 

O estudo das vertentes religiosas congo-angolanas desenvolvidas no Brasil nos leva inapelavelmente à comparação com o ocorrido em Cuba. Na ilha caribenha, os congos – denominação aplicada a todos os bantos – também não ficaram imunes ao impacto da cristianização colonial. Suas divindades foram associadas às dos colonizadores, a exemplo do que fizeram africanos de outras procedências. Mas eles mantiveram e desenvolveram concepções e atitudes religiosas diferentes daquelas dos bantos brasileiros, como o conceito de “inquice”. 

No candomblé angola, esse termo passou a ser sinônimo de divindade, enquanto em Cuba os seres espirituais cultuados são mais apropriadamente denominados mpúngu, termo do quicongo que conota altura, elevação. Portanto, “inquice” é o abrasileiramento do quicongo nkisi, força sobrenatural e, por extensão, o receptor ou objeto onde é fixada a energia de um espírito ou de um morto. Em Cuba, um nkisi é o artefato, também chamado nganga ou ganga, habitado ou influenciado por um espírito e dotado por ele de um poder sobre-humano. 

Entretanto, nas religiões africanas, os ritos privados são de domínio e conhecimento exclusivos dos iniciados. Assim, embora os candomblés bantos apresentem, em seus ritos públicos, liturgia assimilada daquela do candomblé nagô, eles provavelmente conservam, na intimidade, procedimentos que os aproximam de seus similares cubanos e de outras comunidades da Diáspora.  

No livro Religiões africanas no Brasil, Roger Bastide observava que os candomblés bantos teriam copiado as sequências rituais e a organização eclesiástica do candomblé nagô, mantendo diferenças apenas na linguagem ritual utilizada e na denominação das entidades espirituais, “como se existisse um dicionário permitindo passar de uma religião a outra”. Mas o que parece certo é que esse fenômeno, mais do que assimilar, configurou a negociação e o intercâmbio de práticas e procedimentos rituais. Afinal, como nem só de banto se faz o angola, nem tudo é iorubá no candomblé, como comprovam as etimologias de muitos termos de uso geral. E até mesmo o seu nome, candomblé, tem origem congo-angolana, e não iorubana.
 
 
 
O Culto no Brasil

 

UMA CULTURA AFRICANA EM SOLO BRASILEIRO - O CANDOMBLÉ

Em 1830, algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui, no Brasil.Segundo documentos históricos da época, esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Bercô; hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador - Estado da Bahia.Desta reunião, que era formada por várias mulheres, conforme relatei anteriormente, uma mulher ajudada por Baba-Asiká, um ilustre africano da época, se destacou: - Íyànàssó Kalá ou Oká, cujo o òrúnkó no orisá era Íyàmagbó-Olódùmarè.Mas, o motivo principal desta reunião era estabelecer um culto africanista no Brasil, pois viram essas mulheres, que se alguma coisa não fosse feita aos seus irmãos negros e descendentes, nada teriam para preservar o "culto de orisá", já que os negros que aqui chegavam eram batizados na Igreja Católica e obrigados a praticarem assim a religião católica.Porém, como praticar um culto de origem tribal, em uma terra distante de sua ìyá ìlú àiyé èmí, ou a mãe pátria terra da vida, como era chamada a África, pelos antigos africanos?Primeiro, tentaram fazer uma fusão de várias mitologias, dogmas e liturgias africanas. Este culto, no Brasil, teria que ser similar ao culto praticado na África, em que o principal quesito para se ingressar em seus mistérios seria a iniciação. Enquanto na África a iniciação é feita muitas vezes em plena floresta, no Brasil foi estabelecida uma mini-África, ou seja, a casa de culto teria todos os orisás africanos juntos. Ao contrário da África, onde cada orisá está ligado a uma aldeia, ou cidade por exemplo: Sangô em Oyó, Osun em Ijesá e Ijebu e assim por diante.

A ORIGEM DO NOME CANDOMBLÉ

Este culto da forma como é aqui praticado e chamado de Candomblé, não existe na África. O que existe lá é o que chamo de culto à orisá, ou seja, cada região africana cultua um orisá e só inicia elegun ou pessoa daquele orisá. Portanto, a palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos, para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil. Por esse motivo, antigos Babalorisás e Iyalorisás evitavam chamar o "culto dos orisás" de Candomblé. Eles não queriam com isso serem confundidos com estas festas. Mas, com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas. A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de Candonbé, um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de Candonbidé, que quer dizer ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa.

 

NAÇÕES

Como forma complementar de culto, a palavra Candomblé passou a definir o modelo de cada tribo ou região africana, conforme a seguir:

Candomblé da Nação Ketu

Candomblé da Nação Jeje

Candomblé da Nação Angola

Candomblé da Nação Congo

Candomblé da Nação Muxicongo

A palavra Nação entra aí não para definir uma nação política, pois Nação Jeje não existia em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o Candomblé formado pelos povos vindos da região do Dahomé e formado pelos povos mahin. Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokuta, Ijesá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu. Ketu era uma cidade igual as demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu. Esses yorubás, quando guerriaram com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil. Quando os yorubás chegaram naquela região sofridos e maltratados, foram chamados pelos fons de ànagô, que quer dizer na língua fon piolhentos, sujos entre outras coisas. A palavra com o tempo se modificou e ficou nàgó e passou a ser aceita pelos povos yorubás no Brasil, para definir as suas origens e uma forma de culto. Na verdade, não existe nenhuma nação política denominada nàgó. No Brasil, a palavra nàgó passou a denominar os Candomblés também de Xamba da região norte, mais conhecido como Sangô do Nordeste. Os Candomblés da Bahia e do Rio de Janeiro passaram a ser chamados de Nação Ketu com raízes yorubás. Porém, existem variações de Nações, por exemplo, Candomblé da Nação Efan e Candomblé da Nação Ijesá. Efan é uma cidade da região de Ilesá próxima a Osobô e ao rio Osun. Ijesá não é uma nação política. Ijesá é o nome dado às pessoas que nascem ou vivem na região de Ilesá, que caracteriza a Nação Ijesá no Brasil é a posição que desfruta Osun como a rainha dessa nação. Da mesma forma como existe uma variação no Ketu, há também no Jeje, como por exemplo, Jeje Mahin. Mahin era uma tribo que existia próximo à cidade de Ketu. Os Candomblés da Nação Angola e Congo foram desenvolvidos no Brasil com a chegada desses africanos vindos de Angola e Congo. A partir de Maria Néném e depois os Candomblés de Mansu Bunduquemqué do falecido Bernardino Bate-folha e Bam Dan Guaíne muitas formas surgiram seguindo tradições de cidades como Casanje, Munjolo, Cabinda, Muxicongo e outras. Nesse estudo sobre Nações de Candomblé, poderia relatar sobre outras formas de Candomblé, como por exemplo, Nàgó-vodun que é uma fusão de costumes yorubás e Jeje, e o Alaketu de sua atual dirigente Olga de Alaketu. Alaketu não é uma nação específica, mas sim uma Nação yorubá com a origem na mesma região de Ketu, cuja sua história no Brasil soma-se mais de 350 (trezentos e cinquenta) anos ao tempo dos ancestrais da casa: Otampé, Ojaró e Odé Akobí. A verdade é que o culto nigeriano de orixá, chamado de Candomblé no Brasil, foi organizado por mulheres para mulheres. Antigamente, nas primeiras casas de Candomblé, os homens não entravam na roda de dança para os orixás. Mesmo os que tornavam-se Babalorixás tinham uma conduta diferente quanto a roda de dança. Desta forma, a participação dos homens era puramente circunstancial. Daí ter-se que se inserir no culto vários cargos para homens, como por exemplo, os cargos de ogans.Hoje a palavra Candomblé no Brasil define no Brasil o que chamamos de Culto Afro-Brasileiro.

 

CARGOS NA CASA DE SANTO

 

A hierarquia do candomblé:

Os Cargos dentro da casa de candomblé

O candomblé é uma religião que muito teve que lutar pra chegar até os dias de hoje, um dos fatores que manteve a sua sobrevivência foi a hierarquia. A hierarquia dentro de uma casa de candomblé sempre foi inquestionável e está .

Primeiro vamos ver os cargos que também designam uma hierarquia dentro de uma casa de Ketu:

  1. Yalorixá/Babalorixá: Mãe ou Pai de Santo. É o posto mais elevado na tradição afro-brasileira.
  2. Yaegbe/baegbeé: É a segunda pessoa do axé. Conselheira, responsável pela manutenção da Ordem, Tradição e Hierarquia.
  3. Iyalaxé: Mãe do axé, a que distribui o axé.
  4. Iyakekere Babakekere: Mãe / Pai pequeno do axé ou da comunidade. Sempre pronta a ajudar e ensinar a todos iniciados.
  5. Ojubonã: É a mãe criadeira.
  6. Iyamoro: Responsável pelo Ipadê de Exú.
  7. Iyaefun / Babaefun: Responsável pela pintura branca das Iyawos.
  8. Iyadagan: Auxilia a Iyamoro.
  9. Iyabassê: Responsável no preparo dos alimentos sagrados.
  10. Iyarubá: Carrega a esteira para o iniciando.
  11. Aiyaba Ewe: Responsável em determinados atos e obrigações de "cantar folhas.
  12. Aiybá: Bate o ejé nas obrigações.
  13. Ològun: Cargo masculino. Despacha os Ebós das obrigações, preferencialmente os filhos de Ogun, depois Odé e Obaluwaiyê.
  14. Oloya: Cargo feminino. Despacha os Ebós das obrigações, na falta de Ològun. São filhas de Oya.
  15. Iyalabaké: Responsável pela alimentação do iniciado, enquanto o mesmo se encontrar recolhido.
  16. Iyatojuomó: Responsável pelas crianças do Axé.
  17. Babalossayn: Responsável pela colheita das folhas. Kosí Ewé, Kosí Orixá.
  18. Pejigan: O responsável pelos axés da casa, do terreiro. Primeiro Ogan na hierarquia.
  19. Axogun: Responsável pelos sacrifícios. Trabalha em conjunto com Iyalorixá / Babalorixá, iniciados e Ogans. Não pode errar.
  20. Alagbê: Responsável pelos toques rituais, alimentação, conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados. Nos ciclos de festas é obrigado a se levantar de madrugada para que faça a alvorada. Se uma autoridade de outro Axé chegar ao terreiro, o Alagbê tem de lhe prestar as devidas homenagens.
  1. Iyalorixá ou Babalorixá: A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai.
  2. Iyaquequerê (mulher): mãe pequena, segunda sacerdotisa.
  3. Babaquequerê (homem): pai pequeno, segundo sacerdote.
  4. Iyalaxé (mulher): cuida dos objetos ritual.
  5. Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação
  6. Ebômi: Ou Egbomi são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: meu irmão mais velho).
  7. Iyabassê: (mulher): responsável pela preparação das comidas de santo
  8. Iaô: filho-de-santo (que já incorpora Orixás).
  9. Abiã ou abian: Novato. É considerada abiã toda pessoa que entra para a religião após ter passado pelo ritual de lavagem de contas e o bori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender do Orixá pedir a iniciação.
  10. Axogun: responsável pelo sacrifício dos animais. (não entram em transe).
  11. Alagbê: Responsável pelos atabaques e pelos toques. (não entram em transe).
  12. Ogâ ou Ogan: Tocadores de atabaques (não entram em transe).
  13. Ajoiê ou ekedi: Camareira do Orixá (não entram em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Gantois, de "Iyárobá" e na Angola, é chamada de "makota de angúzo", "ekedi" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil. (em edição)

Lembro aqui que o primeiro povo a chegar no Brasil, foram os Banto (ou Bantu), o segundo Os Nago trazendo a Nação Ketu e por último os Ewe-Fon que aqui passaram a ser denominados como Djeje, hoje uma grande Nação.

 

A hierarquia do candomblé Jeje:

No Jeje-Mahi

  1. Doté é o pai-de-santo, cargo ilustre do filho de Sogbô
  2. Doné é a mãe-de-santo, cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá

Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné

No Jeje-Mina

  1. Toivoduno
  2. Noche

No Kwe Ceja Undé

  • Gaiacú, cargo exclusivamente feminino
  • Ekede

Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.

 

A hierarquia do candomblé Bantu :

Este povo chegou ao período colonial cuja economia era a cana de açúcar

Títulos Hierárquicos Bantu, Angola, Congo

  • Um - Tata Nkisi - Zelador.
  • Dois - Mametu Nkisi - Zeladora.
  • Três - Tata Ndenge - pai pequeno.
  • Quatro - Mametu Ndenge - Mãe pequena (há quem chame de Kota Tororó, mas não há nenhuma comprovação em dicionário, origem desconhecida).
  • Cinco - Tata Nganga Lumbido - Ogã, guardião das chaves da casa.
  • Seis - Kambondos - Ogãs.
  • 7 - Kambondos Kisaba ou Tata Kisaba - Ogã responsável pelas folhas.
  • Oito - Tata Kivanda - Ogã responsável pelas matanças, pelos sacrifícios animais (mesmo que axogun).
  • Nove - Tata Muloji - Ogã preparador dos encantamentos com as folhas e cabaças.
  • 10 - Tata Mavambu - Ogã ou filho de santo que cuida da casa de exu (de preferência homem, pois mulher não deve cuidar porque mulher menstrua e só deve mexer depois da menopausa, quando não menstrua mais, portanto, pelo certo as zeladoras devem ter um homem para cuidar desta parte, mas que seja pessoa de alta confiança).
  • 11 - Mametu Mukamba - Cozinheira da casa, que por sua vez, deve de preferência ser uma senhora de idade e que não menstrue mais.
  • 12 - Mametu Ndemburo - Mãe criadeira da casa (Ndemburo = runko).
  • 13 - Kota ou Maganga - Em outras nações EKEJI (todos os mais velhos que já passaram dos sete anos, mesmo sem dar obrigação, ou que estão presentes na casa, também são chamados de Kota).
  • 14 - Tata Nganga Muzambù - babalawo- pessoa preparada para jogar búzios.
  • 15 - Kutala - Herdeiro da casa.
  • 16 - Mona Nkisi - Filho de santo.
  • 17 - Mona Muhatu Wá Nkisi - Filha de santo (mulher).
  • 18 - Mona Diala Wá Nkisi - Filho de santo (homem).
  • 19 - Tata Numbi - Não rodante que trata de babá Egun (Ojé).

 

Sacerdotes na África

- BANTU (ANGOLA-KONGO).

  • Kubama.................. adivinhador de 1a categoria.
  • Tabi.................... adivinhador de 2a categoria.
  • Nganga-a-ngombo......... adivinhador de 3a categoria.
  • Kimbanda................ feiticeiro ou curandeiro.
  • Nganga-a-mukixi......... sacerdote no culto de possessão (Angola).
  • Niganga-a-nikisi........ sacerdote do culto de possessão (Kongo).
  • Mukúa-umbanda........... sacerdote do culto de possessão (Angola-Kongo).

 

 

Divisão Sacerdotais no Brasil

- (ANGOLA-KONGO)

  • Mametu ria mukixi...... sacerdotisa no Angola.
  • Tateto ria mukixi...... sacerdote no Angola.
  • Nengua-a-nkisi.......... sacerdotisa no Kongo.
  • Nganga-a-nikisi......... sacerdote no Kongo.
  • Mametu ndenge.......... mãe pequena no Angola.
  • Tateto ndenge.......... Pai pequeno no Angola.
  • Nengua ndumba........... mãe pequena no Kongo.
  • Nganga ndumba........... pai pequeno no Kongo.
  • Kambundo ou Kambondo.... todos os homens confirmados.
  • Kimbanda................ Feiticeiro, curandeiro.
  • Kisasba................. pai das sagradas folhas.
  • Tata utala.............. pai do altar.
  • Kivonda................. Sacrificador de animais (Kongo).
  • Kambondo poko........... sacrificador de animais (Angola).
  • Kuxika ia ngombe........ Tocador (congo).
  • Muxiki.................. tocador( Angola).
  • Njimbidi................ cantador.
  • Kambondo mabaia......... responsável pelo barracão.

Kota.................... todas as mulheres confirmadas.

  • Kota mbakisi............ responsável pelas divindades.
  • Hongolo matona.......... especialista nas pinturas corporais.
  • Kota ambelai............ toma conta e atende aos iniciados.
  • Kota kididii............ toma conta de tudo mantém a paz.
  • Kota rifula............. responsável em preparar as comidas sagradas.
  • Mosoioio................ as (os) mais antigas.
  • Kota maganza............ titulo título alcançado após a obrigação de 21 anos.
  • Maganza................. título dado aos iniciados.
  • Uandumba................ designa a pessoa durante a fase iniciatória.
  • Ndumbe.................. designa a pessoa não iniciada.

 

 

 

Candomblé Muxicongo

 

Terreiro de Jauá

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 
Entrada do Terreiro de Jauá, candomblé nação Angola-Muxicongo emCamaçariBahia.

Terreiro de Jauá, ou Manso Kilembekueta Lemba Furaman, localiza-se em Abrantes, Camaçari, no estado daBahia, no Brasil.

É um terreiro de candomblé Bantu, da nação Angola-Muxicongo, e encontra-se tombado pelo Instituto Patrimônio Artístico e Cultural(IPAC) desde 11 de Novembro de 2006[1].

História

O terreiro foi fundado em 1967 no Rio de Janeiro por Laércio Messias Sacramento, o Tata Laércio de Lemba[2]. Em 1990, Laércio foi a Salvador para cumprir uma obrigação religiosa noTerreiro Bate Folha e acabou ficando na capital. Três anos depois, transferiu o terreiro para Jauá. Desde então mais de cem pessoas já foram iniciadas no local.

O nome do terreiro, Manso Kilembekweta Lemba Furaman, dá a dimensão do trabalho desenvolvido ali. Manso significa casas, Kilembekweta quer dizer sombras e Lemba Furaman é o nome do Nkisi (forças da natureza cultuadas pelos adeptos, nesse caso o da fecundidade). O candomblé de Jauá ocupa um espaço de 15 mil metros quadrados, com vegetação nativa e árvores sagradas africanas, como o baobá, além de uma lagoa de animais silvestres, como patosgansos e pássaros da região.

O terreiro participa de projetos de cunho ambiental. Um exemplo é o Família Artesão, que ensina a cerca de 20 moradores da região a produção de artesanato com cipós da região. Outro é o Roupas de Sinhá, um projeto que beneficia cerca de 30 pessoas, entre costureiras ebordadeiras, no qual se confeccionam panos da costa e indumentárias para os Minkisis e para os filhos-de-santo da casa.

Há ainda serviços prestados para inclusão social e educação voltada para a manutenção, como ensino da língua quibundo para serviços religiosos pelo Centro de Estudo e Pesquisa da Tradição da Origem Bantu, instalado no terreiro.

Descrição

O Manso Kilembekweta Lembafuraman, assim como as casas de culto pertencentes ao Candomblé, realizam um 'culto à natureza', onde elementos naturais como árvorespedras e lagos se transformam em epifanias divinas, e reporta-se aos Inkisis; acentua a relação intensa entre o homem e a natureza e sacraliza o espaço físico cotidiano, dando-Ihe novos significados e modificando a percepção dos seus praticantes. A casa corresponde a um modelo ideal de configuração espacial de terreiros, permitido pela qualidade ambiental da área onde se encontra instalado aliado a sua dimensão, portando ecossistema aquático e terrestre no seu interior. Os assentamentos encontram-se distribuídos de acordo com uma lógica inerente a prática religiosa da nação angola, onde encontramos em seqüência.

Os assentamentos de Nzila ao lado dos Caboclos; seguidos por Nkossi MukumbiKatendêAngorô e Kavungo; próximo a lagoa onde é cultuado Luenji pelo reflexo do assentamento na água; a direita ficam os sacrários de TempoLuango e Matalumbô.

A construção principal, onde se encontra O Barracão possuí os santuários de BamburucemaKukuetoKisimbeLemba e Zazi, além do sacrário principal, de Lemba Furaman. Protegidos visualmente por uma cerca de nativos, fica a área do Umbakisi, espaço reservado a ritos iniciáticos específicos. A seguir encontra-se a casa de Ankita, de Vumbe, do Inkisi Nkondi, e Mbanza de Nzilas.

A área possui uma relação bastante equilibrada entre urbanização e preservação de ambientes naturais, condição fundamental para a manutenção do culto, onde se busca a manutenção de toda a flora necessária nos seus rituais.

Assim, o sítio que representa o Manso Kilembekweta Lembafurama corresponde a um modelo de estabelecimento característico da religião afro-brasileira, onde os elementos da natureza são considerados sagrados, tornando-se, portanto, parte inseparável do conjunto construído correspondente à estrutura definitiva da configuração espacial dos terreiros. Nestes modelos de estabelecimento, por razões de culto, sempre se busca manter (idealmente) no seu âmbito um trecho de "mato" e quando possível um manancial conservado e outros elementos naturais, determinados por sua cosmovisão.

 

 

Candomblé de Angola

 

 

 

O tráfico de escravizados africanos ao Brasil fez com que homens, mulheres e crianças, pertencentes a reinos, nações, clãs, linhagens, aliados e inimigos, caçadores, sacerdotes, guerreiros, príncipes e princesas, mães e pais de famílias se encontrassem e redimensionassem as suas tradições culturais, sociais, familiares e religiosas. Essa era a única maneira de confrontar a opressão religiosa católica que se fez acompanhar não apenas dos grilhões de ferro que aprisionavam os corpos dos negros, mas também do "aspergir" da água benta, do nome novo marcado a ferro em brasa nas regiões corporais, onde a carne não fosse comprometida e perdesse seu valor de compra e venda de mercadoria e ainda na permissividade e omissão diante dos desmandos e das ações dos senhores (algozes) cristãos no novo mundo.

Religião, catequese e escravidão andavam juntas desde os embarques nos navios negreiros, quando eram batizados, até nos troncos, quando os africanos e seus descendentes, que nem eram vistos como humanos, aos olhos da teologia da época, eram levados sem que houvesse, por parte da igreja nenhuma manifestação contra aquela situação desumana.

Todos os valores que os africanos traziam, fossem religiosos ou culturais eram banidos ou rotulados como coisas do demônio, magia pagã ou feitiçaria.

Mas, por muitos meios e artifícios os africanos e seus descendentes se apropriaram dos valores dos seus escravizadores ou usaram sua estrutura para se organizarem em irmandades, onde o branco cristão europeu não participava, como é o exemplo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e da Boa Morte. Estas irmandades funcionavam até como agremiação para angariar fundos para pagar a alforria de seus “irmãos”, além de servir de um intercâmbio de africanos, e das suas tradições culturais, lingüística e religiosas, sendo um dos primeiros berços para a resistência e para a manutenção das crenças dos seus antepassados africanos na terra que tinha lhe recebido com o chicote na mão.

A religião nativa dos africanos foi interpretada à luz da teologia católica que se considerava superior, deferindo títulos de pagãs, idólatras, satânicas,animistas e politeístas, gerando, senão no africano que aqui chegava, que tinha o conhecimento de seus antepassados, mas a partir de seus descendente uma inferiorização da fé e crença trazidas na alma de seus pais.

Na maioria dos casos, na África, o culto tinha um caráter familiar e era exclusivo de uma linhagem, clã ou grupo de sacerdotes. As divindades iorubás eram cultuadas em suas cidades: Xangô, em Oió; Oxossi, em Ketu; Oxum, em Ipondá, e assim por diante. Bem como divindades de origen Bantu como Nzazi, Mutakalambô, Ndandalunda eram cultuadas por grupos próprios, embora os bantu tivessem uma idéia de transcendência de seus cultos e buscasse esta ou aquela divindade como intermediária entre ele e Nzambi Mpungu (Deus Todo Poderoso), de acordo com a situação real e a área de atuação de cada energia.

Com a vinda ao Brasil e a separação ardilosa das famílias, das nações, das etnias, essa estrutura religiosa não pode se repetir e se fragmentou. Mas os negros criaram uma unidade nesta diversidade e pluralidade e puderam partilhar e comungar os cultos e os conhecimentos diferentes em relação aos segredos rituais de sua religião e cultura. E desta nova maneira de ser e viver, aberta a todos, surgiu a forma acabada do que se chama hoje candomblé.

O vernáculo Candomblé, não mantém sob sua sombra uma unicidade e sim uma diversidade religiosa e cultural, que talvez até hoje não tenhamos a verdadeira dimensão de sua abrangência, em termos de origem étnica, clã, reinos, povos e organizações sociais e religiosas africanas que foram trazidas para o Brasil.

Reúne, sob o mesmo título a idéia genérica para os diversos troncos religiosos na experiência dos muitos povos trazidos do continente africano para as terras brasileiras. Na sua etimologia advém do étimo bantu ndombele para a variação kandombele, e, portanto, vem a denotar um equivalente próximo ao verbo “adorar” “falar” (existem outras interpretações para o termo, mas preferimos esta).

Os aqui chegados, vindo da longínqua terra dos seus antepassados e submetidos ao regime de escravatura de produção comercial de bens e riquezas, não tiveram tempo de trazer seus objetos rituais e sagrados, visto terem sido forçados a abandonar seu espaço de origem, além de muitos povos terem perdido o vínculo com os seus sacerdotes. Porém, não houve como impedir que transportassem suas crenças, cultos, ritos, mitos e cosmogonias em suas almas, fazendo retumbar em seus corações o som dos ngomas/atabaques ancestrais de seus povos.

Então, como antes tinha se organizado sob o manto das irmandades cristãs, agora, no momento próprio se irmanam sob o manto da nova identidade, que viria a ser conhecida como Candomblé.

Os africanos de maioria bantu (durante os dois primeiros séculos do tráfico dos negros), largamente assentados na região nordeste do Brasil (Alagoas, Pernambuco, Maranhão), no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, utilizados na lavoura e pastoreio, pois já na África eram grandes criadores e cultivadores do solo, além de serem mestres na fundição de metais, influenciaram em todas as áreas a cultura do país nascente, que nascia sob o fertilizado solo regado pelo suor da pele negra, e sob a riqueza gerada pelos músculos africanos. Alguns historiadores defendem que os africanos que desembarcaram na Bahia eram da África sudanesa (Yorubás, dahomeanos, malês...), e que em muitas lutas de resistência se refugiavam em quilombos baianos. O que se tem certeza é que os primeiros a chegarem por aqui, quando a escravidão era mais desumana, foram os bantu.

Na religião não foi diferente. Influenciaram e foram influenciados. Ou conscientes, ou por aproximação de cultos e tradições, ou por necessidade de recriar seu universo mítico, se amalgamaram às novas experiências e resistiram aos valores religiosos dos escravizadores.

A própria concepção de Nzambi ou Nzambi-Mpungo para os bantu, a quem se chama, no Ocidente, Deus – Nzambi: o que fala; Nzambi-Mpungo (ou ainda Zambiapungo):

aquele que, por excelência, fala (Mpungu é uma ave que voa muito alto, fornecendo, deste modo, a derivação semântica de “maior”, “eminente”, “excelente”) Os bantos (bantu) são povos que habitam a África do Sul Equatorial. Falam dialetos diferentes (a língua é igual) e pertencem a etnias diferentes. Cerca de 274 dialetos e línguas são falados. A influência dos bantos invadiu a cultura brasileira, trazendo sua mitologia, culinária, religião além de elementos folclóricos como a congada, recordando a rainha Ginga de Angola; o maracatu de Cambinda Velha; a capoeira e o primitivo samba (semba).

Claro que muitas coisa tidas hoje como folclóricas, são na verdade uma tentativa de reformular nas novas terras uma dinastia desfeita pela escravização como é o caso da formação da corte do Congo (congadas).

Hoje o candomblé abriga em suas lides várias tradições religiosas conhecidas como Nações.

A nação Ketu, que tomou o nome de um dos povos yorubanos, onde a familia Arô reinava, quando da escravização e do tráfico para o Brasil, e que cultua Orixás de várias origens daquele povo, além de diversas divindade de povos que eram seus vizinhos na África e se influenciaram mutuamente tanto na sua terra natal, quando na diáspora. De forte expressão na Bahia e em Pernambuco, através do Xangô do Recife, uma variação religiosa correspondente ao candomblé.

A Naçaõ Jêje, que tomou o nome de um “apelido” que lhe era dado pelos yorubanos. São de origem Ewe Fon, de povos do antigo Daomé, que cultua Voduns, além de divindades comuns com a nação ketu. Teve sua grande expressão na Bahia, através de casas antigas e no Maranhão através do Tambor de Mina, uma organização religiosa corresponde ao candomblé.

A nação chamada Candomblé de Caboclo, que se originou do intercâmbio de ritos fundamentalmente de origem bantu com os ritos e mitos dos nativos brasileiros.

Nação hoje quase extinta, devido ao forte movimento de re-africanização que as religiões afro-brasileiras sofreram a partir da década de 80.

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Entre os grupos que se identificam nas “Nações” acima, temos as variantes que trafegam entre uma e outra, como, por exemplo, os que se identificam como “Nagô-Vodum”.

E a nação Angola/Angola-Congo ou Muxicongo, que tem como base lingüística o kimbundo e cultua Nkisi/Mukixi. Esta com seus ritos fundamentados nas tradições e cosmogonias mantidas a duras penas pelos antepassados bantu, vindos de muitos povos distintos como ngola, cambinda, lunda, makuá, kassange, essange, munjolo, rebolo, angico, e povos menores originários da contra-costa, além, é claro, da influencia de outros povos africanos, como os yorubás e ewe fom, formando assim tradições diferente, dentro do prórpio grupo conhecido como Candomblé de Angola, como Tumba Nsi, Tumba Junsara. Bate-Folha, Angolão, Angola Paketá, Kassange, Angola da Mariquinha e Goméia (que apesar de forte influencia yorubana, se identificava como angoleiro e seu fundador, o Sr. Joazinho da Goméia, foi considerado por muitos como o Rei do Candomblé no Rio de Janeiro).

Ainda temos o Omolocô, uma tradição afro-brasileira antiga e respeitada, que em muitas casas está mais próximo das tradições yorubanas/daomeanas e em outras das tradições de origem bantu

Devemos entender estas “nações” em momentos históricos próprios e que todas se influenciaram entre si. Em alguns lugares, como no Maranhão, temos casas que foram fundadas por africanas canbindas e daomeanas, embora, por algum motivo prevaleceram as tradições daomeanas e em outros casos as tradições yorubanas, embora, em qualquer “Nação”, sempre exista elementos, deste ou daquele povo, que em muitos casos são mantidos por tradição e respeito aos antepassados, embora se conheça as diferentes origens. E, em alguns casos, os seus praticantes não têm o mínimo de consciência das origens diversificadas, identificando somente como tradições africana, fazendo assim uma leitura “unificada e unificadora” de um continente tão diverso, como o Africano.

Pelos registros temos como o primeiro sacerdote iniciado no Brasil, de origem bantu, que mais tarde seria conhecida como Nação Angola-Congo, o Sr. Roberto Barros Reis, que foi o Iniciador da Sra. Maria Genoveva do Bonfim, conhecida como Maria Neném. A Sra. Maria Neném tinha o nome iniciático de Twenda Nzambi e Fundou uma casa de candomblé que chefiou até 1945.

De suas mãos saíram Manoel Ciriaco de Jesus, Tata Nludiamugongo, que teve casa de candomblé no Engenho Velho e depois assumiu a terreno da Ladeira da Vila América (ou Alto do Corrupio), que era do Sr. Manoel Kambambi, filho do Nkisi Nkosi. Foi Tata Ciriaco que formou a grande família hoje conhecida como Tumba Junsara, deixando a casa nas mãos de sua filha de santo e sobrinha de Tata Manoel Kambambi, Mam'etu Deré Lubdi, grande sacerdotisa. Hoje a casa é chefiada pela Nengua ria Nkisi/Mukixi Sra. Iraildes Maria de Jesus, filha do Nkisi Kindembo (Tempo), onde se celabra uma grande festa todos os anos no final de semana mais próximo ao dia 10 de agosto. Da raiz Tumba Junsara se espalharam várias casas em todo Brasil e no exterior.

Também das mãos de sacerdotisa Twenda Nzambi (Maria Neném) saiu o Sr. Manoel Bernardino, fundador da casa de Angola-Congo Bate Folha, na Mata escura, que também gerou um enormidade de filhos e casas que seguem esta tradição em todo o país e em vários país estrangeiros.

Além, é claro, de várias outras casas e famílias, que de acordo com os estudos e com os mais velhos são todos descendentes da sacerdotisa Maria Neném, pois foi ela que fundou a primeira casa de Candomblé de Angola – Muxicongo.

Embora, cada família se identifique como Angola-Congo, Angola Muxicongo, etc., existem tradições diferenciadas. Algumas cultuam um nkisi/mukixi que não é cultuado por outras. Algumas tem festas que não são realizadas por outras, mas a essência é a mesma: Nzambi Mpungu ou Suka Kalunga (um dos seus muitos nomes), que mora na Sanzala Kasembe Diá Nazambi (Aldeia encantada de Deus)/Duilo (céu), é o Deus Supremo e criador de todas as coisas. Quando do seu movimento de expansão e de criação, gerou o universo e consequentemente o planeta terra, que foi gerado pela energia e criação dos Nkisis/Mukixis que se manifestam nas diferentes partes da natureza e também regem a natureza humana. Através do culto aos Nkisi/Mukisi, já que Nzambi, está acima de qualquer forma existencial e de qualquer representação e culto, pois é completo em si mesmo, o ser humano consegue o equilíbrio e ascende espiritualmente como iniciado, até que chegue o momento de ir morar nas Aldeias dos Antepassados, onde se mantém vivo. Onde os campos são verdes e os rebanhos fartos. Onde são felizes e mantém o intercâmbio com os mundo dos humanos, que é sua continuidade. Os antepassados, também, são respeitados e invocados como intercessores e intermediários entre os seres humanos e Nzambi. A eles são devidos todo o respeito e todo ação de culto dentro de uma nzo (casa), que deve sempre iniciar com a invocação e homenagens aos antepassados.

 

  1.  Rubens SaraceniCódigo de Umbanda. [S.l.]: Madras, 2008. 21 p. ISBN 978-85-370-0338-1
  2.  Ismael Pordeus, artigo Terceiro Centenário - Religião, publicano no jornal cearense O Povo em 2008-11-16, reproduzido no site daFaculdade de Teologia Umbandista [em linha]
  3.  A. B. EllisYoruba-Speaking Peoples of the Slave Coast of West Africa (1894), Chapter II, Chief Gods [em linha]
  4.  Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada, Rubens Saraceni

CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. São Paulo: Editora Tecnoprint, 1982.

MARTINS, João Vicente. Os bakongos ou tukongos do nordeste de angola.Lisboa:Imprensa Nacional-casa da moeda, 2008.

MARTINS, Joaquim. cabindas – história – crenças – usos e costumes. Disponível em http://www.cabinda.net.

PRANDI, Reginaldo. Os Candomblés de São Paulo. São Paulo: EDUSP, 1991

TURNER, Victor. Floresta de Símbolos – aspectos do ritual Ndembu.Tradução de Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Editora da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
[1] Catiço é nome que se dá aos espíritos conhecidos como Exu e Pomba-Gira, ou aos boiadeiros, marinheiros e índios.
[2] Sakulupemba também chamado de sacudimento ou por influência da milonga de ebó
[3] Giz branco usado no lugar da argila branca, essa sim usual em África.

BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil, 2 vols. São Paulo: Pioneira/EdUSP, 1974).
PARÉS, Luís Nicolau. A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
SERRA, Ordep. Águas do rei. Petrópolis: Vozes/Rio: Koinonia, 1995.
SILVEIRA, Renato da. O candomblé da Barroquinha: processo de constituição do primeiro terreiro baiano de keto. Salvador: Edições Maianga, 2006.
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